O globo, n.30787 , 21/11/2017. PAÍS, p.4

DELATOR DIZ QUE PEZÃO RECEBEU R$ 4,8 MILHÕES DA FETRANSPOR

MARCO GRILLO

 

 

Governador, que nega acusação, aparece como ‘ Pé Grande’ em anotação

Em delação premiada homologada pelo STJ, o operador Edimar Moreira disse que a Fetranspor pagou R$ 4,8 milhões em propina ao governador Luiz Fernando Pezão, que nega a acusação. O operador Edimar Moreira Dantas afirmou, em delação premiada, que a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro ( Fetranspor) pagou R$ 4,8 milhões em propina ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão ( PMDB). Os repasses, segundo o depoimento, aconteceram entre julho de 2014 e maio de 2015. Pezão assumiu o governo em abril de 2014, depois da renúncia de Sérgio Cabral ( PMDB), que hoje está preso.

As referências aos pagamentos aparecem em planilhas entregues por Dantas e pelo doleiro Álvaro José Novis como provas de corroboração das colaborações firmadas com o Ministério Público Federal ( MPF) — as delações foram homologadas pelo ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça ( STJ).

As anotações trazem os codinomes “Pé Grande” e “Grande”. Novis e Dantas trabalhavam na corretora Hoya, usada para lavar dinheiro do esquema de corrupção de Cabral, e se tornaram colaboradores após o avanço das investigações. As informações sobre a acusação de propina a Pezão foram divulgadas ontem pela TV Globo e confirmadas pelo GLOBO.

Segundo o delator, foram cinco repasses, com valores que variavam entre R$ 350 mil e R$ 3 milhões. Do montante, de acordo com o depoimento, R$ 4 milhões foram pagos em julho e agosto de 2014, quando Pezão disputava a eleição. O restante, R$ 850 mil, foi repassado em abril e maio de 2015. O delator afirmou que as ordens de pagamento partiam do empresário José Carlos Lavouras, então presidente do Conselho de Administração da Fetranspor.

O dinheiro teria sido entregue a Luiz Carlos Vidal Barroso, conhecido como Luizinho, apontado como operador de Pezão. Luizinho é homem de confiança do governador e funcionário do governo do estado desde 2013, com um salário de R$ 13 mil. Anteriormente, passou pela Prefeitura de Piraí, onde foi secretário municipal de Transporte e Trânsito. Em abril, O GLOBO já havia revelado que Novis havia narrado na delação o mecanismo de entregas de propina a Pezão, por meio do repasse de recursos em espécie a Luizinho.

Outro delator, o advogado Jonas Lopes Neto, filho do ex- presidente do Tribunal de Contas do Estado ( TCE) Jonas Lopes, disse que Pezão teve R$ 900 mil em despesas pessoais pagas com recursos de empresas da área de alimentação que tinham contratos com o governo. Segundo ele, a verba foi arrecadada pelo subsecretário de Comunicação Marcelo Santos Amorim, casado com uma sobrinha do governador.

 

O QUE DIZEM AS DEFESAS

A assessoria de Pezão rebateu as acusações de Dantas: “O governador não conhece e nunca esteve com a pessoa citada ( Dantas) e reafirma que jamais tratou de pagamento ou recebimento de recursos ilícitos com qualquer pessoa”. A defesa de Lavouras, apontado como responsável por determinar os pagamentos, disse que “delações visam a dar prêmios a criminosos confessos, que ficam impunes. Por isso, delatores reiteradamente faltam com a verdade e induzem autoridades em erro. Por esse motivo, tantas delações estão se revelando inconsistentes”.