ANDRÉ DE SOUZA
O delator Lúcio Funaro, apontado como operador de políticos do PMDB em esquemas de corrupção, reclamou das acusações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que costuma chamá-lo de mentiroso. E lançou um desafio: quer um teste de polígrafo, um detector de mentiras, para provar que está dizendo a verdade. As declarações foram feitas num depoimento em processo no qual os dois são réus por suspeitas de irregularidades na Caixa Econômica.
— Estou disposto a fazer um teste de polígrafo com Eduardo Cunha para ele parar de me chamar de mentiroso — disse.
Cunha, que acompanhou o depoimento, ficou calado. Na saída, o ex-deputado afirmou que aceitaria o desafio:
— Faço o teste depois, faço qualquer teste que ele quiser.
Antes disso, Funaro já tinha reclamado:
— Fui acusado formalmente pelo deputado Eduardo Cunha de que, em conluio com a PGR, roubei os anexos dele (da delação). Acho que isso só pode passar na cabeça de quem tem apoteose mental ou está sofrendo problema mental. Por quê? Para fazer a delação na Procuradoria, fui tratado da maneira mais severa possível. Os procuradores se comportaram comigo não querendo fazer delação por conta do passado. Foi imposta uma multa altíssima. E eu cedi. Por que eu cedi? Porque prefiro não ter nada e ter paz do que ter tudo e não ter paz. É isso — disse o operador.
O depoimento de Funaro começou às 9h30m e terminou pouco antes das 13h. Na segunda-feira, Cunha será ouvido.
Lúcio Funaro aproveitou para mirar políticos do PMDB, como o presidente Michel Temer e o ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência. Ele corroborou declarações anteriores de que houve repasse do empresário Natalino Bertin para Temer. Uma dessas ocasiões foi na campanha de 2010. O grupo Bertin foi um dos que conseguiram liberação de crédito na Caixa mediante pagamento de propina.
— Se não me engano Eduardo Cunha ficou com R$ 1 milhão. (Outros) R$ 2 milhões, R$ 2,5 milhões foram destinados ao presidente Temer, e um valor acho que R$ 1 milhão, R$ 1,5 milhão ao Cândido Vaccarezza — disse Funaro, acrescentando: — O do Temer acho que foi doação oficial pro PMDB nacional.
Moreira foi vice-presidente da Caixa e também teria recebido propina. Segundo Funaro, ele participou de uma reunião com Cunha e representantes do grupo Bertin para viabilizar o empréstimo.
“DECLARAÇÕES IMPRECISAS”
A Presidência afirmou que Temer contesta envolvimento do nome dele em negócios escusos. Em nota, Moreira afirmou que “alguém que vive da delinquência, vive da mentira”. Também em nota, o grupo Bertin informou estar “à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos”. A defesa de Vaccarezza afirmou em nota que as declarações de Funaro são “imprecisas e incompatíveis com as provas”. (Colaborou Bela Megale)