O globo, n.30767 , 01/11/2017. PAÍS, p.6

Randolfe: ‘Comissão tenta sabotar MP’

Jailton de Carvalho

 

 

Senador decide sair da CPI da JBS e diz que colegas querem desmontar Lava-Jato

Momentos depois da decisão da CPI da JBS de convocar o procurador regional Eduardo Pelella para depor, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) renunciou à vaga que tinha na comissão. Para ele, a CPI é uma farsa montada para transformar investigadores da Lava-Jato em investigados e, a partir daí, destruir as apurações sobre corrupção em curso no país.

— Essa CPI é uma farsa que tem como objetivo sabotar as investigações do Ministério Público. É parte de um pacote em curso no Congresso que tem como alvo a LavaJato e outras operações — disse Randolfe Rodrigues ao GLOBO, antes de encaminhar carta de renúncia à comissão.

Randolfe disse ainda que deixa a CPI porque estava sem condições de atuar na comissão. Ele argumenta que parlamentares governistas e de oposição estão agindo em bloco e inviabilizam vozes divergentes. Esse teria sido também o motivo que levou o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) a deixar a comissão.

— A CPI é uma das facetas das organizações criminosas. O que se tem aqui é uma tentativa de desmonte da Lava-Jato, com leis e outras decisões — destacou Randolfe.

 

PACOTE CONTRA A LAVA-JATO

Reportagem publicada no GLOBO do último domingo revelou que parlamentares estão se articulando para aprovar projeto que proíbe delação de réu preso, limita investigação sobre escritórios de advocacia e cria regras para punir juízes e procuradores por abuso de autoridade.

Segundo Randolfe, a ofensiva contra a Lava-Jato ganhou força com a decisão do Supremo Tribunal Federal de transferir para o Legislativo a palavra final sobre medidas cautelares contra deputados e senadores. A decisão teria reforçado o movimento que resultou na devolução do mandato do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e no bloqueio à segunda denúncia do ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer.

— O papel da CPI agora é criar as condições para aprovação de um projeto contra a delação premiada — disse Randolfe.

Procurado pelo GLOBO, o presidente da CPI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), afirmou que não falaria sobre a renúncia de Randolfe. Ataídes é autor do requerimento de convocação de Pelella.

— Não quero responder a nada do Randolfe — disse Ataídes. (Jailton de Carvalho)