Correio braziliense, n. 20010, 04/03/2018. Política, p. 4

 

PSB ensaia um discurso de união

Bernardo Bittar

04/03/2018

 

 

PODERES » Depois do racha que inviabilizou a aliança com o PSDB, o partido praticamente descarta apoio a algum candidato ao Planalto em outubro e mira as eleições a 10 governos estaduais

A recondução de Carlos Siqueira à presidência do PSB confirmou o isolamento do vice-governador de São Paulo, Márcio França, perante os colegas de partido. A decisão de manter Siqueira no cargo foi tomada no XIV Congresso Nacional, encerrado ontem em Brasília. Ele comanda a legenda desde 2014, quando foi eleito por aclamação. França desistiu da disputa após o partido aprovar uma resolução em que praticamente exclui a possibilidade de um apoio formal ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), aliado dele. Caso a sigla resolva apoiar algum candidato na disputa pelo Palácio do Planalto, terá de ser um nome do campo de esquerda, alinhado com as ideias do PSB.

Durante o discurso de “posse”, Siqueira explicou que o partido está “unido” e que espera que, nas eleições deste ano, se encerre a centralização entre PT e PSDB. Destacou que o objetivo é buscar uma “solução que traga paz, algo que acabe com a divisão, acabe com a ideia de um em detrimento de outro, pois todos somos brasileiros”. Ainda não existe definição sobre uma possível candidatura do PSB à Presidência da República, mas foi praticamente descartada a possibilidade de coligações formais no primeiro turno. Isso se traduz na tentativa de fortalecimento da eleição dos 10 governadores que eles acreditam ter chances reais de vitória e no aumento da bancada de deputados federais.

Márcio França, por exemplo, vai disputar o governo de São Paulo. Em seu discurso no último dia de evento, mostrou confiança nas urnas. “Depois da eleição, ficam apenas cinco ou seis legendas. E, certamente, o PSB estará entre elas”. O vice-governador disse que o PSB tem que ter a “maturidade dos grandes partidos” — parte da campanha para tentar fazer com que a sigla se consolide como um partido médio — e que acredita na possibilidade de seus delegados “voltarem a ocupar os grandes cargos do Brasil”. A viúva de Eduardo Campos, Renata, que participou de todos os dias do Congresso, foi citada por França que afirmou que o “legado dele será honrado”.

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, também vai disputar a reeleição. Ele esteve no congresso e disse que o partido está crescendo “com coerência” e que “as eleições não serão fáceis pelo ambiente de divisão que o país está vivendo, mas o PSB dá um exemplo de unidade”. Ainda deve participar do pleito a secretária do LBGT Socialista do DF, Paula Benett, que sairá como candidata a deputada. É a primeira mulher trans a disputar uma vaga eletiva pelo partido. “Pelos assuntos que abordo no meu trabalho, acabei ficando muito conhecida e recebi a oferta. Aceitei”, disse ao Correio. O presidente do partido no DF, Tiago Coelho, contou que “foi uma honra enorme ela ter aceitado o convite”.

São Paulo

A comemoração das “possibilidades eletivas”, entretanto, acaba meio ofuscada pelas notícias dos oponentes. Antes visto como um possível aliado, Alckmin tem cacife para se tornar um perigoso oponente para o partido. Deu sinais de que pretende ficar ao lado de João Doria (PSDB-SP) nos palanques pelo governo estadual. Os tucanos perderam a confiança no PSB depois da tentativa frustrada de coligação nacional. Alckmin chegou a dizer em uma reunião que “perdeu o interesse” na legenda, mas nunca fez essas declarações em público.

A reunião do PSDB de SP que vai dar o tom das prévias no estado ocorre amanhã. É a oportunidade para se confirmar se haverá mesmo disputa interna. Se o prefeito João Doria conseguir maioria absoluta para realizar a consulta aos filiados, deve desestimular adversários.

Frase

“Depois da eleição, ficam apenas cinco ou seis legendas. E, certamente, o PSB estará entre elas”

Márcio França, vice-governador de São Paulo