Título: Banco Central ganha reforço para cortar juros
Autor: Cristino, Vania
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2012, Economia, p. 11

A chamada taxa de juros neutra da economia — assim considerada como aquela que permite o crescimento econômico sem pressão inflacionária — está atualmente em 5,5% ao ano. Pelo menos é esse o nível que os analistas de mercado acreditam que a taxa se encontra, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Banco Central (BC). O novo percentual da taxa de equilíbrio é bem inferior aos 6,75% ao ano, apurado pelo BC entre as instituições que participam da pesquisa Focus em novembro de 2010. Na prática, essa informação pode representar espaço para novos cortes da taxa básica de juros (Selic).

Para 49% dos analistas consultados, a taxa de juros neutra continuará caindo nos próximos dois anos. Outros 40% acreditam que ela ficará estável e só 11% apostam em uma possível elevação da taxa. Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o mercado está admitindo não só que o BC está certo na trajetória que vem desenhando para a taxa básica, de queda desde agosto de 2011, como também se curvou às evidências de que a inflação está convergindo para a meta.

Sinais Como a própria autoridade monetária e o governo têm outros instrumentos para controlar a inflação, que ainda está longe de ficar no centro da meta (4,5%), Eduardo Velho acredita que ainda há espaço para mais corte na taxa, hoje em 10,5% ao ano. Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada no fim do mês passado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, fez questão de deixar claro que é elevada a probabilidade de a Selic chegar a um dígito, ou seja, ficar num percentual abaixo de 10% este ano. Ele e a nota do Copom também informaram que o juro neutro tinha caído.

Além da perspectiva sobre o nível do juro neutro, o BC questionou o mercado sobre a taxa de desemprego e os efeitos na nova pesquisa de orçamento familiar (POF) sobre as expectativas de inflação. Os analistas responderam que a taxa de desemprego neutra, ou seja, aquela que não pressiona a inflação, é de 6,5% ao ano. Sobre o efeito da POF no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, os agentes do mercado financeiro responderam que a projeção para 2012 diminuiu, mantendo-se estável para 2013. Todos os dados consideram a mediana das respostas.

A pesquisa divulgada ontem acaba por influenciar a visão do próprio mercado sobre a taxa de juros neutra e acalmar visões mais pessimistas sobre a meta de inflação. "É uma tentativa de se criar um parâmetro de referência, como daquela vez", chegou a dizer uma fonte que participou da pesquisa, referindo-se a outro levantamento feito pela autoridade monetária. No início de 2011, logo depois de o governo apresentar as chamadas medidas macroprudenciais para moderar a oferta de crédito e desacelerar a economia, o BC questionou os agentes de mercado sobre quantos pontos percentuais de Selic representaria o aumento dos compulsórios. Esse levantamento, cuja resposta foi uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa básica naquele momento, foi visto como uma maneira de o BC tornar evidente que as medidas teriam efeito similar a um aumento da Selic.