O Estado de São Paulo, n. 45343, 09/12/2017. Política, p. A6.

 

Imbassahy pede demissão do governo

Vera Rosa / Felipe Frazão

09/12/2017

 

 

Tucano deixa ministério de articulação política um dia antes da convenção do PSDB; homem da tropa de choque de Temer vai assumir cargo

 

 

O tucano Antonio Imbassahy pediu demissão do comando da Secretaria de Governo ontem, um dia antes da convenção do PSDB que deve anunciar a saída do partido da base aliada. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPI Mista da JBS, assumirá o cargo e vai cuidar da articulação política com o Congresso no momento em que o presidente Michel Temer enfrenta dificuldades para aprovar a reforma da Previdência.

Marun tomará posse na próxima semana. Deputado de primeiro mandato, ganhou destaque quando Eduardo Cunha (PMDB-RJ) presidia a Câmara. Era considerado da “tropa de choque” de Cunha, condenado na Lava Jato, e já visitou o ex-deputado na prisão, em Curitiba.

Em carta de três páginas enviada a Temer, Imbassahy disse que o PSDB “decidiu apoiar o governo sem contrapartida alguma, além de um compromisso programático” e afirmou ter visto o País, neste período, sair do “atoleiro” em que se encontrava. Em nenhum momento mencionou o racha do PSDB, que hoje elegerá o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para a presidência da sigla.

“Agora precisamos novamente do apoio do Congresso para avançar com a reforma da Previdência, garantindo sustentabilidade ao sistema em benefício das próximas gerações”, escreveu o ex-ministro, que reassumirá o mandato de deputado. O PSDB está dividido e, até agora, a maioria da bancada não apoia as mudanças na aposentadoria.

Temer estava sendo pressionado por partidos do Centrão – especialmente pelo PP – a substituir Imbassahy. Os aliados se queixavam de que o PSDB mantinha cargos, apesar de ter votado a favor das denúncias contra Temer. Fiador da entrada dos tucanos no primeiro escalão, o senador Aécio Neves (MG) já havia sugerido que Temer e os ministros acertassem as demissões individualmente, até a convenção.

“Acho que estamos mostrando uma nova política. Não precisamos ter cargo no governo para votar naquilo que acreditamos”, afirmou Alckmin, ontem. “Acho que a decisão (de Imbassahy) é positiva. Ele já tinha previsão de sair e isso não muda em nada a nossa votação”, emendou o governador, em referência à reforma da Previdência.

Na prática, a saída de Imbassahy dilui o impacto da ruptura do PSDB com o governo. “Essa questão do desembarque é página virada”, disse o líder da bancada do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).

 

Antes tarde. Para o senador Tasso Jereissati (CE), a decisão do colega foi tardia, mas deixa claro que o PSDB está fora da base. “Demorou demais. Mas antes tarde do que nunca. Amanhã (hoje) não somos mais da base. Somos a favor das reformas, independentemente de cargos ou verbas”, insistiu Tasso.

O ex-ministro vinha rascunhando a carta de demissão há alguns dias. A entrega, porém, ocorreu somente ontem, por volta das 16 horas, no escritório particular de Temer, em São Paulo. Imbassahy é o segundo tucano que pede demissão. O primeiro foi Bruno Araújo  (PE), que comandava o Ministério das Cidades, e foi trocado por Alexandre Baldy. Luislinda Valois, dos Direitos Humanos, também deixará o cargo. O titular das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, será o único integrante do PSDB que permanecerá na equipe.

Após receber o pedido de demissão de Imbassahy, Temer agradeceu ao tucano, a quem chamou de “prezado amigo”. “Eu, o governo e o País devemos muito a você”, afirmou o presidente.

Temer segurou o auxiliar por alguns dias, depois que, em 22 de novembro, veio à tona a informação de que Marun iria para a articulação política. A posse do peemedebista chegou a ser anunciada pelo Twitter do Palácio do Planalto, sem que Temer tivesse conversado com Imbassahy. / COLABOROU PEDRO VENCESLAU

 

'Previdência'

“Agora precisamos novamente do apoio do Congresso para avançar com a reforma da Previdência.”

Antonio Imbassahy (PSDB)

EX-MINISTRO