Título: Versão oficial contestada
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2012, Politica, p. 3
Versão oficial contestada
Em 25 de outubro de 1975, o diretor de jornalismo da TV Cultura em São Paulo, Vladimir Herzog, que havia sido preso por agentes da ditadura militar que vigorava no Brasil, morreu. A versão oficial foi suicídio. Os militares chegaram a divulgar uma foto do jornalista enforcado, como forma de dissipar qualquer desconfiança que já se apresentava.
Mas a famosa foto, em vez de enterrar qualquer dúvida sobre a morte do jornalista, alimentou, ainda na época de sua divulgação, polêmicas. A posição do corpo de Herzog serviu para fortalecer a tese de que o jornalista havia sido torturado e morto pelos militares. Ele não aparecia pendurado, mas com os joelhos dobrados no chão. A ausência na imagem da parte superior da cela dificultava a compreensão de como ele tinha se amarrado para cometer o suicídio.
A morte do jornalista mobilizou o país. Uma semana depois, cerca de 8 mil pessoas participaram de uma missa ecumênica, sob o comando de dom Paulo Evaristo Arns, para prestar uma homenagem a Herzog. Casado com Clarice Herzog e pai de dois filhos, o jornalista tornou-se um símbolo da luta contra a ditadura e pela democracia no Brasil. A família de Herzog nunca deixou de lutar, politicamente e também na esfera judicial, por uma retratação pública do Estado brasileiro.