O globo, n.30781 , 15/11/2017. PAÍS, p.4

DA ‘CAIXINHA’ - SEGUNDO MP, R$ 131 MILHÕES PARA PICCIANI E PAULO MELO

MAURÍCIO FERRO

 

 

Planilhas de delatores revelam pagamentos feitos pela Fetranspor até março deste ano; presidente da Alerj era chamado de ‘Platina’

De acordo com o Ministério Público Federal, entre 2010 e 2017 a Fetranspor distribuiu, em contabilidade paralela, R$ 77,2 milhões para Picciani e R$ 54,3 milhões para Paulo Melo. Planilhas apresentadas por delatores detalham os pagamentos. O presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), e seu antecessor no cargo, Paulo Melo (PMDB), receberam, juntos, R$ 131,5 milhões em propinas da Fetranspor entre 2010 e março de 2017, segundo o Ministério Público Federal (MPF). A investigação aponta que Picciani foi o destinatário de R$ 77,2 milhões até este ano, enquanto Melo arrecadou R$ 54,3 milhões até 2015, último ano de sua gestão na presidência da Alerj.

Os valores da contabilidade paralela foram apresentados pelo doleiro Álvaro José Novis, que operou os pagamentos entre 2010 e 2015, e pelo ex-vicepresidente do Conselho de Administração da Fetranspor Marcelo Traça, que assumiu a função nos dois anos seguintes. Ambos se tornaram delatores, e os depoimentos serviram de base para a Operação Cadeia Velha. Segundo a investigação, a maior parte da propina era paga a mando do então presidente do Conselho de Administração da Fetranspor, José Carlos Lavouras. Um montante menor foi, de acordo com o MPF, destinado aos deputados a mando do ex-governador Sérgio Cabral, por meio do operador Carlos Miranda. Picciani e Melo foram levados, ontem, a depor coercitivamente na Superintendência da Polícia Federal (PF) no Rio.

 

ODEBRECHT TAMBÉM PAGAVA

Conforme a planilha, Picciani teria recebido R$ 58,6 milhões da Fetranspor entre 2010 e 2015 e outros R$ 18,6 milhões em 2016 e 2017. Já o montante destinado a Melo, entre 2010 e 2015, teria sido de R$ 54,3 milhões.

De acordo com a planilha apresentada por Álvaro José Novis, Melo tinha o codinome de “Pinguim”. Novis e Edimar Dantas, outro delator, afirmaram ainda que os pagamentos foram feitos principalmente à época em que o deputado era presidente da Alerj. Mas acrescentaram que “houve pelo menos mais quatro pagamentos” após esse período. O MPF diz ainda que a maior parte das entregas foi feita pela transportadora de valores TransExpert, que usava carros comuns blindados.

Já Picciani tinha o codinome “Platina” e, depois, passou a ser identificado como “Satélite”.

O MPF sustenta ainda que Novis, além dos pagamentos a mando da Fetranspor, também distribuía valores a Picciani e a Melo por ordem da Odebrecht. Na empreiteira, Picciani era o “Grego”, e Melo era conhecido como “Maria mole”.

Executivos da Odebrecht disseram em delação premiada que faziam pagamentos aos dois deputados em razão da importância que ambos têm no PMDB e da influência no governo do Rio.