O Estado de São Paulo, n. 45336, 02/12/2017. Política, p. A6.

 

Almada cita à PF conta de Lula no exterior

Luiz Vassallo / Fausto Macedo

02/12/2017

 

 

Ex- vice-presidente da Engevix diz que diz que lobista administrava recursos do ex-presidente e de Dirceu na Espanha; defesa de Pascowitch nega

 

 

O ex-vice-presidente da Engevix Gerson Almada afirmou à Polícia Federal que ouviu relatos de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu teriam uma conta em Madri, na Espanha controlada pelo lobista Milton Pascowitch. Almada disse ainda ter feito contratos dissimulados para pagar vantagens indevidas a Dirceu. O depoimento, de julho, teve o sigilo levantado ontem pelo juiz federal Sérgio Moro.

As declarações foram anexadas às investigações que apuram a suspeita de pagamento de propinas das empreiteiras Engevix e UTC para o ex-ministro, que comandou a Casa Civil no primeiro governo de Lula. Dirceu é acusado de receber R$ 2,4 milhões durante e depois do julgamento do mensalão – ação penal em que o petista foi condenado. A denúncia foi ajuizada em 2 de maio e ainda não foi recebida por Moro.

No depoimento no dia 4 de julho, Almada disse à PF que firmou contratos dissimulados com a empresa de comunicação Entrelinhas com o objetivo de repassar propinas a Dirceu. Ele afirmou que os serviços previstos no contrato “nunca foram prestados”. Conforme Almada, por meio de notas fiscais da Entrelinhas, a empreiteira pagou, entre 2011 e 2012, o valor de R$ 900 mil.

O ex-vice-presidente da Engevix disse que mantinha uma “conta corrente” com Pascowitch desde 2005 para pagar propinas a agentes públicos, políticos e partidos. Segundo ele, o próprio lobista sugeriu que os pagamentos fossem feitos a Dirceu.

Gérson Almada ainda fez “questão de constar” em seu depoimento que “é muito difícil uma empresa estrangeira ingressar no mercado de petróleo brasileiro como fornecedora e por conta disso buscaram pessoas com ligações políticas para facilitar o seu ingresso e que a decisão na época em adquirir o equipamento se deu para reforçar os laços com José Dirceu, objetivando o favorecimento da Engevix nos contratos com a Petrobrás”.

O ex-executivo disse que no início de 2014 Milton Pascowitch teria dito que “iria viajar para Paris e, dali, para não deixar rastro, viajaria de trem para Madri, Espanha, para olhar a conta que ele administrava para pessoas do PT”. De acordo com o ex-executivo, ele entendeu que as pessoas seriam Lula e Dirceu porque o lobista mantinha contato intenso desde 2008 com o ex-ministro.

 

‘Nenhum sentido’. Em delação premiada homologada pela Justiça, Pascowitch não declarou administrar contas no exterior para o PT e nem relatou pagamentos ao ex-presidente Lula. O advogado Theo Dias, que defende Pascowitch, disse que o depoimento de Almada “não faz nenhum sentido”.

O ex-executivo disse que “entendeu” que os valores seriam para os dois porque, quando assinou um contrato entre a Ecovix – Engevix Construções Oceânicas S. A. e a PNBV Petrobrás Netherland B.V., Milton Pascowitch justificou a comissão pedida afirmando que “parte seria destinada para a aposentadoria do ex-presidente Luís (sic) Inácio Lula da Silva”.

Segundo Almada, a Ecovix firmou contrato com a PNBV entre 2009 e 2010 para o fornecimento de 8 cascos replicantes para unidades de produção e armazenamento de petróleo (FPSO) no valor de US$ 3,5 bilhões. Pelo acordo, Pascowitch teria ficado com uma comissão de 0,5% do valor.

 

Provas. Almada afirmou não ter provas sobre a conta administrada por Pascowitch em suposto benefício dos petistas, mas entregou documentos às autoridades que, segundo ele, comprovam o pagamento de US$ 10 milhões para o lobista, nos Estados Unidos, em 2014.

Procurada, a assessoria de Lula não se manifestou. A reportagem entrou em contato com as defesas de Dirceu e da Entrelinhas e até a conclusão desta edição não houve resposta.

 

Depoimento

R$ 2,4 MI

é o valor que José Dirceu teria recebido durante e depois do julgamento do mensalão, segundo o ex-vice-presidente da Engevix Gerson Almada