Título: Obama se desculpa com afegãos
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Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2012, Mundo, p. 16

A crescente revolta no Afeganistão pela queima de exemplares do Alcorão em uma base militar administrada pelos Estados Unidos levou o presidente Barack Obama a enviar um pedido formal de desculpas ao colega Harmid Karzai. "Desejo expressar meu profundo pesar pelo incidente", afirmou Obama em carta entregue ao destinatário pelo embaixador americano no Afeganistão, Ryan Crocker. "Estendo ao senhor e ao povo afegão minhas sinceras desculpas. O erro foi inadvertido. Garanto que tomarei as medidas apropriadas para evitar que isso se repita", acrescentou Obama.

O ambiente tenso no país piorou ontem, quando um militar afegão alvejou e matou dois soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e manifestantes atacaram bases militares da França, da Noruega e dos EUA, deixando um saldo de três mortos. As autoridades afegãs confirmaram a morte de pelo menos 12 pessoas nos últimos dois dias, em meio aos violentos protestos contra a queima do livro sagrado muçulmano na base aérea base aérea de Bagram, situada ao norte de Cabul e utilizada pelos militares americanos.

Os ataques ocorreram após os rebeldes islâmicos talibãs incitarem a população a matar soldados estrangeiros para vingar a profanação. "Para defender o livro sagrado, vocês devem atacar corajosamente as bases militares dos invasores e seus comboios militares, matá-los, capturá-los, vencê-los e dar-lhes uma lição, de forma que não ousem jamais insultar o Corão", anunciou a milícia em um comunicado. A nota lembra que "proteger a vida e os bens dos fiéis é dever de todos os muçulmanos" e por isso orienta os seguidores a "visar as forças dos invasores, não os bens das pessoas".

O presidente Hamid Karzai, apoiado por Washington, havia pedido à população que mantenha a calma enquanto o incidente é investigado e ordenado às forças de segurança que evitem a violência e protejam "a vida e as propriedades" dos cidadãos. O Afeganistão quer ainda que a Otan submeta os culpados pela queima do Corão a um julgamento "público e justo", afirmou em comunicado o gabinete de Karzai.

Oficiais americanos fizeram questão de se desculpar pela profanação do livro sagrado muçulmano. O brigadeiro general Carsten Jacobson, porta-voz da Otan, classificou a atitude dos militares como "um ato de ignorância, provavelmente", mas admitiu que ele tem "graves consequências". A aliança militar ocidental tem atualmente 130 mil soldados no Afeganistão, a maioria norte-americanos, mas já iniciou a redução de efetivos e planeja concluir até o fim de 2013 a transferência das funções de segurança para forças locais.