O globo, n. 30790, 24/11/2017. País, p. 8

 

Adriana Ancelmo volta à cadeia por decisão do TRF

Juliana Castro 

24/11/2017

 

 

A ex-primeira-dama Adriana Ancelmo voltou para a prisão ontem após o Tribunal Regional Federal da 2ª Região revogar sua prisão domiciliar. Ela foi para a ala feminina da Cadeia Pública de Benfica, na Zona Norte do Rio, o mesmo em que está presa a exgovernadora Rosinha Garotinho. O ex-governador Sérgio Cabral também está no mesmo presídio, na ala masculina.

Policiais federais foram à casa de Adriana, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Ela foi presa em dezembro passado, mas passou à domiciliar em março. Ela recebeu o benefício do juiz Marcelo Bretas, porque seu filho mais novo com Cabral tem menos de 12 anos. A defesa recorrerá.

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Para MPF, havia risco de ocultação de patrimônio

24/11/2017

 

 

Promotora também alegou quebra de isonomia em relação a outras mães

A volta da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo para a prisão foi determinada por três desembargadores da 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal. Dois magistrados se posicionaram para que Adriana continuasse em domiciliar.

O primeiro a votar foi o relator Marcello Granado. Ele lembrou que a ex-primeiradama já foi condenada a 18 anos e três meses de prisão pelo juiz Marcelo Bretas por associação criminosa e lavagem de dinheiro.

— A pena sugere que foi a própria mãe quem por último pensou no bem estar dos filhos — afirmou o desembargador, sendo seguido pelos votos dos colegas Abel Gomes e Paulo Espírito Santo.

Votaram para manter Adriana em prisão domiciliar os desembargadores Simone Schreiber e Antonio Ivan Athié, que presidiu a sessão, contestando argumento que a levou a ser solta: o fato de ter filhos menores.

A procuradora regional Monica de Ré sustentou à Justiça que a prisão domiciliar de Adriana representava “enorme quebra de isonomia” em um universo de milhares de mães presas no sistema penitenciário que não contam com o mesmo benefício.

 

TRF-2 JÁ HAVIA JULGADO O CASO

O Ministério Público Federal alegou ainda que o interesse dos filhos menores de Adriana devia ser tão considerado quanto a situação social da família, que conta com babás, professores particulares e orientadores pedagógicos na escola onde estudam.

Para os procuradores, a prisão preventiva de Adriana era necessária porque a liberdade torna altamente provável a continuidade da ocultação de patrimônio obtido ilicitamente.

A defesa argumentou que a PF fez várias visitas surpresas ao apartamento de Adriana e que nunca encontrou nada que indicasse que ela estivesse descumprindo a determinação judicial. O advogado Renato Moraes alegou que não há notícias de que, nesses 8 meses em que esteve em prisão domiciliar, Adriana tenha oferecido perigo à sociedade e às investigações da Lava-Jato.

Em abril, a 1ª Turma Especializada do TRF-2 havia determinado o retorno da ex-primeira-dama à prisão. No entanto, como a decisão não foi unânime, o caso foi levado para a 1ª Seção Especializada. Na sessão de ontem, o desembargador Messod Azulay não estava presente por motivo de doença. Agora, o caso só pode ser revisto no STJ.

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Garotinho cobrava 10% de contratos, diz empresário

Marco Grillo 

24/11/2017

 

 

Dono de construtora afirma que licitações eram direcionadas e que era obrigado a devolver parte do que recebia

 

O empresário José Gomes Ribeiro de Castro afirmou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que era obrigado a devolver 10% de todos os pagamentos que recebia da prefeitura de Campos, durante a gestão de Rosinha Garotinho, para o grupo do ex-governador Anthony Garotinho. O dinheiro, segundo ele, era entregue em espécie ao policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, conhecido como Toninho, apontado pela PF e pelo Ministério Público Eleitoral como operador e braço armado de Garotinho.

Segundo o empresário, havia também na prefeitura um esquema de direcionamento de licitações. Ele afirma que, após a publicação dos editais, Garotinho determinava qual empresa deveria executar a obra, por ser o “prefeito de fato da cidade”. As construtoras, então, se reuniam na sede do sindicato para definir quem iria “dar cobertura” à proposta vencedora.

“Que era claro para todos os empresários e para a diretoria do sindicato que o direcionamento das obras, bem como a partilha delas na lista de espera, era de conhecimento e ordem de Anthony Garotinho, ex-secretário municipal de Governo”, disse Castro, citando o mecanismo que abastecia o caixa direcionado para as campanhas eleitorais de Garotinho, Rosinha e aliados. “Que esclarece que todas as vezes em que recebia pagamentos por obras executadas para a prefeitura era instado a devolver 10% do valor recebido. Que esse dinheiro era sempre entregue a um indivíduo conhecido como Toninho”.

Sócio da Conan Construções, o empresário citou como exemplo a construção de uma quadra poliesportiva em uma escola municipal, em 2012. O contrato, segundo o Diário Oficial do município, era de R$ 502 mil.

Garotinho e Rosinha foram presos, na quarta-feira, acusados de integrarem uma organização criminosa que arrecadava recursos ilícitos para campanhas. Em nota, eles negaram “veementemente que as acusações sejam verdadeiras” e atribuíram as prisões à “perseguição que vêm sofrendo” desde as denúncias que fizeram contra o ex-governador Sérgio Cabral.

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MPF: indícios de lavagem entre Sadala e Accioly

Miguel Caballero 

24/11/2017

 

 

Suspeita é sobre terreno em Ipanema que se valorizou 700% em 2016

 

Intimado a depor na Operação C’est Fini, o empresário Alexandre Accioly se apresentou na sede da Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre as suspeitas do Ministério Público Federal (MPF) em torno de suas relações comerciais com o empresário Georges Sadala, preso ontem. Accioly e Sadala são amigos, vizinhos no mesmo prédio na Avenida Vieira Souto, na Praia de Ipanema, e têm um histórico de relações comerciais que os procuradores acreditam terem ajudado Sadala a lavar dinheiro.

O MPF citou dois casos desse histórico entre os dois. Primeiro, um empréstimo de Sadala a Accioly, no valor de R$ 1,6 milhão, feito em 2010. Depois, a venda de um terreno na Rua Vinícius de Morais, em Ipanema, no ano passado. A procuradora Marisa Ferrari revelou os valores e explicou o estranhamento do MPF:

— Em março de 2016, Accioly vende a Sadala um terreno na Rua Vinicius de Moraes, em Ipanema, por R$ 800 mil. Em outubro, só dez meses depois, Sadala revende parte deste terreno por R$ 5,5 milhões. Tal valorização em tão pouco tempo é um forte indício de lavagem de dinheiro — afirmou a procuradora Marisa Ferrari.

Parte da força-tarefa da Lava Jato no Rio, a Receita Federal ajudou as investigações trazendo informações sobre a evolução patrimonial de alguns suspeitos. Georges Sadala, cujas empresas foram contratadas pelo governo do Rio para, por exemplo, operar o programa Poupa Tempo, teve uma das maiores evoluções.

— No início de 2007, quando Cabral chegou ao poder no Rio, Sadala tinha patrimônio de R$ 1,4 milhão. Suas empresas prestaram serviços ao governo estadual durante toda a gestão do ex-governador. Em 2016, patrimônio havia saltado para R$ 35 milhões — afirmou o auditor da Receita Federal Cléber Homem da Silva.

 

O QUE DIZ ACCIOLY

Accioly divulgou nota: “Alexandre Accioly informa que prestou esclarecimentos a respeito da venda de um bem imóvel, aquisição de um automóvel e operação de crédito, cujo empréstimo foi integralmente quitado, firmados com Georges Sadala. Todas as transações se deram em moeda corrente nacional, amparadas por farta documentação comprobatória — tais como escritura, documentos de compra e venda de bens e respectivas transferências bancárias (TEDs) —, e devidamente reportadas nas declarações de bens de Accioly. As informações prestadas referem-se a relacionamento de caráter estritamente pessoal.”

A ex-primeira-dama Adriana Ancelmo voltou para a prisão ontem após o Tribunal Regional Federal da 2ª Região revogar sua prisão domiciliar. Ela foi para a ala feminina da Cadeia Pública de Benfica, na Zona Norte do Rio, o mesmo em que está presa a exgovernadora Rosinha Garotinho. O ex-governador Sérgio Cabral também está no mesmo presídio, na ala masculina.

Policiais federais foram à casa de Adriana, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Ela foi presa em dezembro passado, mas passou à domiciliar em março. Ela recebeu o benefício do juiz Marcelo Bretas, porque seu filho mais novo com Cabral tem menos de 12 anos. A defesa recorrerá.