Correio braziliense, n. 20012, 06/03/2018. Política, p. 2

 

Primeiros nomes de uma longa corrida

Paulo de Tarso Lyra e Rosana Hessel

06/03/2018

 

 

ELEIÇÕES » Até o final da semana, quatro políticos fazem movimentos abertos de pré-candidaturas e oficializam o início da disputa mais árdua dos últimos anos pelo Palácio do Planalto. Isso sem contar o julgamento do habeas corpus preventivo de Lula

Março chega com a intensificação da movimentação dos pré-candidatos ao Planalto, em outubro. O PSol filiou ontem o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, como o postulante do partido à Presidência da República. No outro extremo do campo ideológico, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) filia-se amanhã ao PSL, com a expectativa de levar com ele mais sete deputados. Na quinta, atos em dois turnos: pela manhã, o DEM, em pré-convenção, lança o nome do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e no fim da tarde, Ciro Gomes será anunciado como presidenciável pelo PDT.

Para quem ainda tem dúvidas que a semana será quente, a quinta turma do Superior Tribunal de Justiça analisará hoje o pedido de habeas corpus preventivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula foi condenado a 12 anos e um mês pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, e tem recorrido em todas as instâncias na expectativa de evitar a prisão após o fim da análise dos embargos de declaração no TRF4. Caso seja derrotado no julgamento de hoje, restará ainda ao petista um pedido de HC no Supremo Tribunal Federal.

Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ganhou um fôlego maior para as articulações após a desistência do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, de disputar prévias internas para a candidatura ao Planalto. O PSDB reunirá na próxima semana a executiva nacional para traçar as estratégias políticas daqui para a frente e amarrar os palanques nacionais. A situação ainda mais delicada é São Paulo, onde setores do partido resistem aos movimentos do prefeito João Doria, postulante ao Palácio dos Bandeirantes.

Após o movimento nacional do PSB de vedar qualquer aliança com o PSDB, Alckmin sentiu-se muito mais à vontade para separar-se do atual vice-governador de São Paulo, Márcio França, e focar em uma candidatura própria tucana. Recompôs os laços com Doria — sua criatura para a prefeitura, mas que ficou tentado a engolir o criador e lançar-se ao Planalto — e, na última sexta-feira, lançou uma ameaça aos dissidentes internos. “Quem quiser deixar o partido, existem 35 outras legendas como opção”, criticou.

União

No evento de ontem do PSol em São Paulo, Guilherme Boulos ensaiou um discurso de união das esquerdas em torno de teses comuns, especialmente no segundo turno. Afirmou solidarizar-se com o ex-presidente Lula, a quem classificou de vítima. “Não vamos nos silenciar contra qualquer injustiça, inclusive contra a cometida com o presidente Lula”, destacou. Essa união das esquerdas, contudo, esbarra nos recentes atritos entre Lula e Ciro.

Na semana passada, Lula disse não entender a postura do pedetista. “O Ciro ou vai para a direita ou não pode brigar com o PT. Eu fico fascinado de ver como uma pessoa inteligente como o Ciro fala tão mal do PT. Não consigo entender”, disse Lula, em entrevista à Folha de São Paulo. Ciro respondeu no mesmo tom e disse que o petista não sabia o que estava acontecendo no país.

Se, no campo da esquerda, o cenário está turvo, entre os partidos da base de sustentação do presidente Michel Temer, as coisas não estão melhores. Rodrigo Maia quer superar as resistências que enfrenta do próprio pai, que prefere vê-lo candidato à reeleição para a Câmara. O DEM vai realizar na próxima quinta-feira sua reunião nacional e tudo está encaminhado para a unção de Maia como pré-candidato à Presidência. “Só se ele não quiser, mas acreditamos que, por tudo que ele vem fazendo, é nosso melhor nome”, disse ao Correio o líder do DEM na Câmara, Rodrigo Garcia (SP).

Maia, em entrevista à Rádio Bandeirantes ontem, mostrou que concorda com Garcia. “É uma construção que já vem acontecendo ao longo dos meses. Muitos colegas, parte da sociedade civil, alguns empresários estão vendo nossa gestão na Câmara, essa coragem de enfrentar temas de muitos anos atrás. Agora é esperar a convenção do partido”, declarou o presidente da Câmara.

Agenda pré-presidencial

Candidatos ao Planalto em momento

Guilherme Boulos

Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Boulos filiou-se ontem ao PSol

Jair Bolsonaro

Deputado filia-se amanhã ao PSL, em solenidade na Câmara. Expectativa é levar com ele mais sete deputados

Rodrigo Maia

Presidente da Câmara deve ser anunciado como pré-candidato do DEM em ato na Câmara, na quinta pela manhã

Ciro Gomes

PDT lança o ex-governador do Ceará como candidato do partido ao Planalto, na quinta à noite

Lula

PT não fará qualquer movimento político. Mas Lula tem uma etapa a ser vencida. STJ deve analisar hoje o pedido de habeas corpus do ex-presidente

MDB

Partido deve esticar ao máximo a escolha do seu candidato. Em tese, Michel Temer é favorito. Mas o presidente da legenda, Romero Jucá, sonha com Henrique Meirelles

PSDB

Após evitar a realização de uma prévia nacional, PSDB vai realizar uma reunião da Executiva na próxima terça-feira, dia 13, para traçar as novas estratégias

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Uma agenda lotada

06/03/2018

 

 

Cada vez mais presidenciável, e disposto, inclusive, a trocar de partido para concretizar os planos, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, segue tocando os compromissos da pasta e prepara as malas para viajar a Nova York. Meirelles embarca na manhã de hoje junto com os ministros Moreira Franco (Secretaria de Governo), Mauricio Quintella (Transportes) e Fernando Coelho (Minas e Energia) para participar de um seminário sobre oportunidades de Investimento no Brasil, organizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República e Apex-Brasil.

Meirelles intensificou as conversas com o MDB, de Michel Temer. O núcleo palaciano da legenda sonha com uma candidatura do próprio presidente à reeleição, alegando que nenhum outro nome seria capaz de defender com tanta maestria o legado do atual governo. Temer teria sido aconselhado nesse sentido por um dos principais conselheiros, o ex-presidente José Sarney. Mas parte do MDB namora Meirelles.

A situação do ainda titular da Fazenda, de fato, não é fácil. O partido dele, o PSD, costura uma aliança com tucano Geraldo Alckmin, em troca de um apoio às pretensões eleitorais do ministro das Comunicações, Gilberto Kassab. Com isso, se quiser de fato concorrer ao Planalto, Meirelles teria de mudar de partido. O PSDB resiste a uma aliança com o MDB. Segundo caciques emedebistas, os tucanos estariam espalhando que uma coligação com o atual governo “mancharia o verniz ético de Alckmin”.

Secretário-geral do PSDB, o deputado Marcus Pestana (MG) nega qualquer ranço nas negociações e afirma que o real elemento dificultador de uma aliança com o MDB seria o desejo dos aliados do presidente de ter um nome próprio concorrendo ao Planalto. “Temer não tem muito a perder e poderia concorrer no cargo, sem a necessidade de desincompatibilização. De nossa parte, as conversas mais adiantadas são com o PSD”, confirmou Pestana. (PTL e RH)