Título: Valmir Campelo no páreo
Autor: Maria Campos, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2012, Cidades, p. 23
De volta ao passado. Vinte anos depois de disputar eleição ao Palácio do Buriti, o ministro Valmir Campelo Bezerra, do Tribunal de Contas da União (TCU), é apontado no meio político como potencial candidato à sucessão do governador Agnelo Queiroz. A chance é real porque ele completará 70 anos em 22 de outubro de 2014, quando deixará a corte compulsoriamente em virtude da idade. Para se engajar novamente na política, ele teria de antecipar em apenas um ano a aposentadoria. Não faltam afinidades com a corrida por votos.
Presidente do TCU entre 2003 e 2004, Valmir Campelo fez política nas primeiras décadas do Distrito Federal. Foi administrador, com alta popularidade, de Taguatinga, de Brazlândia e do Gama, onde há um estádio em sua homenagem, o Bezerrão. Foi eleito deputado federal em 1986, na primeira vez que os moradores de Brasília foram às urnas. Parlamentar constituinte, ele construiu no Congresso Nacional uma forte aliança política, que o levou ao Senado em 1991. Dali, conseguiu consagrar-se o candidato com apoio do então governador Joaquim Roriz e iniciou a campanha ao Buriti com mais de 70% dos votos.
Derrotado em 1994 para o petista Cristovam Buarque, então neófito na política que acabara de deixar a reitoria da Universidade de Brasília (UnB), Valmir Campelo deixou o PTB para assumir o cargo no TCU depois de decepções na política. Em várias conversas com aliados, ele atribuiu o insucesso nas eleições de 1994 a traições de antigos aliados, como o próprio Roriz e a tucana Maria de Lourdes Abadia. O nome dele, no entanto, ressurge como potencial candidato em virtude da escassez de adversários na oposição a Agnelo. Procurado ontem pelo Correio em seu gabinete no TCU, Valmir Campelo não retornou à reportagem.
União Campelo é lembrado como um nome que poderia herdar o espólio eleitoral de Joaquim Roriz, apesar das desavenças do passado. Na política, não há mágoas que não possam ser superadas. O ex-governador do Distrito Federal está impedido de concorrer a mandatos eleitorais porque foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Só poderá voltar a disputar eleição a partir de 2024, quando terá 88 anos. Roriz, no entanto, não deve ficar à margem das discussões e das elaborações sobre os palanques do próximo pleito.
Aliados de Roriz dizem que a opção Valmir Campelo ainda não foi considerada, mas o ex-governador já foi informado de que a possibilidade de o ex-aliado voltar ao cenário político existe. Nas últimas semanas, cresceram os rumores de que ele pensa seriamente na possibilidade. Campelo ainda tem, de certa forma, influência no PTB. O irmão dele, Stênio Campelo, integra a executiva regional da legenda, presidida pelo senador Gim Argello (DF). Não faltam, no entanto, dificuldades. Uma eventual candidatura de Valmir Campelo ocorreria 17 anos depois do ingresso dele no TCU. Ele, então, se afastou de cabos eleitorais e lideranças comunitárias. Também está fora do debate político local há um longo período.
Para se engajar no projeto, Valmir Campelo precisaria unir um grupo político. Há no Distrito Federal líderes com voto, mas sem uma representação visível na política. Como mostrou reportagem do Correio publicada ontem, por conta do impacto da Lei da Ficha Limpa e dos desgastes provocados pela Operação Caixa de Pandora, a oposição a Agnelo está desarticulada. Os principais adversários ao petista, com fôlego eleitoral, integram a própria base do governador do DF.
São eles: o vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) e os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB) e Cristovam Buarque (PDT). Uma candidatura de Cristovam ao Palácio do Buriti, cogitada pelos aliados, mas ainda refutada pelo pedetista, aliada ao retorno de Valmir Campelo à atividade política, poderia criar um cenário curioso de reprise nas eleições, numa nova disputa do hoje ministro do TCU com Cristovam.
Herança Entre rorizistas, há uma expectativa de que o herdeiro de Roriz seja uma das filhas, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) ou a distrital Liliane Roriz (PSD). Também são lembrados a mulher de Roriz, Weslian (PSC), que concorreu em 2010, e o ex-governador Rogério Rosso (PSD). Não se descarta também uma nova parceria com o atual vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB). Há uma avaliação de que Roriz aceitaria uma negociação para as eleições de 2014 que propiciasse a indicação de uma das filhas para integrar a chapa como vice.
Esse era o plano de Roriz em 2010. O ex-governador chegou a fazer uma articulação para que Jaqueline fosse a vice de José Roberto Arruda, então no PFL, em 2006. Ele, no entanto, acabou liderando uma chapa pura, tendo Paulo Octávio como vice. De acordo com rorizistas, o ex-governador do DF aceitaria, inclusive, conversar com antigos adversários de campanha, como o senador Rodrigo Rollemberg a respeito de uma dobradinha com uma das filhas.
Parceria Abadia e Valmir Campelo se conheceram quando ambos defendiam a autonomia política no Distrito Federal na década de 1980. Os dois começaram a atividade política como administradores regionais. A tucana ficou à frente de Ceilândia. Campelo, em Taguatinga, em Brazlândia e no Gama. Em 1994, quando Abadia decidiu apoiar Cristovam Buarque, Joaquim Roriz a xingou no palanque.