Correio braziliense, n. 20012, 06/03/2018. Cidades, p. 21

 

Centro-direita desmorona

Ana Viriato

06/03/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Desentendimentos fazem com que grupo ligado a Arruda e Roriz descarte uma frente única para concorrer ao Executivo local. A tendência é de que o fim da coalização resulte em três pré-candidaturas

O anúncio do lançamento da pré-candidatura do ex-presidente da Câmara Legislativa Alírio Neto (PTB) ao Palácio do Buriti, previsto para amanhã, e as recentes cobranças de apoio à campanha feitas pelo ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) acarretaram o rompimento do grupo de centro-direita. Os integrantes da coalizão não enxergam mais a possibilidade de consolidação de uma frente única, com origem em alianças dos ex-governadores José Roberto Arruda e Joaquim Roriz e preveem que os atritos levem à formação de três candidaturas distintas.

Em meio à troca de faíscas, Alírio e o deputado federal Alberto Fraga (DEM) pretendem permanecer lado a lado na corrida eleitoral. Eles firmaram o entendimento em reunião, na última semana, com o ex-vice-governador Paulo Octávio (PP), que planeja entrar na disputa. A definição da cabeça de chapa depende das conversas dos próximos meses e do cumprimento de critérios como viabilidade jurídica e projeção eleitoral.

Para se apresentar como o melhor candidato, Alírio Neto apostará nos cofres cheios, garantidos pelo presidente nacional do partido, Roberto Jefferson. Líder da bancada da bala, Fraga pretende surfar no discurso de segurança pública, em defesa de bandeiras conservadoras, como a suavização do Estatuto do Desarmamento e o endurecimento de penas. Ele também espera receber o apoio do presidenciável Jair Bolsonaro. Além disso, a pré-candidatura de Rodrigo Maia (DEM) à Presidência da República, que será lançada nesta semana, pode impulsionar sua campanha.

A fim de viabilizar a união, contudo, Alírio terá de sentar à mesa com os colegas para explicar por que não os avisou sobre o lançamento da pré-candidatura ao GDF. Os dois foram pegos de surpresa com a novidade. “Vamos esperar uma posição dele. Eu, talvez, pague um preço alto por manter a minha palavra e o compromisso. Mas, à medida que a direita se divide, as chances do governador Rodrigo Rollemberg aumentam”, alertou Fraga.

Impulsionado pela coligação firmada com DEM e PTB em 2014, Frejat não deve contar com o mesmo apoio neste ano. Isso porque as cobranças do ex-secretário de Saúde foram vistas como uma imposição de candidatura por lideranças dos partidos. Devido ao mal-estar, o ex-deputado federal trabalhará na construção de uma segunda frente. Uma das opções é firmar aliança com o senador Cristovam Buarque (PPS) e o presidente do Legislativo local, Joe Valle (PDT), que será lançado pré-candidato ao Buriti nesta quinta-feira.

Após polêmicas declarações, Frejat preferiu ser cauteloso ao falar do afastamento do grupo de centro-direta. Ele classificou a pré-candidatura de Alírio como “legítima” e afirmou que está aberto ao diálogo. “Mantenho o que disse quando estabelecemos o acordo. Se alguém aparecer com mais condições de vitória, apoiarei”, disse. Mas, nos bastidores, o entendimento é de que a reaproximação é improvável.

Planos nacionais

No meio do fogo cruzado, está o deputado federal e pré-candidato ao Executivo local Izalci Lucas (PSDB) — o tucano tende a ser a terceira candidatura com origem no grupo rorizista e arrudista. Ele aguarda, porém, a decisão da Executiva Nacional sobre a campanha. O partido analisa a possibilidade de apoiar o projeto de reeleição do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), em troca de uma dobradinha no comando do GDF e do palanque eleitoral para o presidenciável Geraldo Alckmin.

A decisão deve sair até o próximo dia 15, quando acaba o mandato provisório de Izalci na Presidência regional do PSDB. Caso o partido não o apoie, ele apostará em um plano B, como uma candidatura pelo PSL. O deputado federal, entretanto, está convicto de que receberá o aval nacional para entrar na disputa. “Se tivesse dúvidas, não estaria aqui. Serei candidato a governador pelo PSDB. Disse a Alckmin que teríamos candidatura própria para dar garantias a ele”, afirmou.

Apesar das articulações dos postulantes ao Buriti, fatores externos vão interferir na formação das chapas. Pré-candidato a deputado federal, o ex-vice-governador e presidente regional do MDB, Tadeu Filippelli, avalia de que lado ficará. O apoio do emedebista é um divisor de águas, dada a estrutura do partido e o tempo de propaganda eleitoral. Ele ainda controla o PP, do deputado federal Rôney Nemer. Em troca das benesses, Filippelli exigirá a indicação do vice-governador da chapa majoritária.

O ex-governador José Roberto Arruda também vai ditar as peças. Se ele sair, abertamente, em defesa de Frejat, a tendência é de que o correligionário consiga agregar mais alianças. Muitos apostam, contudo, que o ex-chefe do Buriti apenas o fará próximo à data-limite da definição das chapas, em agosto, porque ainda aguarda decisões judiciais que podem colocá-lo de volta no páreo.

Na disputa

Confira a situação dos quatro pré-candidatos ao Buriti que integravam o grupo de centro-direita:

Alberto Fraga (DEM)

Deputado federal pela quarta vez, o demista detém densidade eleitoral — em 2014, com mais de 155 mil votos, consolidou-se como o parlamentar do DF com o maior apoio. Para aumentar o índice, espera receber a bênção do presidenciável Jair Bolsonaro. Apostará na defesa de posicionamentos polêmicos na área de segurança, como o armamento da população. Contudo, enfrenta a falta de unidade no partido e, recentemente, teve de lidar com traições de correligionários.

Alírio Neto (PTB)

Ex-presidente da Câmara Legislativa, o petebista vai dispor de cofres cheios na campanha, uma vez que, até então, é a única aposta do partido ao governo de uma unidade federativa. O dinheiro servirá para tentar superar um dos entraves da candidatura: o baixo alcance ao eleitorado. Em 2014, quando perdeu a disputa por um mandato de federal, conquistou 78.945 votos, metade do apoio angariado por Fraga. Longe das urnas há três anos, pode ter dificuldade em se aproximar do eleitor.

Izalci Lucas (PSDB)

Deputado federal pela segunda vez, enfrenta resistência do próprio partido — a ala de oposição prefere ver uma aliança entre o PSDB e o PSB, de Rodrigo Rollemberg. Até o próximo dia 15, quando acaba a vigência do mandato provisório como presidente regional do PSDB, Izalci deve receber uma decisão do presidenciável Geraldo Alckmin quanto ao apoio à sua campanha. Se não der certo, o deputado pode apostar numa candidatura pelo PSL ou Podemos, dos quais recebeu convites.

Jofran Frejat (PR)

Ex-secretário de Saúde, figura como líder em pesquisas de opinião. Após cobrar o cumprimento do acordo do grupo, que havia determinado o apoio ao pré-candidato com mais chances de vitória, observou o distanciamento de DEM e PTB, aliados nas últimas eleições. Estuda uma frente alternativa, ao lado do senador Cristovam Buarque (PPS) e do distrital Joe Valle (PPS), mas não é unanimidade na cúpula das legendas por causa da ligação com o ex-governador José Roberto Arruda.