O Estado de São Paulo, n. 45334, 30/11/2017. Política, p. A6.

 

PT teme Lula ligado a Cabral em caravana

Ricardo Galhardo

30/11/2017

 

 

Dirigentes consideram ‘burrada’ evento de cinco dias no Rio, onde ex-aliado está preso

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai visitar as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), um dos principais focos de corrupção na Petrobrás investigados pela Lava Jato, na caravana pelos Estados do Espírito Santo e Rio, entre os dias 4 e 8 de dezembro. Dirigentes do PT, em conversas reservadas, dizem que Lula deveria cancelar a caravana para evitar que seu nome seja associado aos dos ex-governadores do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e Anthony Garotinho (PR), ambos presos por suspeitas de corrupção.

Petistas ainda alertam para o risco de atrelamento da imagem do ex-presidente ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que enfrenta uma crise financeira e administrativa sem precedentes na história do Estado. O PT apoiou e participou dos três governos. Um dirigente classificou a manutenção da caravana como “uma burrada sem tamanho”.

Apesar dos protestos, Lula decidiu manter a viagem, marcada desde maio. Segundo o coordenador do evento, Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, em momento algum a direção partidária cogitou desistir da caravana.

“Vamos mostrar que, nos governos Lula e Dilma, o Rio viveu seus tempos áureos”, disse o dirigente petista. De acordo com Macedo, a visita ao Comperj tem como objetivo denunciar o abandono da obra em função da Lava Jato, em sua opinião. “A obra tem de ser retomada”, afirmou o dirigente.

Anunciado em 2008 na esteira de euforia da descoberta do pré-sal como a mais ousada obra da Petrobrás e uma das maiores do País, o Comperj tinha previsão inicial de custo de US$ 8 bilhões e geração de 200 mil empregos. Passados nove anos os canteiros estão abandonados, 27 mil pessoas ficaram desempregadas e o Tribunal de Contas da União (TCU) estima prejuízos de R$ 544 milhões em função da corrupção.

 

Lava Jato. Cabral, sua mulher, a advogada Adriana Anselmo, e outras cinco pessoas entraram na mira da Lava Jato. Delatores da empreiteira Andrade Gutierrez disseram que pagavam mesada que somou R$ 2,7 milhões ao ex-governador, que chegou a ser cogitado por Lula para ser o candidato a vice de Dilma em 2010.

O próprio ex-presidente é alvo da operação e foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. A direção do PT não admite que a visita ao Comperj seja uma forma de contrapor o discurso da Lava Jato, mas Lula em vários discursos tem repetido que a operação é responsável pela paralisação de obras públicas e o consequente desemprego de milhares de pessoas.

Apesar da contrariedade de setores do PT, Lula vai visitar dez cidades em quatro dias. É a terceira caravana do petista neste ano. As primeiras foram pelo Nordeste e Minas.

 

‘Legado’. No caminho Lula vai visitar universidades que tiveram investimentos nos governos petistas, obras gestadas nas administrações do partido e beneficiários de programas sociais, mas a maioria dos eventos é de caráter popular. “Esta é uma agenda de Lula com o povo”, disse Macedo.

No Rio, o petista vai se reunir com intelectuais e participar de um ato em defesa da educação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que atravessa grave crise financeira.

Segundo o coordenador da caravana, Lula vai destacar o legado dos governos petistas, em especial a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, e comparar com o que chama de paralisia do governo Michel Temer.

Ao contrário de outras caravanas, quando Lula se encontrou até com integrantes de partidos que votaram pelo impeachment de Dilma, não estão previstos encontros com políticos de outras legendas.

 

Governo

“Vamos mostrar que, nos governos Lula e Dilma, o Rio viveu seus tempos áureos.”

Márcio Macedo

COORDENADOR DA CARAVANA DE LULA

 

PONTOS-CHAVE

Petista aguarda julgamento em meio a viagens

Primeira instância

Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, em julho, a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

 

Nordeste

Em agosto, o ex-presidente fez sua primeira caravana do ano. O petista escolheu seu principal reduto eleitoral e percorreu 25 cidades da Região Nordeste.

 

Minas

Na sua segunda caravana, em novembro, petista visitou 12 cidades mineiras e encerrou sua participação com apoiadores na capital Belo Horizonte.

 

Segunda instância

Após a condenação na Lava Jato, Lula aguarda julgamento do recurso pelo TRF-4, em Porto Alegre. Petista pode ficar inelegível em 2018.

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Bolsonaro enfrenta críticas de líderes de frentes no Congresso

Gilberto Amendola

30/11/2017

 

 

Evangélicos, ruralistas e deputados ligados à segurança pública veem presidenciável como ‘inexperiente’ e ‘isolado’

 

 

Apesar de ser um deputado identificado com as causas da chamada bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia), Jair Bolsonaro (PSCRJ) não deve receber o apoio das principais lideranças das frentes temáticas, como a do agronegócio, da segurança pública e a evangélica, em seu sonho presidencial. O “radicalismo”, o “isolamento partidário” e uma certa “inexperiência” são os pontos que separariam Bolsonaro desses parlamentares.

O almoço com os deputados ruralistas anteontem, na sede da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), mostrou que a promessa de “distribuir fuzis para os proprietários de terra se defenderem contra invasões” passou do ponto. “A questão da segurança da propriedade rural é bastante delicada. É preciso, primeiro, defender a aplicação da lei. Muita gente achou que a história dos ‘fuzis’ não ajuda a nossa causa”, disse o coordenador da FPA, Nilson Leitão (PSDB-MT).

Entre expoentes da bancada ruralista, ganha corpo a opinião de que Bolsonaro serviria apenas como um plano B – e somente em um eventual segundo turno contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um termômetro disso foi a baixa adesão ao almoço do deputado com a bancada. Os encontros com Geraldo Alckmin e João Doria, ambos do PSDB, foram mais concorridos. Além disso, Leitão, que hoje é a principal liderança na bancada, já declarou ter candidato: Alckmin.

Mesmo na frente da segurança pública, onde o discurso próflexibilização do Estatuto do Desarmamento encontra ressonância na voz do deputado, o apoio é adornado por uma série de ressalvas. “Bolsonaro é uma pedra que precisa ser burilada”, disse o coordenador da frente, Alberto Fraga (DEM-DF). “Ele precisa modular a forma como se expressa. Acho que ele pode defender suas ideias sem agredir outros segmentos da sociedade”, afirmou.

Fraga disse que o apoio a Bolsonaro é maior no núcleo duro da bancada (cerca de 30 deputados) do que em sua totalidade (mais de 200 parlamentares).

Um dos motivos disso, segundo o deputado, seria a postura avessa às coligações que o próprio potencial presidenciável tem adotado – e que estaria no cerne de sua ida para um partido pequeno, como o PEN-Patriota. “A frente é pluripartidária, temos nomes de diversos partidos e com atuações diferentes em seus Estados. O isolamento pode prejudicá-lo”, afirmou Fraga.

 

Economia. Já o coordenador da bancada evangélica, o deputado Takayama (PSC-PR), discorreu sobre as virtudes de um potencial candidato. “Não basta ser um homem honesto, tem de ter capacidade de gerenciamento, experiência administrativa e preparo político”, disse. Takayama também afirmou ser preferível que o futuro presidente “entenda de economia”.

 

'Preparo'

“Não basta ser honesto, tem de ter capacidade de gerenciamento, experiência e preparo político.”

Takayama (PSC-PR)

DEPUTADO FEDERAL

 

“O isolamento pode prejudicá-lo.”

Alberto Fraga (DEM-DF)

DEPUTADO FEDERAL