Correio braziliense, n. 20029, 23/03/2018. Política, p. 6

 

Brasil não pagará sobretaxas

Hamiltom Ferrari

23/03/2018

 

 

CONJUNTURA » Produtores nacionais de aço e alumínio ficam temporariamente livres de tarifas extras nas exportações para os Estados Unidos

Pelo menos por enquanto, o Brasil está livre da sobretaxa do aço e do alumínio em exportações para os Estados Unidos. A informação foi confirmada ontem durante audiência no Comitê de Finanças do Senado norte-americano, em Washington, quando o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, anunciou que várias nações serão beneficiadas pela isenção. O secretário do Comércio, Wilbur Ross, declarou, em entrevista à TV Bloomberg, que o benefício “não virá sem contrapartidas de países”, porém, não explicou quais seriam.

O Instituto Aço Brasil informou que a sobretaxa será suspensa por 30 dias. Nesse período, haverá negociações entre os EUA e os países fornecedores. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apontou que o Brasil “já dá” contrapartidas. “Desde 2009, o país tem um deficit (comercial) de US$ 48 bilhões com os Estados Unidos. Desde lá, o único ano em que o país teve superavit foi 2017”, disse. “Mas, claro que os americanos vão exigir algo do Brasil, alguma abertura comercial ou participação, e caberá ao país saber negociar”, afirmou.

Além do Brasil, ficam excluídas das barreiras Argentina, Austrália, Coreia do Sul e União Europeia. Anunciadas na semana passada, as isenções para Canadá e México também estão valendo. A sobretaxa é de 25% no caso do aço e de 10% no do alumínio. As novas tarifas foram divulgadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 8 de março e entrariam em vigor hoje.

O setor siderúrgico comemorou a suspensão, mas considera que será necessário empenho para que a isenção seja definitiva. O Brasil é o segundo o país que mais exporta aço aos norte-americanos, ficando atrás apenas do Canadá. Em 2017, foram vendidO s 4,7 milhões de toneladas do produto, que resultaram num faturamento de US$ 2,6 bilhões. A sobretaxa foi classificada como uma medida protecionista que prejudica, inclusive, o mercado americano, segundo as autoridades brasileiras.

China

O mercado tinha receio de uma guerra comercial, após a União Europeia informar que preparava  represálias contra produtos dos EUA. Embora tenha reduzido o alcance das sobretaxas, Trump continua alimentando o temor de que pode provocar grandes sobressaltos na economia global. Ontem, ele assinou um memorando para impor tarifas de até US$ 60 bilhões contra a China. O líder norte-americano quer pressionar os asiáticos a eliminar práticas de comércio e investimento que considera injustas. “É o primeiro de muitos memorandos”, apontou. “Temos um tremendo roubo de propriedade intelectual.”

Trump reclama que os chineses usam tecnologia americana e colocam empresas dos EUA na China em desvantagem. “No fundo, a imposição de tarifas (do aço e do alumínio) foi uma decisão política, tanto é que Trump a divulgou ao lado de operários. O cancelamento da sobretaxa foi anunciado pelo secretário de Comércio, como uma decisão econômica. Ontem, o anúncio sobre a China foi novamente uma decisão política, o que mostra a politização do comércio internacional”, criticou Castro.

Frase

“Claro que os americanos vão exigir algo do Brasil, alguma abertura comercial ou participação, e caberá ao país saber negociar”

José Augusto de Castro, presidente da AEB

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Governo bloquará mais R$ 2 bilhões

Rosana Hessel

23/03/2018

 

 

O governo revisou os parâmetros macroeconômicos de 2018 e reduziu praticamente todas as previsões em uma tentativa de ficar mais próximo do mercado, dando sinais de que o ritmo de recuperação deu uma arrefecida. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 3% para 2,97%. Esse dado ainda está acima da mediana das estimativas do mercado computadas pelo boletim Focus, do Banco Central, de 2,83%.

Conforme o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento, a expectativa de inflação foi reduzida de 3,90% para 3,64% e a estimativa de crescimento da massa salarial nominal passou de 6,32% para 5,88%.

Durante a apresentação do relatório, o secretário do Orçamento Federal da pasta, George Soares, anunciou também um bloqueio adicional de R$ 2 bilhões no Orçamento deste ano, ampliando o valor do contingenciamento de R$ 16,2 bilhões, em fevereiro, para R$ 18,2 bilhões. Segundo ele, o valor bloqueado computa o risco fiscal de receitas que podem não se concretizar, como é o caso da privatização da Eletrobras, cuja estimativa foi elevada de R$ 8 bilhões para R$ 12,2 bilhões.

De acordo com o secretário, foi retirada da previsão orçamentária o aumento de arrecadação com a reoneração da folha, cujo projeto ainda está em tramitação no Congresso Nacional. O impacto líquido no Orçamento é de R$ 8,8 bilhões, sendo R$ 7,5 bilhões na redução das receitas previdenciárias e de R$ 1,3 bilhão no aumento das despesas obrigatórias. A falta da receita com a reoneração acabou prejudicando a previsão do resultado da Previdência Social, segundo Soares. A previsão de rombo previdenciário em 2018 aumentou de R$ 189,1 bilhões para R$ 196,6 bilhões.

Para o professor de Administração Pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira, o aumento do contingenciamento reflete a dificuldade do governo em manter o equilíbrio fiscal — o deficit primário deste ano não pode ser maior do que R$ 159 bilhões — e o Executivo ainda precisa arrumar espaço no Orçamento para as despesas com intervenção militar e a nova pasta de segurança pública. “O governo vem tentando mostrar que tem o domínio da máquina, mas, na verdade, ele atravessa um momento de muita indefinição”, alertou.