O Estado de São Paulo, n. 45342, 08/12/2017. Economia, p.B3

 

 

 

 

 

Governo estuda devolver cargos a deputados a 'infiéis'

Estratégia seria forma de buscar, para a reforma da Previdência, os votos de deputados que votaram contra o governo nos últimos meses

Por: Vera Rosa/ Daiene Cardoso

 

Vera Rosa

Daiene Cardoso / BRASÍLIA

 

Na tentativa de conseguir mais votos para aprovar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer estuda devolver cargos que foram tirados de aliados que votaram contra o governo nos últimos meses. A sugestão foi dada a Temer pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A avaliação é que, com isso, 30 votos poderiam ser ganhos.

Nesse momento, cada voto é mais do que importante, já que o Palácio do Planalto identificou mais um problema para a aprovação da reforma da Previdência. Pelos cálculos apresentados por Maia, 180 deputados são contrários às mudanças na aposentadoria e não estão dispostos a mudar de posição – número muito próximo aos 205 contrários que já inviabilizariam a aprovação. Temer quer que a proposta vá a plenário na semana do próximo dia 18, a última antes do recesso parlamentar, sob a alegação de que, se isso não ocorrer, nada será apreciado pela Câmara em 2018.

“Ou votamos agora ou não votamos mais”, disse Temer no jantar realizado na quarta-feira, no Palácio da Alvorada, segundo relatos de participantes. Até agora, segundo apurou o Estado,o governo contabiliza de 260 a 278 votos favoráveis à reforma, mas precisa de 308. O clima no Planalto é de pessimismo.

Em relação aos cargos, Temer ainda não bateu o martelo sobre quais seriam devolvidos, mas indicou que pode rever as punições de infiéis que se comprometerem a apoiar a reforma. Além disso, o governo negocia mais R$ 3 bilhões para as emendas de bancada em 2018, o que elevaria automaticamente os recursos do Fundo Eleitoral. O presidente também pediu à equipe econômica que faça cálculos sobre tudo o que pode ser remanejado no Orçamento para atender às demandas dos parlamentares.

As maiores resistências às alterações na Previdência estão nas bancadas do PSDB – que controla três ministérios – e do PSD, hoje com a pasta de Ciência, Tecnologia e Comunicações. Em conversas reservadas, auxiliares de Temer dizem que o ministro Gilberto Kassab tem feito pouco esforço para convencer os deputados do PSD.

O presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, admitiu nova divisão da bancada, mas observou que o ambiente pode melhorar com a eleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para o comando do partido, na convenção marcada para amanhã. Pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Alckmin já disse ser favorável à reforma da Previdência.

Até agora, apenas o PMDB e o PTB decidiram obrigar seus deputados a apoiar a reforma. Mas não explicitaram qual será a punição para os desobedientes.

 

Recusas. Sem esconder a contrariedade com a falta de apoio, Temer afirmou, no jantar do Alvorada, que a base aliada terá de deixar claro à população, se não votar a proposta, quais os motivos para se recusar a apreciar o texto, após tantas modificações acatadas pelo governo.

“É preciso que se diga: ‘Não vamos votar porque queremos manter os privilégios e que outros paguem a conta’”, disse, segundo relatos de deputados presentes ao encontro.

Após conversar ontem com Temer, no Planalto, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), afirmou que os aliados precisam de mais tempo. “Eu não poria para votar uma matéria dessa natureza, que tem repercussão tão grande para o País, com a certeza de derrota”, insistiu. “Agora, vamos reforçar para a sociedade que a previdência pública tem hoje tratamento diferenciado daquele que é dado ao sistema privado, do cidadão comum.”

 

Diferença

278

é o número de votos favoráveis à reforma da Previdência, segundo apurou o ‘Estado’

 

308

é o número de votos necessários para se aprovar a reforma

 

O VAIVÉM DA REFORMA

Negociações intensas

8 de novembro

Texto possível

Arthur Maia (PPs-BA), relator da reforma da Previdência, anuncia a volta das negociações de um texto possível para aprovar as mudanças nas regras de aposentadoria no Brasil

 

9 de novembro

Mudanças

Governo anuncia que retira da proposta da nova Previdência modificações na aposentadoria rural e que mantém no texto a exigência atual de 15 anos de contribuição para ter direito ao benefício para segurados do INSS

 

22 de novembro

Texto enxuto

É divulgado o texto da emenda que será votada no plenário para enxugar a proposta da reforma da Previdência que tinha sido apresentada. A economia prevista cai de R$ 600 bilhões para cerca R$ 480 bilhões em 10 anos

 

Negociação

Como moeda de troca, governo anuncia liberação de R$ 2 bilhões para prefeitos

 

29 de novembro

Impasse

Diante de vários pedidos, governo diz que não aceita novas flexibilizações na reforma além das foram negociadas para garantir o apoio ao texto, sob pena de diminuir ainda mais a economia esperada

 

Tensão

Partidos indicam que não obrigariam os seus parlamentares a votarem a favor do texto

 

Base aliada

3 de dezembro

Presidente Temer acerta um “pacto” de coalização para partidos da base obrigarem seus parlamentares a votarem favoravelmente à reforma

 

4 de dezembro

Promessas

Governo promete mais R$ 3 bilhões a prefeitos no ano que vem caso a reforma da Previdência seja aprovada

 

6 de dezembro

Fechamento de questão

PMDB e PTB fecham questão a favor do texto, mas não detalham punição em caso de deputados que votarem contra

 

Apoio do Congresso

Câmara e Senado aprovam projetos de impacto de R$ 30,2 bilhões em ampliação de despesas ou renúncias de receitas do governo federal e beneficiam empresas, ruralistas, prefeitos e governadores

 

Sem votos

Apesar das concessões, governo avalia, em jantar, não ter os votos e adia decisão sobre data de votação da reforma