O Estado de São Paulo, n. 45388, 23/01/2017. Política, p. A6.

 

Defesa pede para Lula recorrer em liberdade

Ricardo Brandt / Luiz Vassallo / Julia Affonso / Fausto Macedo

23/01/2018

 

 

Advogados solicitam regime aberto por idade avançada e alegam prescrição

 

 

Na antevéspera do julgamento em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a defesa apresentou memoriais de apelação nos quais pede que, se mantida a sentença de 9 anos e 6 meses de prisão imposta pelo juiz Sérgio Moro, seja assegurado ao petista “o direito de em liberdade recorrer aos tribunais superiores”. O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) vai julgar amanhã, a partir das 8h30, o recurso de Lula contra sua condenação em primeiro grau em ação da Lava Jato.

No documento encaminhado ontem ao relator do caso no TRF-4, desembargador federal João Pedro Gebran Neto, os advogados do petista criticaram o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o cumprimento de pena após confirmação da sentença em segunda instância.

Para a defesa, a decretação da prisão após confirmação de condenação em segundo grau, e antes da análise de recursos em instâncias superiores, fere o princípio constitucional da presunção da inocência.

“Frise-se que as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal no HC 126.292 e nas ADCs 43 e 44 não possuem caráter vinculante, além de configurarem clara ofensa à presunção de inocência. Inclusive, após os dois julgamentos acima citados, já foram proferidas diversas decisões, no âmbito do mesmo Tribunal, repelindo a execução provisória da pena. A crítica à execução provisória da pena também emana dos mais respeitáveis juristas, como Alexandre Morais da Rosa, Lenio Luiz Streck (um dos subscritores da ADC 44) e Cezar Roberto Bittencourt”, anotaram.

Os advogados argumentam também que, considerando as circunstâncias judiciais “favoráveis” e a idade avançada de Lula (72 anos), o único regime “compatível” para o cumprimento da pena seria o aberto – Moro ordenou regime fechado.

 

Prescrição. Apesar de alegar inocência, a defesa de Lula também reivindicou o reconhecimento da prescrição da pena para os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro que foram imputados ao petista. A banca de oito defensores liderada pelo criminalista Cristiano Zanin Martins sustenta o esgotamento do prazo para o Estado processar o petista por delitos ocorridos em 2009.

“Deve ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva retroativa, pois a referida pena prescreve em seis anos, lapso temporal já transcorrido entre a suposta consumação do delito (em 08.10.2009) e o recebimento da denúncia”, escreveram.

Para os advogados, os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro já estão prescritos. “(A lavagem) teria sido consumada em 08.10.2009 (data da assunção do empreendimento imobiliário pela OAS, quando teria ocorrido a ocultação da propriedade do apartamento triplex), tendo transcorrido o lapso temporal prescricional entre a suposta consumação do delito de lavagem e o recebimento da denúncia”, afirmaram os defensores.

 

Preliminares. Os memoriais apresentados pelos advogados do petista têm 23 páginas. Os pedidos foram feitos para o caso de outros requerimentos preliminares, já feitos anteriormente pela defesa, não serem atendidos pelo desembargador-relator, como o de nulidade do processo, a suspeição do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba para atuarem no caso e a absolvição de Lula.

“Requer-se, preliminarmente, a decretação da nulidade do processado ou, ainda, seja o apelante (Lula) reinquirido (ouvido novamente). No mérito, o que se requer é a absolvição do apelante”, escreveram os advogados. “Em caráter subsidiário, pedese o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva para ambos os crimes; a redução das penas a ele imputadas.” A defesa de Lula nega que ele seja o dono do imóvel, que, para Moro, representa uma propina de R$ 2,2 milhões da construtora OAS em troca de benefícios em contratos com a Petrobrás.

O julgamento de Lula em segunda instância tem importância fundamental na eleição presidencial deste ano porque pode tirar o petista da disputa. Se confirmada a condenação em segunda instância, Lula, que lidera todos os cenários em pesquisas de intenção de voto, poderá ficar inelegível por oito anos. A Lei da Ficha Limpa prevê a suspensão dos direitos políticos por esse período para condenados em órgãos colegiados.

 

Pedidos

“Requer-se, preliminarmente, a decretação da nulidade do processado ou, ainda, seja o apelante (Lula) reinquirido. No mérito, o que se requer é a absolvição do apelante.”

MEMORIAL DE APELAÇÃO DA DEFESA DE LULA

PONTOS-CHAVE

 

O último apelo do petista antes do julgamento

 

Nulidade

A defesa de Lula pediu a “nulidade do processado” e que o expresidente seja reinquirido no processo. No mérito, requer a absolvição do petista.

Suspeição

Os advogados alegam incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o caso, além da suspeição do juiz Sérgio Moro e procuradores.

Reconhecimento

Em caráter subsidiário, a defesa pede reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva para os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Recurso

Ainda requer que, “na longínqua hipótese de serem indeferidos todos os pedidos”, seja assegurado direito de recorrer a tribunais superiores em liberdade.

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PR errou ao imitar tradicionais, Diz Olívio Dutra

Ricardo Galhardo

23/01/2018

 

 

Ex-governador Olívio Dutra (PT-RS) diz que esquerda ‘já deveria ter construído alternativa’; Gleisi e Dilma discordam

 

 

O ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra (PT) disse ontem em Porto Alegre que a legenda “errou ao imitar a política tradicional dos partidos que há anos usam os espaços públicos”. Durante manifestação de apoio a Lula, fazendo a defesa do ex-presidente, Dutra afirmou ao Estado que os erros foram “individuais, não coletivos”. O petista gaúcho ressaltou, porém, que “o campo democrático já tinha de ter construído alternativas” – para o caso de Lula não conseguir ser candidato ao Palácio do Planalto. Dutra declarou que as manifestações “não são apenas em torno de Lula, mas pelo resgate e qualificação da democracia”.

A presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann, porém, discordou. “Eu adoro o Olívio, mas não posso concordar com isso”, disse a senadora à Rádio Guaíba, de Porto Alegre. “Nós não temos alternativa, pois se construir qualquer alternativa, agora, é dizer que eles têm razão. O processo é injusto e persegue o presidente o Lula”, afirmou Gleisi. Para a senadora, “o processo não tem base jurídica, prova ou crime”. “Se eu fizer isso, no sentido de não confirmação da candidatura de Lula, é reconhecer o processo que nós estamos denunciando. Lula é o nosso candidato e o maior líder político e popular que este País já teve.” Para a presidente cassada Dilma Rousseff, o debate sobre um plano B do partido “é igual à discussão sobre ‘renuncie, presidente’”. “Pediam ‘renuncie, presidente, é um gesto de grandeza’. Gesto de grandeza nada. É a tentativa de mascarar o golpe.”

Erro

“(O PT) errou ao imitar a política tradicional dos partidos que há anos usam os espaços públicos.”

Olívio Dutra (PT)

EX-GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO SUL