O globo, n.30771 , 05/11/2017. SOCIEDADE, p.41

VIDAS EM TESTE

ANA PAULA BLOWER

PAULA FERREIRA

RAPHAEL KAPA

 

 

Principal exame de acesso ao ensino superior avalia hoje alunos com diferentes histórias

 

Mais de seis milhões de histórias se deparam hoje com uma maratona de provas que pode definir trajetórias de vida. Com 6,7 milhões de inscritos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplica suas primeiras provas hoje, a partir das 13h30m, horário de Brasília, em todo o país. A avaliação é o principal acesso ao ensino superior no país e desafiará os estudantes com questões de Ciências Humanas, Linguagens e a elaboração de uma redação nesta tarde. As provas de Matemática e Ciências da Natureza somente serão realizadas no próximo domingo, dia 12. Os números que cercam o Enem o colocam como o segundo maior processo de admissão para universidades do mundo, só perdendo para a seleção chinesa. Isto mesmo com as mudanças na edição deste ano, que acabou com a certificação do ensino médio a partir do exame e impossibilitou que alunos que não concluíram o segmento tenham acesso à nota para pleitear vagas nas faculdades. As modificações tiveram impacto no número de inscrições, que caiu de 9,2 milhões em 2016 para 6,7 milhões na edição deste ano.

Ainda assim, o alcance da prova continua amplo. Neste ano, 1.725 municípios de todo o Brasil oferecerão a prova em 182.202 salas. O estado com o maior número de inscrições é São Paulo, o mais populoso do país, com 1,13 milhão de candidatos. Para que todos possam ter a mesma chance, o Enem conta com atendimentos especializado e específico. Ao todo, são 31.726 candidatos que pediram tratamento diferenciado, a maioria deles pessoas com deficiência que pleitearam espaços adaptados para a sua realidade. Uma novidade no atendimento deste ano se dá com os surdos. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia que aplica o exame, criou uma versão da prova em Libras. Com isso, 359 candidatos optaram por essa alternativa. Gestantes, idosos e lactantes também puderam pedir atendimento específico. São 16.908 candidatos nessa modalidade que poderão, por exemplo, ter acompanhantes fora da sala. O uso do nome social na identificação foi requisitado por 694 candidatos, como transexuais, mas somente 304 pedidos estavam de acordo com os critérios e foram deferidos pelo Inep.

MUDANÇAS DE REGRAS NESTA EDIÇÃO

Entre as mudanças do Enem este ano, duas se destacam. A primeira é a realização em dois domingos seguidos, ao contrário de um único final de semana, como nas edições anteriores. A segunda novidade é que os alunos receberão uma prova personalizada com o seus dados. Para isso, foram impressas 72 milhões de páginas personalizadas e 467 milhões de páginas para os cadernos de provas. Em abril, o Inep anunciou que mudaria o consórcio contratado para aplicar a prova e que não contaria mais com o trabalho do Cebraspe. A mudança causou uma polêmica que não termina hoje: a quem pertence os detectores de metais utilizados na aplicação? O Cebraspe afirma ser dono, mas o Inep reivindica a posse. Com o impasse não resolvido, o governo teve que alugar os aparelhos para que o nível de segurança do exame continue o mesmo do ano passado. Desta forma, os candidatos passarão por revista antes de entrarem nas salas e quando forem ao banheiro. Outra polêmica envolvendo o exame aconteceu a dias da prova. Uma disputa judicial culminou na decisão da ES ministra Cármen Lúcia que anulou a 2,04% parte do edital que zera redações em caso de violação aos direitos humanos. Na mesma semana, as polícias civil de Goiás e Distrito Federal empreenderam uma operação para desmantelar uma quadrilha suspeita de fraudar o Enem no ano passado. Não foram detectadas ameaças ao teste deste ano. Ainda assim, o governo afirmou que o esquema de segurança aumentou e conta com apoio da Polícia Federal e reforços em equipamentos.