O Estado de São Paulo, n. 45341, 07/12/2017. Política, p.A7

 

 

 

 

 

 

CPI da JBS conclui que PGR orientou gravações

Em relatório final, deputado Carlos Marun (PMDB-MS) afirma que tem ‘convicção’ da participação da Procuradoria nos áudios de Joesley

Por: Renan Truffi

 

Renan Truffi / BRASÍLIA

 

O relator da CPI Mista da JBS, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), afirmou que está “convencido” de que a Procuradoria-Geral da República (PGR), sob o comando de Rodrigo Janot, orientou as gravações de conversas do presidente da República, Michel Temer, e do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ambos implicados nas delações dos irmãos Wesley e Joesley Batista, do Grupo J&F. A conclusão estará em seu relatório final, que deve ser apresentado na próxima semana.

No seu parecer, Marun vai argumentar que a atuação dos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) tinha o objetivo de depor o presidente para interferir no processo de sucessão de Janot no cargo. “Diante dos autos da comissão, tenho a convicção de que foram orientadas estas gravações, especialmente a do presidente Michel Temer e a do senador Aécio Neves. Foram orientadas pelo procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete e homem de extrema confiança do procurador Janot”, afirmou Marun.

“Também tenho a convicção de que se estabeleceu uma tentativa de derrubar o presidente da República, com vistas ao controle da sua própria sucessão. Isso tudo deve permear meu relatório”, disse o parlamentar, um dos principais defensores de Temer no Congresso e cotado para assumir a Secretaria de Governo. Pelella informou que não iria se manifestar e Janot não respondeu.

O relatório final de Marun deve ser votado ainda neste mês. O fim dos trabalhos da comissão confirma as expectativas iniciais de que a CPI Mista seria usada pelo Congresso como instrumento de retaliação da base aliada contra Janot. O presidente da CPI Mista, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), falava que a comissão também iria se debruçar sobre as denúncias de compra de parlamentares. Ontem, Ataídes admitiu o “esvaziamento total” do colegiado. “Eu concordo que ficará manco esse relatório porque não conseguimos fechar o circuito, que era realmente ouvir os políticos”, disse.

Dos 68 membros da comissão, somente cinco apareceram na reunião de ontem para votar requerimentos que tratavam da convocação dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e os ex-ministros Guido Mantega, Antonio Palocci e Geddel Vieira Lima. A sessão não obteve quórum mínimo para a abertura dos trabalhos.

 

Sem quórum. Marun e Ataídes na sessão da CPI Mista

 

'Convicção'

“Tenho a convicção de que foram orientadas estas gravações, especialmente a do presidente Michel Temer e a do senador Aécio Neves.”

Carlos Marun (PMDB-MS)

 

 

 

 

 

 

Comissão pede à Procuradoria prisão de Miller

Por: Renan Truffi

O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) da JBS, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), enviou representação à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, na qual pede que o órgão faça um novo pedido de prisão contra o ex-procurador Marcello Miller.

No documento, Ataídes afirma que a CPI Mista da JBS conseguiu estabelecer uma cronologia dos fatos que “evidenciam a participação efetiva e criminosa” de Miller na colaboração premiada dos irmãos Batista, donos do Grupo J&F. O acordo está suspenso porque os delatores teriam omitido informações das autoridades mesmo após o acordo firmado com a PGR. Para a CPI Mista da JBS, Miller fez uso de suas “elevadas atribuições para municiar de informações uma comprovada organização criminosa”. Em nota, Miller rebateu as acusações e disse que “se mantém à disposição das autoridades, até mesmo da CPI”. / R.T.

 

 

 

 

 

Fachin nega prisão domiciliar para mãe de Geddel

Ministro do STF rejeita cautelares a irmão de ex-ministro, deputado Lúcio, e manda bloquear R$ 12,8 mi da família
Por: Breno Pires / Rafael Moraes Moura / Amanda Pupo

 

Breno Pires

Rafael Moraes Moura

Amanda Pupo / BRASÍLIA

 

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou ontem pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, sobre o recolhimento domiciliar noturno ao deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, e a prisão domiciliar de sua mãe, Marluce Vieira Lima. No despacho, o ministro argumentou que essas medidas não eram urgentes e deu um prazo para os advogados de ambos se manifestarem.

Na mesma decisão, ele determinou também o bloqueio de R$ 12,8 milhões da família de Geddel, preso desde setembro no âmbito da Operação Tesouro Perdido. A decisão atende ao pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou indícios de cometimento dos crimes de lavagem de dinheiro por meio de empreendimentos imobiliários de empresas ligadas à mãe de Geddel.

Os pedidos foram feitos pela procuradora-geral da República na segunda-feira, quando Raquel denunciou por lavagem de dinheiro e organização criminosa Geddel, Lúcio, Marluce, o ex-assessor parlamentar dos políticos, Job Ribeiro Brandão, o aliado político da família, Gustavo Ferraz, além do engenheiro Luiz Machado, dono da Cosbat Engenharia. A denúncia se refere ao caso dos R$ 51 milhões em espécie encontrados pela Polícia Federal em setembro passado em um apartamento ligado à família Vieira Lima.

 

Desvio. No despacho, o ministro do Supremo autorizou a abertura de um novo inquérito contra Geddel, Lúcio, Marluce e Afrisio Quadros Vieira Lima Filho – irmão dos políticos – para apurar a suspeita de desvio de dinheiro público.

A PGR vai analisar se houve apropriação de até 80% dos salários de Job Brandão como assessor dos políticos na Câmara, conforme ele afirmou em depoimento. O ex-assessor parlamentar é um dos denunciados no inquérito e já sinalizou que pretende fazer acordo de delação premiada. Procurado pela reportagem, o deputado Lúcio Vieira Lima não quis comentar as acusações. “Não vi nada, é um desrespeito ao Judiciário eu me manifestar por meio do que a imprensa fala. O meu advogado só fala nos autos”, disse. O Estado não conseguiu contatar os demais alvos da decisão até a conclusão desta edição.