O Estado de São Paulo, n. 45341, 07/12/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

Aécio cogita faltar à convenção tucana

Presidente licenciado do PSDB, senador se despede do comando da sigla em reunião da direção e critica diagnóstico de fragilidade do partido

Por: Pedro Venceslau / Renan Truffi

 

Pedro Venceslau

Renan Truffi / BRASÍLIA

 

O senador Aécio Neves (MG) se despediu ontem da presidência do PSDB sem ainda ter decidido se vai à convenção da sigla neste sábado, em Brasília. Na condição de presidente licenciado da legenda, ele fez um discurso incisivo na última reunião da atual Direção Executiva do PSDB.

Em uma fala que durou cerca de 20 minutos, Aécio se defendeu das denúncia da Procuradoria-Geral da República, cobrou “clareza” nas posições políticas da sigla, exaltou sua gestão à frente do partido e afirmou que foi inicialmente contra a ocupação de cargos no governo Michel Temer.

“Me incomoda pessoalmente algumas avaliações superficiais, eu diria até primárias, de quem não tem o menor conhecimento do PSDB”, disse o senador. Segundo relatos de participantes, Aécio lembrou que as reformas trabalhista e da Previdência foram “condições” do partido para apoiar o governo.

“Não há espaço para concessões. Defendo posição fechada. Pior do que a reforma ser aprovada sem os votos do PSDB, é ela não ser aprovada por falta dos votos do PSDB”, disse.

Sobre as denúncias, ele voltou a dizer que os recursos repassados pela JBS para a campanha presidencial foram de doações a diretórios regionais e candidatos estaduais e que o pedido de R$ 2 milhões a Joesley Batista foi empréstimo pessoal.

Após ser gravado pedindo o montante ao empresário, dono do Grupo J&F, o senador foi denunciado pela PGR por corrupção passiva e obstrução da Justiça. Aécio também é alvo de outras oito investigações na Corte por suspeitas levantadas em delações da Odebrecht, do senador cassado Delcídio Amaral e do lobista Fernando Moura.

No fim da reunião, Aécio distribuiu aos presentes um “balanço de gestão” de sua presidência. No documento de nove páginas, o senador rebateu as críticas de que o PSDB estaria fragilizado por causa das suas divisões internas.

“Apenas a superficialidade das análises feitas por quem não acompanha a construção do PSDB, ou não reconhece sua importância, pode enxergar nele um partido fragilizado e sem perspectivas, como tentaram propagar”, disse o senador.

Nos bastidores, a cúpula tucana negocia com as correntes do partido qual será a participação de aliados de Aécio na nova Executiva da legenda. Apesar da resistência da ala dos “cabeças pretas”, que fazem oposição a Temer, o senador mineiro deve emplacar correligionários em postos-chave da Executiva. Entre eles estão o deputado Marcus Pestana (MG) e o senador Antonio Anastasia (MG).

Pestana garantiu que Aécio vai votar na convenção de sábado, mas a assessoria do senador informou que a decisão ainda não está tomada. Em grupos de WhatsApp, militantes do PSDB ameaçam vaiar Aécio se ele decidir discursar.

 

‘Esdrúxulo’. Pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, avisou que participará da convenção.

Virgílio quer falar ao microfone logo depois (ou antes) do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também presidenciável e que deve ser aclamado presidente do PSDB no evento.

Ao Estado, o prefeito de Manaus disse que fará um discurso “forte” na convenção: vai exigir prévias com a participação de todos os filiados para escolher o tucano que representará o PSDB na disputa presidencial e vai criticar o fato de Alckmin acumular o comando partidário com a condição de pré-candidato. “Isso é esdrúxulo”, afirmou Virgílio.

Sobre a pressão para que desista em nome de Alckmin, o prefeito foi categórico ao dizer que não abandonará seu projeto de disputar a eleição. “Não podemos deixar que supostos cardeais decidam. Vou até o fim nas prévias. Seria constrangedor se FHC ligasse pedindo para eu desistir.”

 

 

 

 

 

Maricá convoca servidores para ato de Lula

Por: Roberta Pennafort

 

Roberta Pennafort

ENVIADA ESPECIAL / MARICÁ (RJ)

 

Servidores municipais de Maricá, a 60 quilômetros do Rio, foram convocados pela prefeitura, governada há 8 anos pelo PT, a assistir ao ato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem à noite, na praça central. Lula está em caravana pelo Espírito Santo e Rio há três dias.

Funcionários começaram a lotar a praça às 17 horas, ainda no horário do expediente. Dois grupos ouvidos pelo Estado disseram apoiar Lula, mas afirmaram que iriam de qualquer forma ao ato por terem sido assim orientados por superiores. Eles não quiseram se identificar.

Em discurso ao lado da presidente cassada Dilma Rousseff, Lula insinuou que a Operação Lava Jato ajudou a quebrar o Rio. “A Lava Jato não pode fazer o que está fazendo com o Rio. É preciso fazer uma distinção: se um empresário errou, prende o empresário. Mas não precisa quebrar a empresa, porque quem paga o pato é o trabalhador, que é inocente”, disse Lula.

“Por causa de meia dúzia que eles dizem que roubou, e que ainda não provaram, não podem causar o prejuízo que estão causando à Petrobrás”, afirmou Lula, alvo de 9 ações e condenado a 9 anos e 6 meses de prisão no caso triplex do Guarujá.

A população foi chamada ao ato por carros de som desde segunda-feira. A filha de Lula Lurian da Silva é dirigente local.