O Estado de São Paulo, n. 45341, 07/12/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

 

Na primeira fala na Câmara, uma despedida

Discurso / Deputado eleito com o mote ‘pior do que está não fica’ confirma que vai deixar a vida pública

Por: Igor Gadelha

 

Igor Gadelha / BRASÍLIA

 

Eleito pela primeira vez para um cargo público em 2010 com os motes de que queria descobrir o que faz um parlamentar e que “pior do que está não fica”, o deputado e palhaço Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca (PR-SP), de 52 anos, disse ontem que vai abandonar a vida pública. Em sete anos, descobriu o que um parlamentar faz, mas não gostou.

Tiririca confirmou o que havia revelado ao Estado, em 4 de agosto, quando afirmara estar desiludido com a política. “Trabalha muito e produz pouco”, resumiu ele no primeiro e provável último discurso na tribuna da Câmara, ontem, quando falou sobre sua decisão que, segundo ele, vinha amadurecendo.

Nas suas palavras, a decepção e vergonha com a política prevaleceram sobre a perspectiva de se eleger para um terceiro mandato na eleição de 2018. Em 2010 e 2014, Tiririca esteve entre os mais votados do País, com desempenho superior a 1 milhão de votos nas duas ocasiões. Nas duas eleições, foi responsável por eleger outros deputados da coligação, como o Delegado Protógenes (PCdoB-SP), em 2010. A regra que permite a um candidato bem votado “carregar” outros passou a ser tratada como “efeito Tiririca” nas discussões sobre a reforma política.

Tiririca admitiu que, como deputado federal, não fez muita coisa, mas acredita ter acertado ao comparecer a 100% das sessões de votação no plenário da Câmara para “votar com o povo”. Nos sete anos de Câmara, Tiririca apresentou 17 projetos, mas viu apenas um deles ser aprovado: o que inclui a atividade circense nas beneficiadas pela Lei Rouanet. Apresentada em 2013, a proposta foi aprovada pelos deputados em julho deste ano, mas ainda aguarda análise do Senado.

Diferentemente dos palcos, Tiririca tem atuação discreta na Câmara. Prefere sentar no fundo do plenário, em espaço reservado para assessores, em vez de ficar ao lado dos colegas nas bancadas destinadas aos deputados. Mesmo “escondido” no fundo do plenário, é assediado diariamente para tirar fotos por visitantes do Congresso. “Nunca brinquei aqui dentro, votei de acordo com o povo”, afirmou Tiririca, que se posicionou a favor tanto do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) quanto das duas denúncias oferecidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer (PMDB).

O preconceito que sofreu no início não o abalou. Disse que deixará a política em 2018 de cabeça erguida: “Não fiz nada de errado”. “A gente é bem pago, a gente tira livre R$ 23 mil. Tem apartamento, direito a carro. Sem falar na carteirada que muitos de vocês dão”, disse ele em discurso. E emendou: “Ando de cabeça erguida, mas já vi deputado se escondendo porque, para o povo, isso aqui é uma vergonha”.

 

Vergonha

“Ando de cabeça erguida, mas já vi deputado se escondendo porque, para o povo, isso é uma vergonha.”

Tiririca (PR-SP)

DEPUTADO FEDERAL