Título: Câmbio prejudica indústria
Autor: Carolina Dinardo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2012, Economia, p. 15

produção industrial continua sendo prejudicada pela fraqueza do dólar, que favorece o avanço dos produtos importados e o aumento dos estoques. Dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que a retração do setor vem ocorrendo desde setembro de 2011. Em janeiro, o indicador que mede o uso da capacidade industrial marcou 45 pontos, abaixo da linha ideal de 50, atingindo o menor nível desde 2009. De acordo com a Sondagem Industrial da CNI, o aproveitamento das fábricas recuou para 69% no mês passado ante 71% de dezembro, puxando o índice geral para baixo, de 42,6 pontos em dezembro para 41,7 em janeiro.

"Diante do cenário negativo, a indústria brasileira apresenta um quadro de estagnação que vai demorar a se alterar", previu Marcelo Azevedo, economista da CNI. Ele avalia que, além de uma maior participação da concorrência externa no mercado doméstico, os estoques ainda precisam ser reduzidos para que as linhas de produção acelerem o ritmo de atividade. Nesse sentido, o setor torce pelo sucesso das intervenções do Banco Central (BC) para tentar interromper o derretimento da moeda norte-americana, que vem oscilando abaixo de R$ 1,70. "A indústria precisa voltar a crescer. As medidas cambiais são importantes, mas não podemos esperar para ver seus resultados", avaliou.

Em razão das dificuldades na indústria, o índice de emprego no segmento também foi afetado. Em janeiro, o índice estava em 47,1 pontos ante os 49,3 de igual mês de 2011. Azevedo explica que o esfriamento da atividade levou a cortes de vagas. "É inevitável o impacto sobre os empregos. Se uma empresa precisa reduzir a produção, não tem motivo para manter grande número de funcionários", resumiu. Apesar do quadro adverso, os industriais estão menos pessimistas em relação aos próximos meses, influenciados pelo aumento da procura. Em janeiro, a demanda subiu de 56,2 para 59,3 pontos.

Reflexos O fraco desempenho do setor industrial afetou negativamente o nível de atividade econômica do país, que fechou o ano passado com alta de 2,6%, conforme a avaliação da Serasa Experian, divulgada ontem. O percentual bem abaixo da expansão de 7,5% (número oficial) do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país) em 2010 também foi a segunda menor taxa de crescimento desde 2004. Para a empresa de análise de crédito, o primeiro semestre de 2011 registrou aumento de 3,8% na atividade, influenciado pela elevada base de comparação anual. Na segunda metade do ano, contudo, o crescimento foi de apenas 1,5%, afetado pelo cenário de juros altos e de agravamento da crise financeira internacional.

Consumidor mais confiante O ano começa com os consumidores mais confiantes, mas ainda preferindo quitar dívidas a voltar a consumir. Estudo divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que Índice de Confiança do Consumidor (ICC) avançou 2,9% de janeiro para fevereiro, de 116 para 119,4 pontos, aproximando-se dos 119,6 de dezembro de 2011. Os dados da pesquisa foram apurados entre 31 de janeiro e 17 de fevereiro, em sete capitais. Apesar de o governo ter anunciado a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre geladeiras, fogões e máquinas de lavar, os consumidores optaram pelo reequilíbrio de suas finanças.