O Estado de São Paulo, n. 45341, 07/12/2017. Economia, p.B5

 

 

 

 

 

Tucanos ainda vacilam sobre reforma, afirma Goldman

OFENSIVA PELA REFORMA / Parlamentares boicotam reunião da Executiva do partido que poderia garantir apoio à votação da Previdência

Por: Julia Lindner / Felipe Frazão

 

Julia Lindner

Felipe Frazão / BRASÍLIA

 

Após boicote de parlamentares à reunião da Executiva nacional do PSDB para tratar da reforma da Previdência, o presidente interino da legenda, Alberto Goldman, admitiu ontem que a maioria dos deputados tucanos ainda está “vacilando” sobre a necessidade da proposta. Somente um quarto da bancada do partido na Câmara participou da apresentação sobre a reforma feita pelo secretário de Previdência, Marcelo Caetano, e pelo relator do texto na Casa, deputado Arthur Maia (PPS-BA), na sede da sigla, em Brasília.

“Tem pessoas (no partido) que já têm posição absolutamente firmada contra, outras têm (posição) absolutamente firmada a favor, e outros têm, um grande número, talvez, até a maioria, ainda vacilando, não tendo certeza, não tendo convicção total da necessidade das mudanças”, afirmou Goldman.

O encontro do PSDB de ontem contou com a presença de 11 dos 46 deputados tucanos e quatro dos 11 senadores do partido. O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, também esteve na reunião como emissário do Palácio do Planalto, mas o reforço não adiantou. Nem mesmo o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli, participou do encontro. Com a justificativa que teria outra reunião no mesmo horário, enviou o deputado Jutahy Junior (BA) como representante. Ao Estadão/Broadcast, Tripoli disse que foi informado em cima da hora sobre a explanação de Caetano e que a maioria dos deputados prefere aguardar a composição da nova Executiva, que será formada no próximo sábado, 9, para voltar a se reunir.

Imbassahy está sendo segurado no cargo pela expectativa do Planalto de ganhar votos dentro do PSDB a favor da Previdência. Ontem, participou do café da manhã com líderes e discursou durante cerimônia no palácio ao lado de Temer. O ministro tem sido assíduo na defesa da reforma entre os tucanos e trabalha para ao menos segurar os votos da ala Jaburu.

Aliados do presidente Michel Temer também apostam que o cenário ainda pode mudar com a posse do governador Geraldo Alckmin (SP) como presidente do PSDB. Alckmin tem atuado com o governo pela aprovação da reforma. Na terça-feira, esteve no Congresso para reforçar o "corpo a corpo" com os deputados. Na ocasião, argumentou que seria melhor aprovar a proposta o quanto antes, para evitar que o tema domine a campanha eleitoral de 2018.

 

Mudanças

“Um grande número ainda está vacilando, não tendo certeza, da necessidade das mudanças.”

Alberto |Goldman

PRESIDENTE INTERINO DO PSDB

 

 

 

Para PSDB, País volta a 2014 só em quatro anos

Partido lança documento em que prevê retomada lenta e ataca herança de Dilma
Por: Lu Aiko Otta

 

Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

 

Num momento em que o PSDB é pressionado a apoiar a favor da reforma da Previdência mesmo prestes a desembarcar do governo, o Instituto Teotônio Vilela (ITV), centro de estudos e formação do partido, elaborou um estudo que diz que a economia brasileira levará mais quatro anos para retornar aos níveis de 2014, antes do período de recessão.

“A recuperação será tão mais árdua e lenta quanto mais o País demorar a reformar a economia, reorganizar o Estado e abrir maior espaço para investimentos privados”, diz o texto, obtido com exclusividade pelo Estado. Sem as reformas, o futuro é “nebuloso, para dizer o mínimo”.

Apesar de o documento reunir argumentos a favor das reformas, os deputados tucanos resistem em apoiar as mudanças na Previdência. “Meu partido é um paradoxo”, disse o presidente do ITV, José Aníbal. Ele defende o fechamento de questão e avalia que, se não o fizer, o partido se distanciará de seu significado básico. “O PSDB é um partido reformista”, frisou.

Intitulado “Muito Mais do que Uma Década Perdida”, o estudo calcula quanto tempo cada setor da economia levará para voltar ao nível em que estava no segundo trimestre de 2014, antes de começar a recessão. As simulações têm como base o padrão de comportamento da economia nos últimos 21 anos, conforme registrado na série de contas nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As simulações levaram em conta as taxas de crescimento projetadas pelo mercado na pesquisa Focus, disponíveis até 2021. A partir daí, as projeções são de 2,5% num cenário pessimista, sem reforma. No otimista, com reformas, a taxa seria de 3% entre 2022 e 2026 e de 4% daí em diante. Nesse quadro mais benéfico, o crescimento deste ano seria de 1% e não 0,9% como estimado no Focus.

No cenário pessimista, o País retornaria aos níveis pré-crise apenas no terceiro trimestre de 2022. “Isso mostra que a obra petista é devastadora”, afirma Aníbal. “Há um ano e meio, a Dilma Rousseff saiu porque, se ficasse, o País quebrava.”

O setor mais duramente afetado pela crise é o da indústria de transformação. As simulações mostram que ele só recuperará seu desempenho de antes da recessão em 2033, no cenário pessimista. Para retornar ao seu ponto mais alto atingido na história, em 2008, serão necessários mais quatro anos.

Outro lado. Consultado, o Partido dos Trabalhadores enviou resposta elaborada pelo professor Márcio Pochmann, da Unicamp, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). “O PSDB se especializou mais no ataque do que na defesa do governo que o conduz desde o golpe de 2016”, afirma. Com base nos resultados do PIB trimestral, cujas taxas de crescimento recuaram de 1,3% no primeiro trimestre para 0,1% no terceiro trimestre deste ano, ele diz que “não há, infelizmente, indicação consistente de recuperação sustentada da economia nacional.”

 

Avaliação

“Isso mostra que a obra petista é devastadora. Há um ano e meio Dilma saiu porque se ficasse o País quebrava.”

José Aníbal

PRESIDENTE DO INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA