Título: ONU aponta mais atividades suspeitas
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2012, Mundo, p. 21

Dois dias depois de uma missão de inspetores nucleares retornar do Irã "decepcionada" com a recusa das autoridades a franquear o acesso a instalações consideradas suspeitas, um relatório apresentado ontem na sede da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU), em Viena, manifestou "sérias preocupações" com a possível finalidade militar do programa nuclear iraniano. O texto explicita "divergências" com o regime islâmico e afirma que atividades compatíveis com o desenvolvimento de armas, mencionadas em um informe de novembro último, foram intensificadas.

O relatório trimestral da AIEA reconhece como "fracasso" o impedimento aos inspetores de vistoriar a base militar de Parchin, próxima a Teerã, onde teria sido construído um vestíbulo de contenção para experimentos com explosivos de alta potência. "Não se chegou a nenhum acordo entre o Irã e a agência", diz o texto. Segundo a agência France-Presse, a missão não pôde se reunir com os altos funcionários iranianos durante as duas visitas que fez a Teerã neste ano. "O Irã quis frear o processo e nos colocar uma armadura", disse à AFP uma fonte que não quis se identificar.

As preocupações se voltam principalmente para o enriquecimento de urânio, pivô do impasse entre o Irã, que afirma seu direito a dominar a tecnologia para alimentar seus reatores de combustível, e a comunidade internacional, que cobra de Teerã a suspensão dessa atividade, segundo resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. No informe, a AIEA assegura que, desde novembro, o Irã triplicou a produção de urânio enriquecido a 20% e instalou 2 mil novas centrífugas de processamento na usina de Fordo. O país disporia de 105kg de urânio a 20% e estaria mais próximo de obter, se o desejar, o metal enriquecido a 90%, taxa necessária para o uso em uma bomba atômica.

O regime iraniano afirma que seu programa tem fins exclusivamente civis e sustenta que tem o direito a dominar o enriquecimento de urânio, como país signatário do Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares.