O globo, n.30795 , 29/11/2017. ECONOMIA, p.22

Eletrobras quer investir em comercialização de energia

ANA PAULA MACHADO

MANOEL VENTURA

 

 

Venda de subsidiárias permitirá à estatal entrar em nova área

 

A Eletrobras vai definir um novo plano de negócios no próximo mês e, mesmo com o projeto de privatização de empresas controladas, o programa de investimentos para o período de 2018 a 2023 vai contemplar projetos de comercialização de energia, além da transmissão e geração, áreas em que a empresa já atua.

— Vamos ser grandes na comercialização de energia no mercado livre, continuar sendo grandes em transmissão e na área de geração — disse ontem o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, durante o 10º Fórum Smart Grid, em São Paulo. — Claramente, se você for olhar nos últimos anos, perdemos a relevância, fomos perdendo market share ao longo dos últimos dez, 15 anos. Podemos resgatar o protagonismo da Eletrobras no mercado brasileiro.

Ferreira Junior ressaltou ainda que os novos negócios deverão ser viabilizados apenas depois de uma forte redução do nível de endividamento do grupo estatal. A expectativa, segundo ele, é que até o final de 2018, a relação dívida líquida/Ebitda (geração de caixa antes de impostos, amortizações e depreciações) deverá cair a menos de três vezes. De acordo com o balanço do terceiro trimestre, a alavancagem do grupo estava em quatro vezes a geração anual de caixa.

— Até o fim de 2018, esperamos ter concluído a venda das distribuidoras e da participação nas 77 empresas, que são 58 usinas eólicas e 16 linhas de transmissão. Aí estaremos em condições de participar de qualquer processo. Hoje, não participamos nos leilões (de novas concessões da área de energia) porque ainda temos uma alavancagem alta, que inviabilizaria qualquer projeto — afirmou o presidente da Eletrobras.

Para ele, 2018 será um ano mais promissor para o grupo. Além da expectativa de concluir os processos de vendas das distribuidoras e das participações em outras empresas de energia, o executivo disse que a Eletrobras deve concluir grande parte dos projetos de transmissão e geração em andamento.

— O que não devemos concluir em 2018 é Belo Monte e Angra 3, mas o restante será entregue, mesmo aqueles com atraso — assegurou.

O presidente da Eletrobras se disse otimista para a aprovação pela Câmara dos Deputados, ainda este ano, do projeto de lei (PL) que autoriza e define a modelagem para a privatização de parte do grupo Eletrobras.

— Estou otimista de que o PL entraria para discussão no Senado no começo do ano que vem. Está havendo um esforço do governo para as coisas acontecerem — disse ele.

 

CÂMARA APROVA REFERENDO

O caminho, no entanto, não deve ser fácil. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou, ontem, proposta que prevê a realização de um referendo para privatizar todas as empresas ligadas à estatal.

O texto segue agora para votação no plenário da Câmara, que depende do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para ser pautado. Se aprovado, será enviado para outra votação no plenário do Senado. Isso não tem data para ocorrer.

A proposta aprovada foi apresentada pelo deputado Danilo Cabral (PSB-PE), que tem atuado para evitar a privatização da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf ), subsidiária da Eletrobras que atua na Região Nordeste. A Chesf é um dos principais focos de resistência, no Congresso, à privatização da Eletrobras.

Nos plenários da Câmara e do Senado, a proposta precisa apenas de maioria simples para que o referendo seja aprovado. Se o referendo se confirmar, a população vai votar se é contra ou a favor da lei que tratará da privatização da Eletrobras.