Título: Planalto atropela PMDB
Autor: De Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2012, Politica, p. 5

O PMDB reclama que foi atropelado pelo Palácio do Planalto e pelo PT nas negociações com o PRB de Celso Russomano (SP). O partido negociava uma aliança com o candidato do PRB à prefeitura de São Paulo e cogitava, inclusive, oferecer a vaga de vice na chapa. Apesar dos baixos índices de rejeição, Chalita tem seu eleitorado concentrado, principalmente, entre as pessoas que ganham mais de 10 salários mínimos. Russomano, por outro lado, tem um perfil mais popular e ajudaria a angariar votos nas regiões mais carentes da capital paulistana, redutos tipicamente petistas.

O convite feito pela presidente Dilma Rousseff para que o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) seja o novo ministro da Pesca — a posse será hoje de manhã, no Palácio do Planalto — atrapalhou as conversas. Mesmo assim, Chalita e o vice-presidente da República, Michel Temer, conversaram pelo menos três vezes com Russomano. Não desistiram da parceria, mas tentam, pelo menos, assegurar que Russomano não desista da candidatura para apoiar o PT. "Temos o segmento católico e inserção no eleitorado tucano e eles (PRB) têm a periferia", resumiu um cacique do partido, adiantando que o PMDB também conversa com o PSC e com o PCdoB.

Aliados de Temer reconhecem, contudo, que a situação não é fácil, já que o movimento de Dilma Rousseff foi cirúrgico. "Crivella é sobrinho do bispo Edir Macedo, dono da TV Record, da Igreja Universal e do PRB. É muito difícil alguém recusar uma ordem do bispo", admitiu um interlocutor do PMDB.

Caciques do partido reconhecem que a entrada do tucano José Serra na disputa — uma das razões que levaram o PT e o Planalto a abrir os braços do governo para o PRB — alterou completamente o cenário. "Ninguém queria que ele entrasse, mas isso também não significa que ele seja imbatível. Nas outras duas eleições locais que venceu — prefeito em 2004 e governador em 2006 —, Serra tinha perspectivas de poder nacional. Ele não só não tem mais isso como terá que passar a campanha assegurando que vai cumprir o mandato até o final", afirmou um articulador da campanha de Chalita.

Dissidentes Se a cúpula partidária do PMDB está indignada com o Planalto, a bancada na Câmara também. Na noite de quarta-feira começaram a ser recolhidas assinaturas para um manifesto contra o PT e o governo, protestando pelo subaproveitamento do partido na Esplanada. Em um primeiro momento, parecia apenas uma manifestação dos dissidentes, mas o protesto ganhou corpo e a tendência é de que todos os deputados — menos o líder, Henrique Eduardo Alves (RN) — assinem o documento e entreguem no início da próxima semana a Temer. "Assinei o texto. O documento expressa o sentimento do PMDB", criticou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A mágoa entre peemedebistas não é apenas em relação à distribuição de cargos. A forma de agir de Dilma, que toma decisões políticas sem consultar o partido, também alimenta o caldeirão de ressentimento. "Quando Lula propôs a aliança para elegermos a Dilma, a promessa era de que o poder seria compartilhado. Não somos chamados para nada. Ora, nós também elegemos a Dilma, também temos direito de participar da conversa política", reclama um cacique do partido.

Segundo outros deputados, a falta de importância do partido na visão de Dilma também ficaria nítida na forma como ela lida com o vice-presidente Michel Temer. Embora o receba e converse com ele, Dilma não divide com Temer os assuntos de governo. "Ela dá audiência a ele, mas não dá importância", critica outro deputado.

Aliados de Temer, contudo, adiantam que o vice-presidente não encaminhará o manifesto à presidente Dilma Rousseff. Reconhecem que a insatisfação na bancada é justa e envolve não apenas o PMDB, mas outros partidos da base aliada que se sentem alijados do processo decisório do governo. "Mas os deputados devem entregar o manifesto à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. É ela que canaliza as queixas de deputados e senadores", afirmou uma fonte palaciana.

Conversa com Lula A presidente Dilma Rousseff viajou ontem para São Paulo para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se recupera do tratamento de um câncer na laringe. Além de conversarem sobre a crise no Banco do Brasil (leia mais na página 12), os dois fizeram uma análise geral sobre o mundo político, envolvendo as mudanças ministeriais e o quadro eleitoral nas principais capitais brasileiras, especialmente São Paulo. Integrantes do PT afirmaram que a decisão de convidar o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca partiu da própria presidente, embora tenha contado com a simpatia de Lula.