O Estado de São Paulo, n. 45390, 25/01/2018. Política, p.A12

 

 

 

 

 

Manifestantes pró-Lula bloqueiam vias

Grupos fecham estradas e invadem a sede da TV Globo no Rio; atos contra petista têm comemoração com fogos de artifícios e Pixulecos

 

Manifestantes contrários à condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiram com vandalismo ao resultado do julgamento no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), que decidiu pelo aumento da pena imposta em primeiro grau ao petista. Tão logo ficou conhecido o resultado dos votos, o trânsito em três das principais rodovias que dão acesso a São Paulo – Régis Bittencourt, Dutra e Imigrantes – ficou temporariamente interrompido por queima de pneus na pista. Houve registros de atos semelhantes também na Ponte do Socorro, na zona sul da capital paulista, prejudicando o trânsito na Marginal do Pinheiros, e em ruas de Porto Alegre, onde foi realizado o julgamento. Os atos foram organizados pela Frente Brasil Popular, que congrega entidades ligadas a movimentos sociais, principal base de sustentação de Lula nas ruas.

No Rio, a invasão ao prédio da TV Globo foi organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O grupo jogou tinta vermelha nas paredes do hall de entrada da emissora. O letreiro externo do prédio também foi manchado. A Polícia Militar informou que teve de intervir para retirar os manifestantes. “Eles foram retirados do interior do prédio e dispersaram em seguida. Não temos registro de presos ou feridos”, informou a polícia. A Globo foi procurada, mas não respondeu até a conclusão desta edição. Desde a noite de anteontem, manifestantes favoráveis ao ex-presidente Lula marcavam uma “vigília” na porta da emissora, no horário do julgamento do recurso.

Ferrovia. Outros incidentes foram registrados antes mesmo do início do julgamento. Durante a madrugada, integrantes da Frente Nacional de Luta (FNL) interditaram a Estrada de Ferro Carajás na altura do quilômetro 854, no município de Parauapebas, no Pará. A ferrovia, operada pela Vale, é o principal meio de escoamento da produção de minério de ferro a céu aberto do mundo, em Carajás, no sudeste do Estado, para o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís. Em nota, a direção da Vale repudiou o que chamou de “ação criminosa e ilegal”, que, segundo a empresa, colocou em risco a operação ferroviária, interrompeu o transporte de minério, combustível e grãos, e afetou mais de 1,3 mil pessoas das comunidades que usam o trem de passageiros diariamente. Até a conclusão desta edição, a ferrovia estava fechada, segundo a assessoria da Vale.

Confronto. Em João Pessoa, pela manhã, o ato em defesa de Lula terminou em confronto com a PM e com ao menos quatro feridos. Um grupo ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) lançou pedras contra a sede da Justiça Federal e policiais que protegiam o prédio. Um agente foi atingido, chegou a desmaiar e teve de ser hospitalizado. A PM reagiu com balas de borracha e bombas de efeito moral. Ao menos três manifestantes ficaram feridos, entre eles o deputado estadual Frei Anastácio (PT), que foi atingido por uma bala de borracha na testa. Também houve manifestações em Campina Grande, Sapé, Jumé e Cajazeiras, no interior do Estado. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), integrantes do MST interditaram trechos das rodovias BR-101, BR-230 e BR-361, mas as estradas foram liberadas no início da tarde./ CONSTANÇA REZENDE, JOSÉ MARIA TOMAZELA e MILTON ROCHA FILHO

Discurso

“A gente tem é que radicalizar na organização popular. Nós não vamos deixar de lutar.”

Gleisi Hoffmann (PR)

SENADORA E PRESIDENTE DO PT

 

 

Julgamento dificulta tese do PT

Por: Vera Magalhães

 

Vera Magalhães

O julgamento estritamente técnico feito pela 8.ª Turma do TRF-4 ontem enfraquece em muito a tese que o PT não se cansa de alardear de que o ex-presidente Lula é alvo de uma perseguição política. Os votos, muito mais longos que as previsões, exauriram todas as preliminares apontadas pela (fraca) defesa de Lula para apontar nulidades no processo e na sentença do juiz Sérgio Moro. E, depois, foram cirúrgicos ao analisar com lupa as provas existentes nos autos quanto às condutas de Lula, descartando uma a uma as extravagantes teorias levantadas nas últimas semanas, até mesmo sobre supostas discrepâncias entre a denúncia e a sentença de Moro. Sóbrios, econômicos em considerações jurídicas, mas eloquentes quando se tratava de demonstrar domínio completo do processo em tela e do arcabouço judicial da Lava Jato, os desembargadores – sobretudo o relator e o revisor – acabaram por demonstrar sua solidez.

Diante do consistente arrazoado jurídico erigido em Porto Alegre, resta diminuído o “mimimi” petista de que Lula é vítima de perseguição. E agora, PT? Além de ter os caminhos para o tapetão judicial bastante dificultados pela unanimidade da condenação, o partido viu estreitada a margem para convencer a sociedade, para além dos convertidos, da completa inocência de Lula. Assim desnudado de sua aura mítica, o ex-presidente perde força política. Dificilmente o partido poderá levar adiante a radicalização que pregou de forma irresponsável logo depois do resultado proclamado. Restará manter o gogó nas redes sociais enquanto discute, em reuniões de sua cúpula, um plano B para que a sigla dispute as eleições e não sofra uma derrota ainda maior do que a de 2016 no Parlamento e nos Estados. O PT pode insistir em atrelar seu destino ao de Lula, mas agora sabe que não terá êxito na empreitada.

 

 

 

 

 

Críticos levam Pixulecos em protestos

Por: Fabio Leite / Gilberto Amendola / Rafael Cicconi

 

Fabio Leite/ SÃO PAULO 
Gilberto Amendola 
Marianna Holanda ENVIADOS ESPECIAIS 
PORTO ALEGRE 
Rafael Cicconi
ESPECIAL PARA O ESTADO / GUARUJÁ

As manifestações favoráveis à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram marcadas pela presença dos Pixulecos – infláveis gigantes que retratam o petista com roupa de presidiário – e pela baixa participação popular. Os bonecos apareceram em cidades estratégicas, como São Paulo, Porto Alegre e Guarujá, onde houve baixa adesão nas comemorações do resultado. Na capital gaúcha, um Pixuleco foi inflado numa embarcação que navegava pelo Rio Guaíba, nas proximidades do prédio do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), onde foi realizado o julgamento. “Ficamos ancorados até as 8 horas, conforme organizado por nós, respeitando as restrições de segurança”, relatou uma das organizadoras do ato, a líder do Movimento Brasil Livre (MBL) no Rio Grande do Sul, Paula Cassoul. O protesto foi encerrado antes do início do julgamento, após abordagem da polícia.

Horas depois do julgamento, manifestantes favoráveis à condenação de Lula ocuparam o Parcão, no bairro nobre Moinhos de Vento, local de concentração do grupo desde a véspera do julgamento. Apesar do chope, da banda, do carro de som e do resultado favorável, o chamado CarnaLula reuniu apenas cerca de 100 pessoas. No ato, organizado pelo MBL e pelo NasRuas, chamaram atenção principalmente dois grupos, um usando laranja e outro roxo – camisetas do Novo e do Livres, respectivamente. Em São Paulo, onde tradicionalmente são organizados os principais atos políticos, dois caminhões de som e um Pixuleco gigante foram levados para a Avenida Paulista ainda pela manhã por grupos que organizaram protestos contra a presidente cassada Dilma Rousseff. O ato, no entanto, atraiu um pequeno grupo de manifestantes anti-PT, entre eles simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência, e defensores da intervenção militar.

A Polícia Militar e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) chegaram a interditar três quarteirões da Paulista no entorno do Museu de Arte de São Paulo (Masp), mas nem mesmo uma quadra chegou a ser completamente ocupada. Um Pixuleco de 10 metros de altura também foi inflado em frente ao condomínio Solaris, no Guarujá, onde fica o triplex apontado como propriedade de Lula na ação em que foi condenado. Aos gritos de “Lula na cadeia” e “Viva Sérgio Moro”, quase mil manifestantes se concentraram durante todo do dia no local. O boneco virou atração para quem passava por ali.

 

 

 

 

No Twitter, 811 mil posts em 18 horas no País

 

O julgamento do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) foi mencionado no Twitter em 811 mil postagens originadas no Brasil da 0 hora às 18 horas de ontem, segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da Fundação Getulio Vargas. Outras 110 mil postagens na rede social citaram o assunto em outros países, em português e em outras línguas. O nome do relator do caso no Tribunal, João Pedro Gebran Neto, foi citado em cerca de 48 mil postagens. No debate gerado na rede social, com polarização entre detratores e simpatizantes de Lula, as contas mais influentes foram a do próprio ex-presidente, de um lado, e a do perfil de humor @jqteixeira, de outro. A conta de Lula no Twitter, que costuma ser alimentada por sua assessoria, tem 199 mil seguidores. Já @jqteixeira, que se identifica como Joaquin Teixeira, tem 186 mil seguidores.

Nos perfis contrários a Lula, a hashtag (marcação com uma ou mais palavras-chave) mais publicada ontem, até as 17 horas, foi #molusconacadeia, com 98 mil ocorrências. A seguir vieram# lu lana cadeia (92,7 mil) e# cadeias em lulaé fraude (44,7 mil ). Do lado da defesa do ex-presidente, as principais hashtags foram #cadêaprova (84,6 mil) e eleiçãosemlulaéfraude (28,6 mil). No fim da tarde, o levantamento da FGV-Dapp detectou grande quantidade de retuítes de uma postagem de 2010 da senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT, na qual ela saudava a aprovação da Lei da Ficha Limpa. “Aprovação do ‘Ficha Limpa’ é importante avanço da democracia e torcemos para que já tenha validade para essas eleições”, diz Gleisi no post. Opositores de Lula ironizavam o fato de que a lei poderá agora ser usada para barrar uma eventual candidatura do petista à Presidência da República, uma vez que impede condenados por órgãos colegiados de concorrer. O monitoramento da FGVDapp abarcou todas as postagens feitas no Twitter nos últimos dias, quando o julgamento se transformou em um dos principais assuntos debatidos na rede social. A análise mostrou interesse crescente no tema. Na semana passada, o maior número de postagens sobre o julgamento foi de 117,9 mil, no dia 19.