O Estado de São Paulo, n. 45390, 25/01/2018. Política, p.A16

 

 

 

 

‘Detratores estão na cadeia’, diz Temer

Sem citar Lula, presidente afirma em Davos que alta da Bolsa mostra ‘confiança’

Por: Jamil Chade / Célia Froufe

 

 

Jamil Chade 
Célia Froufe 

ENVIADOS ESPECIAIS / DAVOS

O presidente Michel Temer disse ontem em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, que “não aceita mais” ser alvo de dúvidas sobre suspeitas de corrupção em seu governo. “Os meus detratores estão na cadeia e quem não está na cadeia está desmoralizado. Foram desmascarados pelos fatos”, declarou o presidente. No discurso no Fórum Mundial, Temer não fez referência ao julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). Ele, porém, comemorou o resultado positivo do mercado, registrado durante o dia, como um sinal de “confiança” nas instituições nacionais. Na interpretação dele, o discurso diante dos empresários em Davos, garantindo a continuidade da política econômica, teria neutralizado uma eventual turbulência por causa do julgamento do petista. “Acabei de receber uma boa notícia”, disse Temer, referindo-se ao movimento de alta na Bolsa. “De modo que o discurso intercedeu com a repercussão, pelo que estou vendo. E foi muito exitosa nossa vinda para cá”, declarou o presidente.

Após o discurso no fórum, porém, Temer foi alvo de um questionamento por parte do fundador do evento, Klaus Schwab, sobre como a corrupção poderia ter um impacto nas eleições de outubro no País. Temer minimizou a questão. “Acho que será um tema natural, já que há um combate pesado contra a corrupção no País”, respondeu. O presidente enfatizou que as instituições estão funcionando com “toda tranquilidade” e que há uma “separação absoluta” dos Poderes. “Isso dá segurança jurídica para o investimento no País”, disse.

Justiça. Horas mais tarde, quando voltou a ser questionado por jornalistas sobre a pergunta de Schwab, Temer reagiu com irritação. “Eu tive a oportunidade de dizer, assim como eu fiz no Brasil, que agora eu não vou mais tolerar essas coisas”, afirmou. Ele voltou a evitar comentários sobre o julgamento de Lula, mesmo depois de o resultado estar dois votos a favor da condenação. “Vamos aguardar a decisão final”, afirmou. “É uma decisão que cabe à Justiça e, em particular, ao Tribunal Regional Federal”, argumentou. O presidente foi informado do resultado do julgamento, que manteve a condenação de Lula por 3 a 0, com aumento de pena, quando já estava no jantar oferecido pelo fórum.

Temer havia orientado os ministros a não comentar publicamente a ampliação da pena de Lula. O objetivo seria despolitizar a decisão e evitar que os aliados de Lula usem as eventuais falas dos integrantes do governo como sinal de que não há independência no Judiciário. No jantar oficial, no hotel Derby, porém, a condenação de Lula por unanimidade foi comemorada como uma final de jogo de futebol. À mesa do jantar, a comitiva brasileira acompanhava e Temer e seus principais ministros, como Henrique Meirelles (Fazenda) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), eram informados a cada voto. Com celular na mão, alguns anunciavam, quase aos gritos, “três a zero, três a zero”. O jantar foi bastante concorrido, com as presenças de Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Pedro Parente (Petrobrás), Candido Bracher (Itaú), entre outros. Na hora em que o desembargador Victor Laus proferiu o voto, encerrando o julgamento, foi um sem parar de toques de celular. Já em Zurique, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a decisão “não contaminará” a economia.

Esvaziado

Durante o fórum, Temer teve aplausos mornos do público formado por autoridades, executivos e empresários. No início, apenas um terço do local estava ocupado. Mais tarde, chegou à metade da ocupação.

Reações

“Os meus detratores estão na cadeia e quem não está na cadeia está desmoralizado. Foram desmascarados pelos fatos.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA