O globo, n. 30775, 09/11/2017. País, p. 4

 

Responsável por indicar diretor, Torquato diz que Temer fez escolha

Jailton de Carvalho

09/11/2017

 

 

Ministro, que preferia outro nome, sai enfraquecido com indicação

-BRASÍLIA- Preterido na indicação do novo diretor da Polícia Federal, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, emitiu nota no início da noite de ontem para frisar que a escolha de Fernando Segóvia para o cargo foi do presidente Michel Temer. Em geral, diretores da Polícia Federal são indicados pelo ministro da Justiça e, depois, avalizados pelo presidente. Até recentemente, Torquato trabalhava pela permanência do atual diretor Leandro Daiello, com quem mantém bom relacionamento, ou pela indicação do vice-diretor Rogério Galoro.

“O Ministério da Justiça e Segurança Pública comunica que o senhor presidente da República escolheu nomear o delegado Fernando Segóvia como novo diretor-geral do Departamento de Polícia Federal”, diz a nota divulgada por ordem do ministro. No mesmo texto, Torquato “expressa ao delegado Leandro Daiello seu agradecimento pessoal e institucional pela competente e admirável administração da Polícia Federal durante os últimos seis anos e dez meses”.

PRESSÃO AUMENTOU COM TEMER

A troca de comando na Polícia Federal vinha sendo ensaiada desde o início do segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A pressão pela substituição do atual diretor aumentou com a chegada de Temer à Presidência da República. Desde então, Segóvia, adido da PF na África do Sul, aparecia sempre como um dos nomes mais cotados para assumir o cargo. Depois de várias disputas internas no alto escalão do PMDB, confirmou-se o favoritismo do delegado.

A decisão final coube a Temer, que chamou para si a responsabilidade pela indicação. Segundo uma fonte que acompanha o caso de perto, diante das tratativas de Torquato em defesa de Daiello e Galoro, Temer fez chegar ao ministro o recado de que a escolha do novo diretor-geral da PF seria dele e de mais nenhuma outra autoridade. Discretamente, então, o ministro abriu espaço para a indicação de Segóvia, um delegado respeitado dentro da instituição e com bom trânsito no Congresso.

No final de outubro, o ministro da Justiça, a quem a Polícia Federal está subordinada, disse que o governo do Rio de Janeiro não controla a Polícia Militar, e que o comando da corporação está associado ao crime organizado. As críticas, consideradas fortes e generalistas e ainda por cima a um governo do PMDB, partido de Temer, desagradaram ao presidente, que pediu ao ministro que cessasse as declarações públicas sobre o assunto. Depois desse episódio, Torquato perdeu força na indicação do novo diretor-geral da PF.

CONTRA A RESERVA DE CARGOS

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef ) apoiou a indicação de Segóvia, ressaltando ser contra a reserva de cargos de comando para delegados. “Entre os nomes cotados pelo Executivo, Segóvia é o que demonstra mais condições de assumir os trabalhos do órgão nos próximos anos”, diz nota da entidade.

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) desejou em nota “sorte e sucesso” a Segóvia, mas ressalvou que defende a escolha do diretor-geral por meio de lista tríplice formada a partir dos votos dos delegados de carreira. (Com G1)

TUDO SOBRE AS FASES DA OPERAÇÃO LAVA-JATO

Os detalhes da operação que sacudiu a política no país nos últimos três anos glo.bo/2Auc585

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Delegados da Lava-Jato em Curitiba foram surpreendidos

09/11/2017

 

 

SÃO PAULO — A troca no comando da Polícia Federal pegou de surpresa os delegados da antiga força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Muitos ficaram sabendo da mudança pela imprensa, mas o fato é que a saída de Leandro Daiello e sua substituição por Fernando Sergóvia, mais alinhado ao grupo político do presidente Michel Temer, já era esperada desde o fim de 2016, quando a PF passou a reduzir verba para a investigação, e o número de delegados à disposição das investigações da Lava-Jato caiu de nove para quatro.

Em julho passado, a PF dissolveu a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, e as investigações foram incorporadas pela Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor).

Na avaliação de um delegado ouvido pelo GLOBO, que não quis se identificar, as principais mudanças ocorrerão mesmo nas equipes que atuam diretamente na sede do órgão, embora não estejam descartadas alterações nos estados. Apesar da ligação política, Fernando Segóvia é bem-visto pela equipe por sua atuação na primeira Lei do Desarmamento, considerada positiva.

Sergóvia era o candidato defendido por políticos para ocupar o posto de Daiello, que está no cargo desde 2011, o primeiro ano de governo de Dilma Rousseff. Entre os políticos que lideraram a campanha para Segóvia estão o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), ambos delatados na Operação Lava-Jato. Durante a campanha, o delegado também recebeu o apoio do subchefe de assuntos jurídicos da pasta, e um dos principais conselheiros do presidente, Gustavo Rocha.

O candidato apoiado por Daiello era é diretor-executivo da corporação Rogério Galloro. O nome dele chegou até a mesa do presidente Temer, mas enfrentou forte resistência da classe política que apoiava Segóvia.