O globo, n. 30775, 09/11/2017. Economia, p. 19

 

Para especialistas, qualquer mudança é melhor que nada

Diane Costa e Rennan Setti

09/11/2017

 

 

RIO - As declarações do relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia, de que o projeto "voltou a caminhar" animou os mercados no fim do pregão desta quarta-feira. Ao comentar pontos que estão sendo avaliados no projeto, especialistas ressaltam que, pelo fato de a idade mínima buscar resolver uma questão estrutural — o envelhecimento da população —, é melhor passar essa mudança do que deixar toda a reforma para o próximo governo.

Segundo José Márcio Camargo, economista da PUC-Rio, estabelecer a idade mínima, com uma regra de transição rápida, permitiria uma economia de R$ 9,5 bilhões ao ano.

— Qualquer reforma é melhor do que nada. E a idade mínima é muito importante, por ser uma mudança estrutural.

Para os especialistas, a dificuldade em se fazer uma reforma maior, já enfrentada por governos anteriores, deve-se ao fato de ser uma agenda impopular.

— Mesmo assim, a cada ciclo de oito anos temos uma reforma. O Fernando Henrique veio com o fator previdenciário, o Lula, com a mudança para os servidores, e a Dilma, com mudanças nas pensões. Com qualquer mudança que passar agora, você volta para um círculo virtuoso e diminui o trabalho para o próximo (governo) — ponderou Pedro Schneider, economista do Banco Itaú.

Apesar de discordar um pouco do peso do fator idade mínima na economia prevista com a reforma, Leonardo Rolim, consultor de Orçamento da Câmara dos Deputados, também considera essa mudança, mesmo que sozinha, importante. Segundo Rolim, as distorções com relação à aposentadoria de servidores públicos e pensões têm mais peso do que a idade mínima no reequilíbrio das contas públicas.

— Em todos os governos, acho que a dificuldade maior em se aprovar uma reforma mais completa está no fato do desconhecimento da população acerca do problema demográfico e do fiscal. Nosso sistema previdenciário, se por um lado protege, por outro perpetua o privilégio e transfere renda dos mais pobres para os mais ricos. São grupos que têm maior poder de comunicação e acabam sempre convencendo os demais de que uma reforma não é necessária. Sempre acabam levando os governos a enfraquecerem suas propostas — afirmou Rolim.

‘MERCADO VIVE DE EXPECTATIVAS’

Na terça-feira, a Bolsa caiu 2,55%, refletindo sinalização do presidente Michel Temer, na véspera, de que a reforma poderia não ser aprovada. Mas na própria terça-feira Temer divulgou vídeo nas redes sociais afirmando que usaria “toda a sua energia” para passar as mudanças na Previdência. O pregão abriu ontem já em alta, ganhando força no fim do dia com as declarações de Maia. No mercado de câmbio, o dólar comercial recuou 0,39%, a R$ 3,264.

— Não acho que nada tenha mudado fundamentalmente. Mas como o mercado vive de expectativas, é verdade que criou-se um clima um pouco mais positivo — afirmou Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.