O Estado de São Paulo, n. 45374, 09/01/2018. Política, p. A4.

 

Maia trabalha para minar candidatura de Meirelles

Igor Gadelha

09/01/2018

 

 

Eleições. Cotado pelo DEM para ser candidato ao Planalto, presidente da Câmara atua para atrapalhar movimentação de ministro da Fazenda na disputa pela Presidência

 

 

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atua para minar a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), ao Palácio do Planalto. Aposta de seu partido para disputar a Presidência da República, o parlamentar fluminense, antes alinhado com o chefe da economia do governo Michel Temer, agora busca distinguir o seu perfil e o de Meirelles.

A movimentação ocorre em meio à crescente “agenda eleitoral” do titular da Fazenda – na sexta-feira, Meirelles participou de evento evangélico em Brasília, por exemplo. Aliados de Maia e integrantes do próprio governo passaram a intensificar ataques ao ministro. “Em vez de falar em eleições, ele deveria estar centrado na estratégia para aprovar a reforma da Previdência”, disse o deputado Pauderney Avelino (AM), secretário-geral do DEM.

O ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, afirmou em entrevista ao Estadão/Broadcast que Meirelles, para ser candidato ao Planalto, “tem de trabalhar” e disse que a porta está “aberta” para o PSDB (mais informações nesta página).

Maia, Meirelles e o governador tucano Geraldo Alckmin tentam se apresentar como a candidatura de centro e sonham com o apoio dos partidos da base governista. Temer, para aglutinar essas forças em torno de um nome, tem exigido a defesa de seu legado econômico.

Apesar de Maia buscar a desestabilização da candidatura de Meirelles, seus aliados dizem que o presidente da Câmara vê hoje Alckmin como principal concorrente ao Planalto. A avaliação é de que o ministro da Fazenda não conseguirá concorrer, entre outros motivos porque não terá apoio nem mesmo de seu próprio partido.

Enquanto a decisão sobre a candidatura de Meirelles fica para abril, como o próprio ministro já afirmou, a estratégia dos aliados de Maia é desgastar o titular da Fazenda. Como ambos defendem a reforma da Previdência, o presidente da Câmara se colocará como “defensor radical” da agenda reformista. Ao mesmo tempo, deixará o “desgaste” com parlamentares para Meirelles.

Aliados de Maia são diretos nesse trabalho: “Meirelles tem de cumprir a tarefa dele no Ministério da Fazenda. Não pode confundir.

Na hora que mistura política partidária e política econômica, uma delas sai prejudicada”, afirmou Danilo Forte (DEM-CE). “Como ele quer ter uma política fiscal eficiente e fazer parte do balcão de negócios da política? Em lugar nenhum do mundo isso combinou”, disse.

Um exemplo desses atritos lançados para Meirelles é o veto de Temer ao projeto que criou um programa de parcelamento de dívidas tributárias, conhecido como Refis, para micro e pequenas empresas. Maia fez questão de não emitir opinião sobre o assunto e deixou claro aos parlamentares que o presidente derrubou a medida por orientação da equipe econômica.

Na semana passada, Maia e Meirelles entraram em choque em meio à articulação para mudar a chamada “regra de ouro”, que impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes, como conta de luz e salário de servidores.

‘Juntos’. Meirelles minimizou as informações de que Maia tente inviabilizar sua potencial candidatura. “Ele foi muito importante para a aprovação da PEC do Teto de Gastos e da reforma trabalhista. Estamos trabalhando juntos no objetivo principal que é aprovar a reforma da Previdência e depois manter a agenda de reformas”, disse Meirelles./ COLABOROU ADRIANA FERNANDES

Previdência

“Em vez de falar em eleições, ele (Henrique Meirelles) deveria estar centrado na estratégia para aprovar a reforma da Previdência.”

Pauderney Avelino

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‘Estamos de portas abertas para o PSDB’, diz Moreira

Carla Araújo / Adriana Fernandes

09/01/2018

 

 

ENTREVISTA - Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência

 

Como o senhor vê a candidatura do governador tucano Geraldo Alckmin?

Eu não sou do PSDB. Eu sou do MDB.

 

O senhor falou que o PSDB pode vir um a ser um aliado?

Nós estamos de portas abertas para o PSDB ou para quem quiser, mas as regras são essas, tem de ter toda uma visão de Brasil, um compromisso.

 

O ministro Henrique Meirelles vai ganhar o apoio do governo caso seja candidato?

A eleição não está em primeiro plano. O primeiro plano é a Previdência. Temos a convicção de que, se aprovada, o debate eleitoral vai se dar em torno do que vai ocorrer com o futuro da economia.

 

O governo quer um candidato que defenda o seu legado...

O fato de se ter candidato não é um fato estranho, não é um fato espetacular. A decisão de ser candidato é uma decisão individual.

 

Os partidos da base já iniciaram as conversas em busca de um candidato único em um encontro em Brasília.

Conversa é uma coisa que demora. Acreditamos que é absolutamente possível termos um candidato da base apoiado pelos partidos da base. Nesta reunião estavam MDB, PR, PSD, PP, PRB, PTB e DEM.

 

Esses partidos têm hoje três nomes: Meirelles, Rodrigo Maia e o presidente Temer.

Não estamos cuidando de nome, porque temos que primeiro fortalecer essa relação, definir os objetivos programáticos. Esse candidato não pode ser imposto. Ninguém vai tirar do bolso do colete um candidato. O Meirelles quer ser candidato, (mas) ele tem de trabalhar... Esse candidato terá de exercitar a capacidade de liderança política, de aglutinação, de envolvimento, tem de ter charme, tem de ter capacidade de falar com os partidos e, consequentemente, falar com a sociedade.