O globo, n.30798 , 02/12/2017. ECONOMIA, p.17

PIB INDICA RECUPERAÇÃO CONSISTENTE

MARCELLO CORRÊA

DAIANE COSTA

RENNAN SETTI

BÁRBARA NASCIMENTO

 

 

Mesmo sem agropecuária, que puxou 1º semestre, crescimento segue tendência de aceleração

O crescimento de apenas 0,1% parece indicar o contrário, mas a economia brasileira ganhou fôlego no terceiro trimestre, e o país consolidou o processo de retomada. O número resume o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) frente os três meses anteriores, porém mascara dados positivos: o investimento voltou a crescer após 15 trimestres, o consumo se manteve em alta, impulsionando o comércio, e a indústria está no azul. Para analistas, o cenário é positivo, embora a economia só deva se recuperar completamente da recessão em 2019. Nas contas da economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), uma forma de expressar melhor o pulso da economia é calcular a variação do PIB sem incluir a agropecuária na conta. O setor, que responde por 5,7% da atividade econômica, foi o motor do primeiro trimestre, com alta de 12,9%, e ajudou a frear o resultado do terceiro trimestre, com retração de 3%. O resultado do cálculo mostra que, sem esse efeito que acaba distorcendo os resultados, o PIB vai bem. Cresceu 0,4% no primeiro trimestre, 0,5% no segundo e, agora, 1,2% no terceiro trimestre — em uma tendência clara de aceleração. — O PIB está ótimo. O dado agregado engana bastante. Da mesma forma que tivemos um falso positivo (no primeiro trimestre), temos um “falso 0,1%” no terceiro trimestre. É um número bem positivo, tanto que indústria e serviços cresceram fortemente no trimestre. Pelo lado da demanda, foi muito espalhado. E, finalmente, vimos investimento crescendo depois de anos de contração — destaca Silvia Matos. A perda de fôlego da agropecuária era esperada, já que o efeito da safra recorde ficou concentrado na primeira metade do ano. Mas a leitura de que o PIB se manteve no azul mesmo sem o impulso do campo indica cenário positivo. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, concorda com essa avaliação. Segundo ele, o chamado índice de difusão — percentual de segmentos do PIB com resultados positivos — chegou a cerca de 80%, patamar semelhante aos registrados antes da crise. “Esse conjunto de dados favoráveis permite se fazer uma leitura de um PIB mais diversificado também. Se antes havia certo receio de concentração na agropecuária ou nos efeitos do FGTS no consumo, essa percepção se perde agora. A agropecuária veio pior no trimestre, mas os dados do resto da economia sustentaram a recuperação no trimestre”, escreveu o economista, em relatório.

CONSTRUÇÃO TRAVA INVESTIMENTO

O principal destaque, na comparação com o segundo trimestre, foi a alta de 1,6% dos investimentos — a primeira em 15 trimestres. Já o consumo das famílias, que responde por 64% do PIB pelo lado da demanda, registrou crescimento de 1,2%, repetindo desempenho da divulgação anterior. Foi a primeira vez desde 2013 que esses dois indicadores cresceram ao mesmo tempo. Para economistas, o dado mostra que o consumo deve ser mesmo o motor da retomada da economia, beneficiado por fatores como recuperação do mercado de trabalho, inflação baixa e juros menores. Mas a trajetória dos investimentos deve ser de altos e baixos, principalmente por causa das incertezas em relação à economia e às necessidades de ajuste fiscal. Responsável por 60% dos investimentos, a construção civil ainda vai mal: ficou zerada na comparação com o segundo trimestre e recuou 4,7% em relação ao terceiro trimestre de 2016. — No próximo ano, provavelmente, vamos ter algum crescimento de investimento, mas bem distante de repor o que perdemos. Vamos ter melhora lenta e gradual, mas não vai ser um crescimento muito forte, até porque estamos com nível de utilização da capacidade bastante baixo. O principal driver deve continuar sendo o consumo das famílias — afirma Thais Zara, economistachefe da Rosenberg Associados. O resultado veio abaixo da alta de 0,3% esperada pelo mercado, principalmente por causa das revisões que o IBGE tradicionalmente faz nessa época do ano. O crescimento do primeiro trimestre, anteriormente estimado em 1%, foi recalculado para avanço de 1,3%. Já a expansão de 0,2% do segundo trimestre foi revista para cima, 0,7%. Para 2018, as incertezas com as eleições de 2018 também estão no radar, assim como o futuro da reforma da Previdência. O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, avalia que esse efeito deve ser mais sentido no segundo semestre, com impactos para 2019. — A volatilidade das eleições vai ser mais marcante no segundo semestre do que no primeiro. E, para construção do índice, o primeiro semestre é muito mais importante do que o segundo semestre. Com isso, uma campanha tão acirrada desse jeito vai influenciar mais 2019 do que 2018 — afirma.

MEIRELLES: TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO

Em sua conta no Twitter, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que a alta de 0,1% do PIB no terceiro trimestre pode parecer pequena, mas é forte se analisada por setores. E afirmou que o crescimento da economia no acumulado do ano até setembro, de 0,6%, já “supera a previsão inicial dos economistas para 2017”. — Isso mostra que o Brasil segue uma trajetória de crescimento — disse ele na rede social. Nas contas de Meirelles, sem a agricultura, o PIB no trimestre teria crescido 1,1%. Também destacou o desempenho da indústria entre julho 0,1% e setembro, quando a produção das fábricas cresceu 0,8% e as empresas de transformação, 1,4%. Já o presidente Michel Temer gravou um vídeo lembrando que o primeiro resultado positivo em mais de três anos mostra que o país está recuperando investimentos. Segundo Temer, quando os empresários investem, a economia aquece e surgem os empregos: — Vamos fechar 2017 no positivo, deixando para trás a recessão. É uma grande vitória. Outra boa notícia é que o IBGE anunciou que o desemprego segue caindo. Pelo terceiro trimestre consecutivo, temos bons resultados no mercado de trabalho — afirmou. Temer enfatizou que, de agosto a outubro, mais de 868 mil pessoas conseguiram um emprego, e o valor dos salários está, em média, 4,6% mais alto do que no ano passado: — A realidade é esta: nossa economia cresce, a inflação e os juros caem, incentivando a produção e o consumo. E tudo isso ocorre exata e precisamente porque tivemos coragem de fazer as reformas necessárias. Produzimos mais mudanças do que qualquer governo do passado recente. Estamos transformando o Brasil.