Título: Disputa no BB vai a Lula
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2012, Economia, p. 12

Dilma Rousseff altera agenda e se encontra com o ex-presidente em São Paulo para tratar de crise envolvendo dirigentes da instituição e da Previ, que têm apoio de parlamentares do PT e do PMDB » DENISE ROTHENBURG

Apesar da ordem dada pela presidente Dilma Rousseff aos dirigentes do Banco do Brasil e do fundo de pensão Previ para que parem de brigar em público, o governo passou o dia de ontem apagando chamas do incêndio que assolou Brasília nos últimos dias. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tratava de amenizar a crise, afirmando, em entrevista, que ela é feita de "fofocas", Dilma Rousseff alterava sua agenda e viajava a São Paulo no início da tarde de ontem. Ela foi se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se recupera de um câncer na laringe.

O motivo do encontro, que durou três horas no apartamento de Lula em São Bernardo, não foi revelado oficialmente, mas assessores palacianos contaram que os dois conversaram sobre a disputa por cargos na direção no BB e da Previ, o maior fundo de pensão da América Latina, que pertence aos funcionários do banco, além das negociações de alianças partidárias para a eleição municipal de São Paulo. A reunião, que não constava da agenda de Dilma, foi justificada oficialmente como de cortesia ao seu padrinho Lula, após a conclusão da radioterapia a que ele se submeteu. A presidente retorna hoje à capital federal.

Embora tenha decidido não tomar nenhuma medida precipitada até a apuração dos responsáveis pelo vazamento de informações sigilosas, Dilma não descartou demissões dos que estão fomentando a disputa e a troca de nomes nas duas instituições. Mas a presidente precisa pavimentar o terreno para promover as mudanças, pois os dois grupos que estão brigando contam com forte apoio entre parlamentares petistas, principalmente de São Paulo.

Vínculos De um lado, está o presidente do BB, Aldemir Bendine, que tem o apoio do ministro Mantega e de alguns caciques petistas paulistas, como o deputado federal Ricardo Berzoini. Do outro, o presidente da Previ, Ricardo Flores, também com respaldo de parlamentares do PT de São Paulo e do PMDB.

Uma terceiro dirigente aparece na crise, como o suposto autor do vazamento dos dados bancários do ex-vice-presidente do BB, Allan Toledo, que é do grupo de Flores. Trata-se do vice-presidente de Novos Negócios do BB, Ricardo Oliveira, que é ligado a Bendine e tem vínculos com o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O governo quer estancar a crise até pelo o dia 13, data prevista para o depoimento do ministro Mantega no Congresso, convocado, inicialmente, para explicar as razões da demissão do então presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci.

Caciques do PT paulista foram chamados a Brasília esta semana para ajudar a resolver a crise. A intenção é tentar preservar Ricardo Flores, da Previ. Para isso, o partido recorreu até mesmo ao PMDB de Michel Temer. Antes de assumir a Previ, Flores ocupou cargos importantes no Banco do Brasil sob as bênçãos do PMDB do presidente do Senado, José Sarney.

Guido Mantega minimizou os desentendimentos entre Aldemir Bendine e Ricardo Flores, mas demonstrou preocupação com a possibilidade de que as notícias sobre desavenças afetem o desempenho das duas instituições. "A crise no Banco do Brasil é uma crise de fofoca. Não há desentendimentos, mas fica uma questão difícil de identificar, porque ninguém assume a responsabilidade pela fofoca", afirmou.

Mantega ressaltou que a briga tem que acabar. "Em algum momento, isso pode prejudicar a atuação das duas instituições. Não prejudicou até agora, mas o governo quer que isso acabe", disse.