O Estado de São Paulo, n. 45368, 03/01/2018. Política, p. A4.
Por Sarney, Temer muda indicação para o Trabalho
Felipe Frazão
03/01/2018
O presidente Michel Temer desistiu ontem de nomear o deputado federal Pedro Fernandes (PTB-MA) ministro do Trabalho. De acordo com o ex-deputado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, a decisão do Palácio do Planalto foi tomada após o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) não referendar o nome de Fernandes, aliado do governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B). O deputado havia sido indicado por seu partido para ocupar o lugar de Ronaldo Nogueira (PTB-RS). Temer pediu a Jefferson uma nova indicação do PTB, que manterá o controle da pasta, mas os dirigentes da sigla ainda não decidiram oficialmente.
“O Palácio me avisou que tinha subido no telhado a nomeação do Pedro Fernandes, me ligou pedindo que pensássemos um novo nome por causa do problema de relação do Fernandes com o Sarney”, disse Jefferson ao Estado. “O presidente Sarney não concorda com o nome. Ele queria conversar, mas o Fernandes não quis conversar com o presidente Sarney sobre o Maranhão. Então, deu problema.”
O Estado pediu uma entrevista ao ex-presidente para comentar as declarações de Jefferson, mas Sarney não atendeu as requisições. Em nota, por meio da assessoria, o ex-presidente disse apenas que “não foi consultado e não vetou o deputado Pedro Fernandes”. Procurada, a Secretaria de Comunicação do Planalto informou que não comentaria o caso.
Presidente de honra do PMDB, Sarney continua sendo um cacique influente no partido e no governo Temer. Ainda no governo da petista Dilma Rousseff, ele deu aval às costuras pelo impeachment da presidente cassada, depois emplacou Sarney Filho (PV) como ministro do Meio Ambiente e mantém aliados nas estatais Eletrobrás, Chesf e Eletronorte. Também é apontado como um dos peemedebistas que deram aval à nomeação do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, que antes foi superintendente do órgão no Maranhão. Tanto Segovia como Sarney negam a indicação.
Na maior crise do governo Temer, provocada pela delação dos irmãos Batista, da JBS, Sarney aconselhou o presidente pessoalmente. Desde que Temer assumiu a Presidência, ambos tiveram dez audiências oficiais nos palácios do Planalto e do Jaburu. Sarney possui influência nas bancadas no Senado e na Câmara, além de grupos políticos organizados no Maranhão, onde tentará reerguer seu clã nas eleições deste ano, e no Amapá, com apoio ao governo Waldez Góes (PDT).
A decisão de Temer provocou insatisfação na bancada da Câmara. “Estou esperando o governo me comunicar, porque sou líder da bancada. Liguei para o (Eliseu) Padilha (ministro da Casa Civil) e ele disse que não sabia de nada. Se Pedro Fernandes desistir por conta dele, tudo bem. Agora, por veto de alguém de outro partido eu não acho correto. Já fiquei incomodado com outras nomeações e não falei nada por questão ética”, disse o líder do partido, deputado Jovair Arantes (PTB-GO).
Nos bastidores, a disputa eleitoral no Maranhão foi apontada como o motivo para a insatisfação de Sarney com a indicação. Na semana passada, Temer teria acertado com a cúpula do PTB até a data da posse do deputado no ministério – seria amanhã. O ex-presidente controla o PMDB no Maranhão e viu na indicação de Fernandes uma forma de fortalecer politicamente um adversário histórico, o governador Flávio Dino (PC do B). O PTB é base do governo Dino e o filho de Fernandes, Pedro Lucas Fernandes, é secretário estadual. Em 2014, o comunista venceu a família Sarney, após meio século de aliados do ex-presidente no poder. Dino disputará a reeleição tendo como potencial adversária a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), filha do ex-presidente.
Ex-aliado. O deputado Fernandes já foi aliado da família Sarney e ocupou os cargos de secretário estadual das Cidades e Desenvolvimento Urbano e da Educação no governo Roseana. O PTB permaneceu coligado em 2014, em apoio à candidatura situacionista de Lobão Filho (PMDB), herdeiro político do senador Edison Lobão (PMDB), e aliado dos Sarney. Com a derrota, Pedro Fernandes levou o PTB a aderir ao governo Dino. O Estado não conseguiu contato com o deputado ontem. Agora, o PTB estuda indicar para a vaga um dos dois parlamentares que não têm intenção de disputar a reeleição. Os cotados são os deputados Sérgio Moraes (RS) e o pastor Josué Bengston (PA). Moraes ficou conhecido em 2009 por ter dito que estava “se lixando para a opinião pública” ao defender um colega no Conselho de Ética da Câmara.
A INFLUÊNCIA DO EX-PRESIDENTE
‘Acalmar o PMDB’
Em meio à votação no Senado do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, Temer pede, em maio de 2016, ajuda a Sarney para “acalmar o PMDB”. Na época, a bancada de senadores do partido sentia-se desprestigiada no desenho do Ministério do novo governo. Temer assume definitivamente a Presidência em agosto daquele ano.
Apoio ao presidente
Em maio de 2017, após a divulgação dos áudios da JBS e da primeira denúncia contra Temer, Sarney visitou o presidente no Palácio do Jaburu em uma noite de sábado. A aliados, Sarney, na época, disse que Temer não renunciaria. O presidente conseguiu, na Câmara, barrar as duas denúncias contra ele.
Indicação no comando da PF
Sarney foi ouvido na escolha do novo diretor da PF, Fernando Segovia (foto), que assumiu o posto em novembro. Segovia havia sido superintendente da PF no Maranhão, Estado natal do ex-presidente.
‘Problema de relação’
“O Palácio (do Planalto) me avisou que tinha subido no telhado a nomeação do Pedro Fernandes, me ligou pedindo que pensássemos um novo nome por causa do problema de relação do Fernandes com o Sarney. (...) O presidente Sarney não concorda com o nome.”
Roberto Jefferson
PRESIDENTE DO PTB
“(Sarney) não foi consultado e não vetou o deputado Pedro Fernandes.”
NOTA DO EX-PRESIDENTE JOSÉ SARNEY
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Carla Araújo
O presidente Michel Temer passará por avaliações médicas diárias e terá de fazer uma dilatação semanal do canal da uretra para evitar novas obstruções. Temer passou o dia no Palácio Jaburu recebendo ministros e aliados. Depois de alguns dias de desconforto e com febre, o presidente retirou a sonda que estava usando desde 13 de dezembro. Temer deixou de passar a virada do ano no Rio após ser constatado um quadro de infecção. Apesar de ser uma possibilidade médica, auxiliares dizem que até o momento o presidente ainda não tem indicação cirúrgica para eventual retirada da próstata ou até mesmo uma hemodiálise, já que uma das queixas do presidente ainda continua sendo algumas dificuldades para urinar.
Segundo a assessoria de imprensa do Planalto, ainda não há previsão de que o presidente vá para São Paulo, mas, ainda de acordo com auxiliares, é possível que Temer passe pela capital paulista para uma avaliação Hospital Sírio-Libanês, onde ele fez a cirurgia e está sendo acompanhado pelo urologista Miguel Srougi. Ainda em tratamento médico, o presidente tenta aos poucos retomar a rotina de trabalho. Ontem, Temer caminhou cedo pelos jardins da residência oficial e recebeu ministros para tratar dos temas de governo. O presidente também despachou com a área jurídica algumas medidas como a sanção da Lei Orçamentária Anual (LOA), que será publicada hoje no Diário Oficial da União. Ele prometeu a auxiliares que hoje já retoma os despachos no Palácio do Planalto.
Ritmo acelerado. Apesar de comum para um paciente de 77 anos, o problema urológico do presidente foi agravado por desobediência médica, ressaltam auxiliares. Temer, que deveria manter um período de descanso, retomou a agenda intensa logo depois da cirurgia e apesar de restrições médicas para viagens. Em viagem pelo Rio, em dezembro, ele relatou desconforto com a sonda. Após novos exames, ficou constado o quatro de infecção.