O globo, n. 30792, 26/11/2017. País, p. 9
Na semana em que os olhos da população ficaram voltados para a Cadeia Pública de Benfica, na Zona Norte do Rio, para onde foram levados os políticos que, por duas décadas, estiveram à frente do poder no Rio, incluindo três ex-governadores e o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), um levantamento inédito da 7ª Vara Criminal Federal revela que a cadeia não tem sido o destino final da maioria dos envolvidos em suspeitas de corrupção no estado. Os dados, obtidos pelo GLOBO, mostram que 69% dos réus da Lava-Jato do Rio estão fora da prisão: 27 foram soltos, oito cumprem prisão domiciliar e 14, recolhimento noturno. São 23 os que estão de fato atrás das grades. Ao todo, 74 pessoas respondem a processos na primeira instância da Justiça Federal do Rio. A relação não incluiu os presos da Operação Cadeia Velha. Os deputados estaduais Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo acabaram em Benfica por decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Os números da 7ª Vara reforçam o desabafo do procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava-Jato no Rio. Na semana passada, ele rebateu críticas feitas ao Ministério Público Federal e à Justiça por juristas de que há um abuso das prisões preventivas nos últimos anos, notadamente nos processos da operação. Segundo o procurador, não há abuso de prisões preventivas. O professor Thiago Bottino, da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGVRio), concorda com a análise: — Na minha opinião, 31% de prisões na Lava-Jato do Rio não é um número absurdo. Se fossem 80%, aí sim haveria alguma coisa errada, mas o número demonstra que a prisão preventiva não é a regra para o desenvolvimento da Lava-Jato no Rio. A operação no Rio tem um único réu foragido: o empresário Arthur César Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Bruno Rosa
26/11/2017
Único ex-governador eleito do Rio que não está preso, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) classificou como “ruins” as prisões dos três últimos ex-governadores do estado. Ele, que chefiou o Executivo fluminense de 1987 a 1991, destacou, no entanto, que as detenções podem fortalecer a transparência na gestão pública. Na última semana, foram presos Anthony Garotinho e Rosinha Matheus sob a acusação de terem cometido crimes eleitorais. Já Sérgio Cabral está preso desde novembro de 2016, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. — É ruim (ter ex-governadores presos). De qualquer forma, é uma iniciativa do processo de investigação. Tenho certeza que com o apoio dos advogados que têm vão esclarecer o que tem de ser esclarecido. E espero que isso fortaleça não só o Poder Judiciário brasileiro como a necessidade de termos mais transparência e força para enfrentar as dificuldades sociais e econômicas que angustiam não só o carioca, mas todo o povo fluminense — disse Moreira, que participou de solenidade de conclusão da dragagem do Porto do Rio. Moreira foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, junto com o presidente Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), por organização criminosa e obstrução da Justiça. Eles foram acusados de integrar o “quadrilhão” do PMDB da Câmara. A denúncia, porém, foi rejeitada pela Câmara. Assim, eles só poderão ser investigados quando deixarem os cargos. O episódio envolvendo a suposta atuação de Moreira e Padilha para cobrança de propina diz respeito a concessões de aeroportos de interesse da Odebrecht. Moreira foi ministro da Secretaria de Aviação Civil entre 2013 e 2014. Foi sucedido por Padilha, que ficou no cargo até dezembro de 2015.