Título: Crise deve durar até outubro
Autor: De Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2012, Politica, p. 4

O inferno astral na relação entre o governo federal e a base aliada, antes restrita a reclamações pelos corredores da Câmara e do Senado e a entrevistas veladas em restaurantes de Brasília, começou a se materializar nas votações do Congresso Nacional. PDT e PSB rejeitaram o projeto da Fundação de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp) na Câmara. No Senado, peemedebistas patrocinaram a derrubada da recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A sete meses das eleições municipais, analistas palacianos preveem tempos sombrios para o Executivo Federal, já que existem projetos-chave para o governo, como o Código Florestal, em discussão no Parlamento.

Um integrante do governo, especialista em disputas eleitorais vaticina: "A temperatura vai aumentar até junho, quando as pré-candidaturas serão definidas nas convenções partidárias. Até lá, podemos esperar mais chumbo grosso". O resultado das eleições pode trazer dias ainda mais amargos: com uma base tão heterogênea e repleta de aliados disputando os mesmos votos entre si, a tendência é que uma leva de ressentidos retorne a Brasília após outubro, desfilando seus queixumes no Parlamento.

Um dos partidos que o Planalto passou a acompanhar com lupa foi o PSB. A legenda presidida pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem exibido um comportamento bipolar: jura fidelidade ao governo federal mas deixa a porta aberta para conversas com a oposição. No caso de São Paulo, por exemplo, Campos havia prometido apoio a Haddad. Seguiu os conselhos de amigos tucanos de alta plumagem para que adotasse a cautela e esperasse mais um pouco. Resultado: adiou a resposta para junho. A pressão, será intensa. O partido precisa de apoio dos tucanos, por exemplo, para reeleger o atual prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, filiado ao PSB.

Outros partidos também estão no limiar dos conceitos de governo e oposição. O PR negocia a retomada do Ministérios dos Transportes. Se não der certo, além de deixar de votar com o Executivo Federal no Congresso, ameaça lançar o ex-senador e ex-governador da Bahia César Borges como candidato a prefeito de Salvador. Além disso, negocia a indicação para vice na chapa de Márcio Lacerda, em Belo Horizonte, desalojando o PT da chapa.

O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pré-candidato do PDT à prefeitura de São Paulo, dá o tom da debandada. "O PT só quer parceiro para carregar a escada e colar cartaz. Na hora de dividir o governo, some. A cada pancada que derem aqui em Brasília eles vão tomar outras pelo Brasil", disse Paulinho. O PDT tem candidatos próprios com chances de eleição em Manaus, Paraná, Alagoas, Natal e Curitiba.

Riscos para o governoPartidos em observação

» PDT: é aliado do PSDB em grandes estados, como Minas Gerais e São Paulo. Já acertou o apoio à reeleição de Geraldo Alckmin, embora tente retomar o Ministério do Trabalho

» PSB: Faz um discurso nacional ambíguo em relação aos argumentos municipais. Promete apoiar o petista Fernando Haddad em São Paulo, mas pode ceder às pressões em troca de apoio à reeleição dos prefeitos do partido em Curitiba e Belo Horizonte

» PR: Quer a vaga de vice na chapa de Márcio Lacerda em Belo Horizonte, desbancando o PT. Se não conseguir retomar o Ministério dos Transportes, ameaça lançar candidato próprio à prefeitura de Salvador.

» PMDB: Insiste na candidatura própria para o governo de São Paulo, embora o PT nacional tenha enquadrado o diretório municipal do PT do Rio para apoiar a reeleição do peemedebista Eduardo Paes.