O Estado de São Paulo, n. 45369, 04/01/2018. Política, p.A6

 

 

 

 

Após entrevista, FHC tenta acalmar PSDB

Repercussão negativa de declarações dadas ao ‘Estado’ fez ex-presidente divulgar nota sobre candidatura de Alckmin

Por: Adriana Ferraz

 

Adriana Ferraz

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que “nada há mais distante” de sua ação e de seu pensamento que “enfraquecer a candidatura presidencial do PSDB”. A declaração foi feita após a repercussão negativa, entre os tucanos, da entrevista concedida por FHC ao Estado. Nela, o ex-presidente defende o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas avalia que o PSDB pode apoiar outro nome caso ele não cumpra a tarefa de unir as forças políticas de centro. Alckmin, por sua vez, minimizou o impacto das declarações de FHC em seus planos de disputar o Palácio do Planalto. A interlocutores, disse que o expresidente está certo ao defender a união do centro, já que o Brasil precisaria disso. Mas ressaltou que o PSDB tem de ser protagonista no processo. “Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos (do PSDB), tem que apoiar essa pessoa”, disse FHC na entrevista publicada anteontem. Um dia depois, o tucano reafirmou, em nota enviada ao Estado,a necessidade de uma candidatura que aglutine o centro político na eleição de outubro, e disse crer que o governador paulista possa assumir esse papel. “O apelo que tenho feito visa ampliar o leque de alianças em torno dessa candidatura”, afirmou FHC, na nota. “Se ainda não fui taxativo em explicitar o nome do governador Alckmin, isso se deve exclusivamente ao fato de que o PSDB deverá indicá-lo mais à frente, dentro de calendário político adequado.” Apesar de ter sido eleito presidente nacional do partido, em dezembro, Alckmin ainda poderá ter de se submeter a prévias nacionais antes de ver seu nome confirmado como candidato da sigla à Presidência – o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, também se colocou como pré-candidato.

Desempenho. Nos bastidores do PSDB, tucanos interpretaram as declarações de FHC como um alerta a Alckmin, cuja taxa de intenção de votos tem variado de 9% a 11% nas pesquisas. Partidários de Virgílio comemoram a entrevista. Para um assessor ouvido pelo Estado, FHC deixa em aberto a disputa interna que definirá o candidato tucano. Virgílio usou as redes sociais ontem para pedir “lisura” na apuração das prévias e condições financeiras iguais na pré-campanha. As declarações do ex-presidente ainda animaram pessoas próximas ao prefeito de São Paulo, João Doria. O círculo político do prefeito avaliou a entrevista como um sinal de que o tucano não está fora do páreo para a disputa presidencial.

Para aliados do governador, no entanto, não é hora de mudar as prioridades. “Alckmin tem de cuidar de São Paulo ainda”, disse o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). “Quando chegar o momento oportuno, aí sim ele vai mostrar que sabe aglutinar e que vai despontar nas pesquisas.” Para o parlamentar paulista Silvio Torres, a candidatura de Alckmin está mais que consolidada. “Não vejo como as prévias possam mudar isso. E o que o Fernando Henrique falou já é sabido: precisamos mesmo de união, e Alckmin conseguirá isso.” Além da disputa interna, o governador vê aumentar a lista de nomes que pretendem concorrer como aglutinadores do centro, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).

Calendário

“Se ainda não fui taxativo em explicitar o nome do governador Alckmin, isso se deve exclusivamente ao fato de que o PSDB deverá indicá-lo mais à frente, dentro de calendário político adequado.”

Fernando Henrique Cardoso

EX-PRESIDENTE, EM NOTA

 

 

 

 

Ex-ministro da Justiça é citado em delação

Antes do fim do ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli homologou a colaboração premiada do primeiro delator da Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves Filho, que cumpre prisão domiciliar desde 16 dezembro em sua residência em Curitiba, no Paraná. Na delação, divulgada ontem pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estado, ele cita pagamentos em espécie de empresas do setor alimentício para o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR). A operação Carne Fraca cercou os maiores frigoríficos do País e um esquema de corrupção e indicações políticas no Ministério da Agricultura, em especial no Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Além de gente da JBS, estão na mira pessoas da gigante BRF.

O delator afirmou aos procuradores da República que empresas do setor de carnes e processados pagavam propinas que abasteciam Serraglio e outros políticos. Daniel explicou que ele mesmo entregava o dinheiro para o deputado do PMDB. O ex-ministro da Justiça, segundo Gonçalves Filho, seria um de seus “padrinhos” no cargo. Ao lado de Maria do Rocio Nascimento, ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, eles controlavam indicações de funcionários e facilitavam a atuação irregular de frigoríficos e empresas do setor alimentício. Em nota, a assessoria de Serraglio afirmou que é “absolutamente impossível ele estar falando isso”. “Jamais, em momento algum, o deputado tratou com ele sobre qualquer tipo de recursos, menos ainda de qualquer tipo de ilicitude.”/ RICARDO BRANDT, FABIO SERAPIÃO, FAUSTO MACEDO e JULIA AFFONSO