O globo, n.30801 , 05/12/2017. PAÍS, p.6

O anel que tu me destes era ‘negócio’

 MIGUEL CABALLERO

 

 

Suposto presente garantiu Delta na reforma do Maracanã

Fernando Cavendish, dono da Delta, disse à Justiça que o anel de brilhantes que deu a Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, abriu portas para a empreiteira entrar na licitação para a reforma do estádio do Maracanã. Oanel de brilhantes, de mais de R$ 800 mil, que o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, deu à ex-primeira dama Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, não foi exatamente um presente. Segundo o empreiteiro disse ontem ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, o anel foi a porta de entrada para a Delta participar da licitação fraudada da reconstrução do Maracanã. — As coisas coincidem. Em 2009, eu sabia que a Odebrecht era favorita para ganhar a licitação do Maracanã. Fui ao governador Cabral, de quem era amigo próximo, e disse que tinha interesse em participar da obra. Ele concordou com a entrada da Delta, e aí vale recordar o episódio do anel — iniciou Cavendish, que atualmente cumpre prisão domiciliar. — Três meses antes, estávamos viajando eu, minha mulher, o governador e a Adriana, que faria aniversário durante a viagem. Estávamos perto de Nice (na França), em alguma pequena cidade da costa, e ele me levou a uma joalheria, disse que iria presentear Adriana e me disse “gostaria que você pagasse”. Não me pareceu algo tão natural, o valor era representativo, de € 220 mil . Na ocasião, eu falei que a gente iria acertar aquilo depois. Deixei claro que não era um presente meu.

O empreiteiro disse que a obra foi a chance de Cabral pagar pelo anel de Adriana, caso revelado pelo GLOBO em 2016. — A obra do Maracanã, meses depois, foi a oportunidade de resolver essa contrapartida. Eu pedi, o Cabral colocou a Delta na obra (por decisão de Cabral, a Delta ficou com 30% da obra). E pediu propina de 5% da participação da Delta. Depois eu abati o valor (pago pelo anel da propina de Cabral). Este anel nunca foi um presente, como o ex-governador disse, é mentira. Não foi um presente, foi um negócio. Cavendish prestou depoimento no processo em que ele, Cabral e outros são réus por suspeita de formação de cartel e fraude nas licitações das obras do Maracanã e do PAC das Favelas.