O Estado de São Paulo, n. 45371, 06/01/2018. Política, p.A4

 

 

 

 

 

Bolsonaro vai para PSL e liberais abandonam sigla

Eleição. Deputado fluminense assina um termo de compromisso para disputar o Planalto pela legenda; Livres, grupo que reconstruía o partido, critica negociação

Por: Gilberto Amendola / José Fucs

 

 

Gilberto Amendola
José Fucs

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o presidente do PSL, o também deputado federal Luciano Bivar (PE), fecharam um acordo ontem para lançar o parlamentar fluminense à disputa do Palácio do Planalto na eleição deste ano. Após a assinatura do termo de compromisso com o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, o movimento Livres, que há quase dois anos estava na linha de frente da reconstrução do PSL, anunciou a saída da legenda – até mesmo com a adesão do próprio filho de Luciano, Sérgio Bivar. O presidente do PEN-Patriota, Adilson Barroso, que já havia apresentado Bolsonaro como seu candidato à Presidência, disse que “desfigurou o próprio partido em nome de Bolsonaro e que até agora não recebeu nenhum telefonema como sinal de consideração” (mais informações nessa página). No fim de novembro, diante de rumores de negociação com outras siglas, Bolsonaro havia assinado uma ficha de pré-filiação ao PEN-Patriota datada para março.

Ao fim da reunião de ontem, no Recife, Luciano e Bolsonaro assinaram nota conjunta na qual afirmam que o futuro do País está “no pensamento econômico liberal, sem viés ideológico, no soberano direito à propriedade privada e na valorização das Forças Armadas e da segurança”. “Existem mais semelhanças do que diferenças entre Bolsonaro e o nosso pensamento liberal. É um orgulho tê-lo ao nosso lado”, disse Luciano ao Estado. O termo, por ora, não prevê mudança do nome do partido ou alteração estatutária. O tempo de TV também não teria sido uma questão, uma vez que, como o PEN-Patriota, o PSL deverá ter menos de 20 segundos. Em vídeo divulgado no Facebook ontem, Bolsonaro disse que a parceria com o PSL é “natural e programática” e citou a simplificação e a diminuição da carga tributária como bandeiras comuns. “( Com o PSL) Não tem Fundo Partidário, não tem tempo de TV, mas tem o povo”, afirmou o presidenciável. Assim que Luciano e Bolsonaro selaram o acordo, Sérgio, diri- gente do Livres, distribuiu internamente nota para lamentar a decisão do pai e atacar Bolsonaro. “Bolsonaro é como Lula, um candidato antissistema, carismático, com ares messiânicos de justiceiro, dotado de uma visão estatista e autoritária, que surfa na demagogia”, escreveu. O dirigente levantou dúvidas sobre Bolsonaro ter se tornado, de fato, um liberal: “Ainda que ele venha sendo assessorado por liberais no campo econômico, não acho que tenha convicções sobre a matéria, o que faria seu possível governo imprevisível. Da minha parte, posso garantir que defendi a bandeira e os interesses do Livres até onde me foi permitido”. Sérgio informou sua desfiliação. Luciano, por sua vez, disse ao Estado que o filho e outros integrantes do Livres “teriam discernimento para não contrariar um projeto maior para o bem do País”. A filiação de Bolsonaro está prevista para março.

Debandada. Outros integrantes do Livres também anunciaram, em nota, a saída em massa do partido. “A chegada de Jair Bolsonaro, negociada à revelia dos nossos acordos, é incompatível com o projeto do Livres de construir no Brasil uma força partidária moderna, transparente e limpa”, escreveram. “Recusamos a reciclagem do passado. Não vamos arrendar nosso projeto à velha política de aluguel.” A partir de agora, o Livres deve seguir os passos dos chamados movimentos cívicos, como o Agora! e o Acredito, e procurar outras legendas para o lançamento de candidaturas independentes ao Legislativo. Segundo Luciano, no PSL, não houve acordo fisiológico e a entrada de Bolsonaro foi natural, “pois ele também comunga de posições liberais”. Ele também negou que tenha sido convidado para ser vice na chapa.

‘Traição’. A ida de Bolsonaro ao PSL põe fim ao cabo de guerra entre os principais conselheiros da candidatura do parlamentar. O grupo de Bolsonaro que já estava ocupando espaços na direção do PEN-Patriota defendia o cumprimento da pré-filiação. Esses conselheiros, que têm o secretário nacional do PEN-Patriota, Bernardo Santoro, como principal força, acreditam que a narrativa da “traição” pode ser associada a Bolsonaro. O outro grupo, que tem o advogado e assessor Gustavo Bebianno na linha de frente, já havia descartado a sigla por “quebra de confiança”.

Visões distintas

“Existem mais semelhanças do que diferenças entre Bolsonaro e o nosso pensamento liberal.”

Luciano Bivar

PRESIDENTE DO PSL

“Bolsonaro é dotado de uma visão estatista, que surfa na demagogia.”

Sérgio Bivar

EX-DIRIGENTE DO PSL

 

 

 

 

Presidente do PEN se diz ‘aliviado’ com decisão de deputado

Adilson Barroso afirma que relação com Bolsonaro já estava ‘envenenada’ e fala em novas candidaturas

 

O presidente do PEN-Patriota, Adilson Barroso, se disse “aliviado” com a desistência de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) de ser candidato por sua legenda. “Fiz das tripas coração para tê-lo com a gente, mudei o nome do partido, mexi no nosso estatuto, dei mais de 20 diretórios para o grupo dele. Mas você não pode ser convidado para entrar em uma casa e depois querer tomar ela inteira para você, expulsando seus moradores originais”, afirmou o dirigente. Bolsonaro disse, em vídeo divulgado ontem no Facebook, que “lamenta não ter dado certo com o Patriota”. Para ele, a parceria “acabou como um casamento que não deu certo”. O presidenciável afirmou que ele e Barroso “ainda podem estar juntos no futuro, em uma coligação”.

Segundo Barroso, o relacionamento dele com Bolsonaro teria sido “envenenado” pelo advogado Gustavo Bebianno – que, segundo Barroso, queria tomar o “partido inteiro para o grupo de Bolsonaro”. O rompimento já havia se insinuado quando deputados da legenda se rebelaram contra o que chamavam de “fome” do grupo bolsonarista. Os deputados Walney Rocha (RJ) e Junior Marreca (MA) se posicionaram contra as mudanças no estatuto – principalmente aquela que impede alianças com partidos de esquerda (Marreca é aliado do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PC do B). Barroso disse que, sem Bolsonaro, pretende convencer o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa a sair candidato.

‘Dono’. O cientista político Vitor Oliveira, do Pulso Público, afirmou que“a questão de Bolso na rotem a ver com a forma de operação dos partidos políticos no Brasil”. Para ele, o fato de os partidos terem “donos” cria dificuldades para Bolsonaro se impor como dono de uma legenda que não é dele. Para o cientista político Rogério Battistini, do Mackenzie, “Bolsonaro não está sabendo fazer o jogo político e criando dificuldades para sua candidatura”./ G.A.