Correio braziliense, n. 20058, 21/04/2018. Política, p. 2

 

Aécio no meio do furacão

Alessandra Azevedo e Rodolfo Costa

21/04/2018

 

 

Se o ritmo de acusações das últimas semanas for mantido, os últimos meses do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado serão difíceis. A situação do tucano se complicou ainda mais nos últimos dias, após ele ter se tornado réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e obstrução de Justiça, na última terça-feira. Aécio foi acusado de ter tentado interferir em investigações da Polícia Federal e de ter recebido vários repasses ilegais, inclusive uma mesada de R$ 50 mil paga pela JBS entre 2015 e 2017. Os impactos das acusações na pretensão de se candidatar a qualquer cargo eletivo este ano estão sendo avaliados por dirigentes do partido.

As acusações têm sido feitas em depoimentos à PF e até nas tribunas do Congresso Nacional. O deputado Osmar Serraglio (PP-PR), que foi ministro da Justiça entre fevereiro e maio de 2017, afirmou na terça-feira, em plenário, que Aécio tentou interferir nas investigações da Operação Lava-Jato naquele período. Segundo o parlamentar, o tucano teria se revoltado por ele, enquanto ministro, ter se recusado a “ceder às suas pressões” para que indicasse um delegado da PF “de sua preferência” para investigá-lo. Em gravações telefônicas entre Aécio e Joesley Batista, dono da JBS, o senador mineiro aparece criticando a atuação do ex-ministro. O presidente Michel Temer, nas palavras de Aécio, teria “errado de novo” ao nomeá-lo, “porque aí mexia na PF.”

As acusações de Serraglio foram desqualificadas pelo advogado de Aécio, Alberto Toron. A defesa sustenta que o senador “jamais tentou interferir na nomeação de delegados para a condução de qualquer inquérito”. “Todas as conversas que ele teve sobre o tema foram no sentido de mostrar seu inconformismo com os inquéritos abertos sem qualquer base fática, em especial, com a demora em serem concluídos, levando a um inevitável desgaste”, disse, em nota.

Repasses

Além da acusação do ex-ministro, Joesley afirmou, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), que pagou uma mesada de R$ 50 mil ao senador entre 2015 e 2017. O grupo também teria repassado R$ 110 milhões em troca de uma futura atuação em favor da empresa, segundo depoimento prestado pelo empresário à PF, na última quinta-feira.

Para a defesa do senador, "trata-se de mais uma demonstração da má-fé e do desespero do delator Joesley Batista na tentativa de manutenção do seu extraordinário acordo de delação, atualmente sob risco de ser anulado. O senador jamais fez qualquer pedido nesse sentido ao delator", diz a nota.