Correio braziliense, n. 20058, 21/04/2018. Política, p. 5

 

PSB em guerra aberta por Barbosa

Bernardo Bittar

21/04/2018

 

 

A dificuldade em dividir o palanque com o ex-governador Ciro Gomes (PDT), nome natural para parte dos filiados, faz com que o PSB insistista no nome do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa como candidato à Presidência da República. Vinte e quatro horas depois do anticlímax da apresentação de Barbosa no terreno do partido, dirigentes pessebistas tentam montar estratégia que viabilize, na legenda, o magistrado aposentado como candidato — dado o alto percentual de intenções de votos (cerca 10%).

O primeiro problema é Joaquim se convencer sobre a candidatura. Com pinta de outsider, o ministro aposentado ainda não deixou claro se quer a candidatura ao Planalto. Outro obstáculo é a resistência de governadores a apoiá-lo como candidato. Depois, vem a indefinição do cenário político e, por fim, o temperamento fechado de Barbosa. Para o presidente do PSB, Carlos Siqueira, a candidatura de Barbosa é naturalmente de risco, como de resto todos os movimentos políticos. E ele se diz “convencido de que Barbosa é a melhor solução neste momento em que os candidatos postos da política tradicional não conseguem subir nas pesquisas”.

O líder do partido na Câmara, deputado Júlio Delgado, explica que “o desgaste da classe política dá a ele uma força que nenhum candidato tem hoje”. Para Delgado, o ministro até mudou a maneira de lidar com o assédio do público. “No dia em que ele se reuniu com a cúpula do partido, ficou uns 20 minutos tirando fotos com as pessoas. Recebeu um chapéu, flores e conversou com os correligionários.”

As últimas pesquisas mostram que a maior parte do eleitorado de Barbosa é de classe média. A expectativa do PSB, segundo Júlio Delgado, “é mostrar às pessoas das classes C, D e E que o candidato Joaquim Barbosa é aquele ministro que relatou os processos envolvendo o mensalão no STF”.

Apelo

O professor João Feres Júnior, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), acredita que a origem humilde e o apelo popular do combate à corrupção podem abrir caminhos para a popularização do nome de Joaquim entre os mais pobres. “Embora ele tenha essa reputação de não ser muito afável ou carismático, essa condição de vida que ele conseguiu mudar conta ponto nas urnas”, explica.

Ainda assim, Feres lembra que, em 2013, quando houve manifestações contra a corrupção nas grandes capitais, o público que foi às ruas — o mesmo eleitor que Barbosa tem hoje, integrante de classes mais privilegiadas — depositou 30% das intenções de voto sobre ele. Às vésperas da eleição que ocorreu em 2014, o ainda ministro preferiu não entrar para a política. “O que mudou? Acredito que a polarização dos candidatos, mostrando que todos podem concorrer ao Planalto e que, com essa diversidade, alguém com perfil de salvador da pátria pode levar a melhor”, completa o cientista político.

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Marina desconversa sobre chapa mista

21/04/2018

 

 

Pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva disse que não conversou recentemente com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que ainda estuda entrar na disputa pelo PSB. “Não conversamos e eu tenho respeito pelo processo interno do PSB, que ainda está tomando a sua decisão como partido se terá ou não candidatura, e o próprio ministro Joaquim, que também está fazendo o seu discernimento”, disse Marina, após participar de um evento com vereadores em Brasília.

Desde que Barbosa se filiou ao PSB, em 6 de abril, aumentaram as especulações de que os dois poderiam formar uma chapa conjunta. Tanto o PSB quanto a Rede, no entanto, dizem que não discutem a possibilidade de abrir mão da candidatura e ser vice. “A candidatura da Marina é irreversível”, afirmou o porta-voz da Rede, Pedro Ivo Batista.

Marina participou da 6ª Mobilização Nacional de Vereadores. Durante a semana, passaram por lá outros pré-candidatos à Presidência, como Geraldo Alckmin (PSDB) e Álvaro Dias (Pode). Em sua fala, a ex-ministra afirmou que não aumentaria impostos, que era preciso retomar a geração de empregos e defendeu um plano nacional para segurança pública. Questionada se havia incluído o tema por conta de outro pré-candidato à Presidência, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), Marina afirmou que defende as mesmas propostas desde 2010, quando disputou pela primeira vez o Planalto.

“O debate da segurança não é para uma lógica de olho por olho, dente por dente. É preciso que se tenha políticas que levem a fazer com que o Estado trabalhe de forma mais eficiente, com inteligência, com treinamento continuado para os policiais, com integração de trabalhos das polícias, com trabalho integrado de União, estados e municípios”, disse.