O globo, n. 30816, 20/12/2017. País, p. 6

 

Big Brother vai vigiar prisão domiciliar do doleiro Funaro

Jailton de Carvalho

20/12/2017

 

 

Juiz autoriza substituição da tornozeleira eletrônica por monitoramento pela internet

-BRASÍLIA- Depois de passar um ano e cinco meses preso na penitenciária da Papuda, o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, operador do PMDB, foi autorizado a cumprir o resto da pena de oito anos de prisão em casa. A conversão da prisão foi autorizada ontem pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, com base em parecer favorável do procurador Anselmo Lopes, do Ministério Público Federal. A transformação da prisão de regime fechado para domiciliar está prevista em acordo de delação premiada do doleiro. Funaro delatou mais de 20 políticos, entre eles o presidente Michel Temer. Parte das informações fornecidas pelo doleiro serviu de base a uma das duas denúncias que o ex-procurador-geral Rodrigo Janot apresentou contra Temer. Em um dos depoimentos da delação, Funaro disse que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J & F, para se manter em silêncio. Funaro ainda denunciou o ex-ministro Geddel Vieira Lima por envolvimento em desvios de dinheiro administrado pela Caixa Econômica Federal. Acrescentou que foi sondado por Geddel, ex-ministro da articulação do governo Temer, no período em que se preparava para fazer acordo de delação.

Durante a audiência, Vallisney autorizou a substituição do uso de tornozeleira eletrônica por monitoramento pela internet. O juiz entende que o monitoramento pela internet, embora uma novidade, pode facilitar o cumprimento da lei. — A gente tem que ter criatividade para dar mais eficácia às normas processuais — explicou Vallisney depois do encerramento da audiência. Para comprovar que o sistema funciona, Funaro mostrou ao juiz cenas instantâneas da mulher e da filha na casa dele, no Jardim América. Depois de se certificar de que poderia manter a fiscalização à distância, o juiz autorizou Funaro a voltar para a fazenda dele, em Vargem Grande, no interior de São Paulo. Ainda na audiência, Funaro telefonou para a irmã Roberta e pediu para que ela providenciasse imediatamente a instalação de novas câmeras na fazenda de Vargem Grande.

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Empreiteira denuncia cartel em obras de SP

20/12/2017

 

 

Fraudes no Rodoanel teriam envolvido pelos menos 22 empresas

-SÃO PAULO- A Odebrecht denunciou a formação de cartéis para as obras do trecho sul do Rodoanel em São Paulo e do Programa de Desenvolvimento do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo. Os cartéis foram confessados pelo grupo por meio de acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que passará a apurar os casos por meio da sua Superintendência-Geral. As investigações são desdobramento da Lava-Jato, e foram reveladas ontem pela “Folha de S.Paulo”. No caso do Rodoanel, foram citadas pelo menos 22 empresas envolvidas. Atuação das construtoras é dividida em três fases. A empreiteira entregou vários documentos que comprovariam o esquema. Na fase preliminar, cinco empresas líderes começaram a se reunir para discutir as obras: Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão. Os contatos teriam iniciado em 2004 e durado até, pelo menos, 2007. Neste período, o estado foi governado pelos tucanos Geraldo Alckmin (20012006) e José Serra (2007-2010). Na fase de elaboração da estratégia do cartel, outras cinco empresas são citadas: Constran, CR Almeida, Galvão Engenharia, Mendes Junior e Serveng-Civilsan. Já na fase final, outras doze companhias teriam aderido: ARG, Carioca Christiani Nielsen Engenharia, Cetenco Engenharia, Construbase, Empresa Industrial Técnica, Sul Americana de Montagens, A. Gaspar, M. Martins, Paulista de Construções e Comércio, Sobrenco, Usiminas Mecânica e Via Engenharia.

OUTRO LADO

A delação também indicou cartéis em pelo menos sete licitações do Programa de Desenvolvimento do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo: Av. Roberto Marinho, Nova Marginal Tietê, Complexo Jacú Pêssego, Chucri Zaidan, Avenida Cruzeiro do Sul, Avenida Sena Madureira, e Córrego Ponte Baixa. O esquema funcionou entre 2008 e 2015. O governo de São Paulo disse que todas as obras foram licitadas de acordo com a lei. A assessoria do governador Geraldo Alckmin, declarou que “o governo é o maior interessado na punição do crime de formação de cartel, um delito contra a ordem econômica e a livre concorrência, que prejudica os cidadãos e o Estado”. O ex-governador José Serra não comentou as denúncias da Odebrecht. A Odebrecht e a Andrade Gutierrez afirmaram que estão colaborando com as investigações. A Camargo Corrêa disse que mantém investigações internas, enquanto a Queiroz Galvão e a OAS não quiseram comentar.