Correio braziliense, n. 20065, 28/04/2018. Política, p. 3

 

Propina registrada em vídeo

Renato Souza e Gabriela Vinhal

28/04/2018

 

 

Em uma ação controlada, realizada em fevereiro deste ano, a Polícia Federal filmou José Expedito Rodrigues Almeida, ex-assessor do presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), recebendo repasses de dinheiro em espécie. A ação foi combinada com o próprio receptor, que procurou a corporação para denunciar um esquema de pagamento de propina envolvendo deputados da legenda. O dinheiro, de acordo com Expedito, seria para evitar que ele relatasse às autoridades informações que poderiam comprometer políticos do partido.

Além do senador, o deputado Eduardo da Fonte (PE) também estaria agindo para tentar impedir o depoimento do ex-assessor. Além de ficar calado diante de algumas perguntas, ele também teria que mudar a versão de depoimentos que foram prestados anteriormente durante as investigações.

Os repasses foram realizados em pelo menos duas ocasiões. A primeira remessa, de R$ 5 mil, ocorreu em 26 de fevereiro — e a segunda — dias depois. De acordo com o depoimento prestado à PF, o dinheiro foi entregue pelo ex-deputado Márcio Junqueira, ex-integrante do PP, que agora está filiado ao Pros.

Ele foi preso na ação deflagrada pela PF, na última terça-feira, que foi até a Câmara e a endereços ligados a políticos do PP para investigar indícios de obstrução de Justiça. Além de Brasília, foram cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão em Teresina e Boa Vista. Foram recolhidos documentos e arquivos eletrônicos que podem corroborar o depoimento de Expedito.

O Progressistas, antigo Partido Progressista, é o que mais tem parlamentares envolvidos no esquema revelado pela Operação Lava-Jato. Neste ano, após o fim da janela partidária, para troca de partidos, o PP, que tinha 33 deputados, passou a ter 50, superando o PSDB, e se tornando a terceira maior bancada da Câmara. Dos 56 parlamentares da legenda no Congresso, que inclui 6 no Senado, 31 são alvos de investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).

A sigla, que tem R$ 131 milhões reservados para as eleições deste ano por meio do fundo eleitoral, usa o poder financeiro para atrair políticos. O partido promete até R$ 2,5 milhões a cada candidato a deputado, para uso na campanha eleitoral. Esse é o teto máximo definido pela Justiça Eleitoral. As doações empresariais estão proibidas, o que levanta a cobiça pela verba pública.

Em nota, o advogado do senador Ciro Nogueira, Antônio Carlos de Almeida Castro, afirmou que, no inquérito, “não existe qualquer indício de participação do senador”. O defensor afirmou também que o parlamentar prestará depoimento à Polícia Federal para esclarecer o que for necessário. “A ação controlada que foi feita só pode ser usada em favor do senador, pois em nenhum momento há qualquer indício de envolvimento de Ciro com qualquer ilícito”, afirmou.

Procurado pela reportagem, o deputado Eduardo da Fonte evitou comentar as acusações, mas disse que colabora com o Poder Judiciário. “Estou à disposição da Justiça para que os fatos sejam esclarecidos rapidamente”, declarou. A defesa de Márcio Junqueira não foi encontrada.