Correio braziliense, n. 20065, 28/04/2018. Economia, p. 7

 

Desemprego sobe, mas é menor que em 2017

Vera Batista

28/04/2018

 

 

A taxa de desocupação voltou a subir no país, no trimestre encerrado em março, chegando a 13,1%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados ontem pelo IBGE. No entanto, o nível de emprego está melhor em comparação aos três primeiros meses de 2017. Nesse período, a queda do desemprego foi de 3,4%. Hoje, no país, há 13,7 milhões de pessoas sem ocupação. No ano passado, eram 14,2 milhões de brasileiros nessa condição.

Entre os setores que contrataram empregados estão o de transportes, armazenamento e correio, com alta de 0,9% e de 2,3% em relação ao trimestre anterior e ao mesmo período do ano passado, respectivamente. No segmento de alojamento e alimentação, as altas, tomando por base os mesmos períodos, foram de 0,5% e de 5,7%. Na agricultura e pecuária, o nível de emprego cresceu 0,3% em relação ao trimestre anterior, mas caiu 2,3% na comparação anual. A indústria mostrou queda de 2,7% na comparação trimestral, mas manteve crescimento de 2% no quadro de pessoal em relação ao  ano anterior.  Desempenho semelhante foi observado no comércio, com recuo de 2,2% no trimestre e expansão de 1,5% no número de pessoal ocupado na comparação com o primeiro trimestre de 2017.

Da mesma forma se comportaram os setores de informação, comunicação e atividades financeiras (-0,8 e +1,3%), administração pública (-1,7 e 3,1%), outros serviços (-0,3% e 10,4%) e serviços domésticos (-2,6 e 2,5%). Ainda afetado pela crise que começou nos anos anteriores, o setor de construção civil mostrou resultados claramente negativos, com redução de 5,6% no pessoal ocupado em relação ao trimestre anterior, e de 4,1% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Formais

No total, foram eliminadas 1,5 milhão de vagas no primeiro trimestre. Considerando apenas  postos com carteira assinada, foram extintas 408 mil vagas, o que levou o saldo de trabalho formal ao menor patamar da série histórica  da pesquisa, iniciada em 2012 .Em relação ao mesmo período  do ano passado, porém, houve ampliação de 1,6 milhão de postos de trabalho.

Quem conseguiu colocação no mercado comemora. Michel Cerqueira Santos, 23 anos, morador de Águas Lindas de Goiás, foi contratado, há cerca de um mês, para o cargo de atendente da Lanchonete Coquetel Lanches, com salário de R$ 1,6 mil. “Trabalho desde os 17 anos. Fiquei um bom tempo desempregado, mas sempre tentando encontrar uma vaga com carteira assinada”, contou. Ele fez vários bicos como garçom e não deixou de estudar. “Estou terminando o ensino médio”, destacou.

Patrícia Ribeiro, 41 anos, enfermeira e professora, há sete meses administra a Padaria Melhor do Dia, que agora ocupa uma das lojas onde ficava a livraria da família, na Rodoviária do Plano Piloto — a livraria permanece no mesmo lugar, mas em um espaço menor. Nesse período, Patrícia já contratou seis funcionários. “Na verdade, fiz uma troca e renovei a equipe. Tive que demitir e recontratar, porque muitos não atendiam às expectativas. Recebo entre 15 e 20 currículos por dia, mas nem todos estão capacitados. Por isso, essa rotatividade em tão pouco tempo”, destacou.

Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a queda nos níveis de emprego em relação ao último trimestre de 2017 não surpreendeu. Nesse período, disse, sempre ocorre aumento na desocupação por conta da dispensa dos trabalhadores temporários contratados no fim do ano anterior. “Teve um movimento sazonal atuando, mas houve uma dispensa expressiva de trabalhadores, e isso, consequentemente, se reverteu em uma perda de postos de trabalho e no aumento de pessoas na fila da desocupação”. Para os especialistas do mercado, 2018 será morno, sem muitas variações.

Na análise de Álvaro Bandeira, economista-chefe da Corretora Modalmais, a Pnad Contínua confirmou o que vem sendo apontado por muitos indicadores, como os de investimentos, vendas no varejo e produção industrial, entre outros, que desaceleraram o ritmo nos últimos meses. Para ele, o comportamento cauteloso dos empresários se explica pelas incertezas políticas do país.

“É natural que tudo fique parado diante do processo político-eleitoral e sem definições sobre as reformas”, afirmou. O que chama atenção, disse, é que a qualidade do emprego continua deixando a desejar. “Caiu o emprego com carteira assinada, aumentou o por conta própria, e a renda real está estagnada. Enfim, o emprego perdeu fôlego. É difícil avaliar o que virá pela frente. A taxa de desocupação, hoje em 13,1%, não deverá se alterar até o fim do ano”, avaliou.

“Não tem jeito. O governo está parado e o quadro continuará instável até o início de 2019”, acrescentou Geraldo Biasoto, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-coordenador de Política Fiscal do Ministério da Fazenda. “A eleição é crucial e poderá ser a única novidade, embora turbulenta, neste ano atípico. Todos esperam as definições do próximo governo sobre tendência de juros, gastos, carga tributária e investimentos”, destacou.

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Rendimento estável

28/04/2018

 

 

A força de trabalho (ocupados e desocupados), de acordo com a Pnad Contínua, foi estimada em 104,3 milhões de pessoas entre janeiro e março de 2018 — estável, se comparada com o trimestre de outubro a dezembro de 2017, mas com expansão de 1,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (mais 1,1 milhão de pessoas). O pessoal fora da força de trabalho, este ano, é de 64,9 milhões, semelhante ao trimestre de outubro a dezembro de 2017 e ao mesmo trimestre do ano anterior.
De acordo com o levantamento, o rendimento médio dos brasileiros empregados também se manteve estável. O valor recebido foi estimado em R$ 2.169 no três primeiros meses deste ano, semelhante ao embolsado de outubro a dezembro de 2017 (R$ 2.173) e de janeiro a março de 2017 (R$ 2.169). Apenas na categoria serviços doméstico, foi registrado aumento do ganho médio (2,4%), no confronto com o ano anterior. A massa de rendimento real recebido em todos os trabalhos pelas pessoas ocupadas ficou nos mesmos patamares, em R$ 191,5 bilhões, em ambas as comparações.

A Pnad Contínua também demonstrou que o número de ocupados, de 90,6 milhões no trimestre de janeiro a março de 2018, caiu 1,7% em relação aos três últimos meses de 2017 (menos 1,528 milhão de pessoas). Em relação a semelhante período do ano passado, quando havia no Brasil 88,9 milhões de pessoas ocupadas, houve crescimento de 1,8% (mais 1,634 milhão).

O nível da ocupação (percentual de ocupados na população em idade de trabalhar) foi de 53,6%, de janeiro a março de 2018, com queda de 0,9 ponto percentual frente ao período outubro-dezembro de 2017 (54,5%). Em relação a igual trimestre do ano anterior, quando a ocupação foi de 53,1%, houve queda de 0,5 ponto .

Público e privado

No setor privado, há 32,9 milhões de empregados com carteira de trabalho assinada (excluídos os domésticos). Houve queda de 1,2% (menos 408 mil pessoas) frente ao trimestre anterior, e redução de 1,5% (493 mil), no confronto com 2017. Já o número dos sem carteira assinada (10,7 milhões), este ano, recuou em 402 mil pessoas e cresceu 5,2% (533 mil), em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Da mesma forma, a quantidade de trabalhadores por conta própria (23 milhões) ficou estável na comparação com o trimestre anterior e cresceu 3,8% (839 mil) em relação ao mesmo período de 2017.

A categoria dos trabalhadores domésticos (6,2 milhões) encolheu 2,6% no confronto com o trimestre anterior e se manteve estável frente ao início de 2017. No setor público (inclusive servidores estatutários e militares), há 11,2 milhões de pessoas, com queda 2,2% frente ao trimestre anterior, mas alta de 3,2% em relação ao mesmo trimestre de 2017. (VB)