O globo, n. 30810, 14/12/2017. País, p. 5

 

Lula: ‘Vou brigar até as últimas consequências’

Catarina Alencastro

14/12/2017

 

 

Ex-presidente afirma a militantes que, se apresentarem provas contra ele, não será candidato em 2018

-BRASÍLIA- Um dia depois de marcada a data de seu julgamento na segunda instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso para a militância, afirmou que deseja ser inocentado para concorrer à Presidência da República no ano que vem. Em nenhum momento, no entanto, demonstrou sinal de querer desistir de eventual candidatura. Afirmou, porém, que se provas forem apresentadas não disputará a eleição. Lula foi condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá a 9 anos e meio de prisão, mas recorreu. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) agendou para o dia 24 de janeiro a análise do recurso.

Caso o TRF-4 confirme a condenação, o ex-presidente fica enquadrado na Lei da Ficha Limpa e só poderá concorrer se tiver um efeito suspensivo. O PT já manifestou a intenção de recorrer quantas vezes forem necessárias para garantir o nome de Lula nas urnas no ano que vem.

— Eu não quero aqui que vocês tenham um candidato a presidente que esteja escondido na sua candidatura porque é culpado e não quer ser preso. Eu quero ser inocentado para poder ser candidato Por isso, vou brigar até as últimas consequências. Se apresentarem provas contra mim, eu virei numa reunião do PT para dizer que sou culpado e não vou ser candidato. Eles têm a chance. Eu só quero que me digam o que está nos autos do processo — disse Lula. O discurso foi em um encontro com parlamentares do PT no Teatro dos Bancários, em Brasília, no qual Lula convocou a militância para ajudar a defendê-lo das acusações.

— Eu faço a minha resistência pelo PT. Quem de nós achar que vai sobreviver quieto, pode ficar quieto, que não vai sobreviver. Se a gente não rasgar aquele PowerPoint, tem muita briga pela frente — disse, em referência à apresentação da força tarefa da operação Lava-Jato que o apontou como comandante do esquema de desvios da Petrobras.

Ao condenar Lula, em 12 de julho, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Moro entendeu que o tríplex foi propina, em forma de um presente, da OAS ao ex-presidente. Entre as provas utilizadas no processo, estão documentos sobre o tríplex apreendidos em buscas no apartamento de Lula, laudo da Polícia Federal que mostra rasura em documento apresentado pela defesa, trocas de mensagens de executivos da OAS, além do fato de o GLOBO ter noticiado por duas vezes, em 2010 e 2014, informações sobre o tríplex sem que o ex-presidente contestasse a propriedade que lhe era atribuída.

Depois do encontro, Lula seguiu para um evento com catadores de material reciclável, a Expocatadores, onde disse que quer ser inocentado para ser candidato e “aprofundar a cidadania” dos menos favorecidos.

— Se tudo estivesse bem, se vocês estivessem bem, se os sem-terra estivessem bem, se tivesse emprego, se não estivesse aumentando o número de pessoas na rua por que eu iria voltar? Eu já fui presidente. Eu desafio: me provem um pneu de bicicleta velho rasgado que eu tenha roubado que eu venho aqui pedindo desculpa para vocês. Não quero ser candidato para não ser preso. Eu quero ser inocentado para ser candidato — discursou.

À noite, em um ato político em seu apoio, Lula atacou as investigações da Lava-Jato e o instrumento da delação premiada: — Tá cheio de malandro que prestou delação e está vivendo com tornozeleira, com o rabo cheio de dinheiro.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), convocou a militância para a porta do TRF no dia 24 de janeiro,

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Perícia da defesa diz que recibos de aluguel são de datas diferentes

14/12/2017

 

 

Glaucos da Costamarques contou a Moro ter assinado tudo de uma vez

 

-SÃO PAULO- Um laudo apresentado pela defesa do ex-presidente Lula diz que os recibos de aluguel do apartamento que, segundo o Ministério Público Federal (MPF) foi dado a Lula como propina da Odebrecht, são verdadeiros. De acordo com o advogado do petista Cristiano Zanin Martins, os documentos foram assinados em datas diferentes, ao contrário do que afirma o empresário Glaucos da Costamarques, a quem é atribuída a propriedade do imóvel. Ao juiz Sergio Moro, Costamarques afirmou ter assinado todos os recibos de uma só vez, em 2015.

O relatório pericial, assinado pelo perito Celso Del Picchia, “confirma integralmente a autenticidade e a capacidade probatória dos 31 recibos anteriormente apresentados na Ação Penal”, diz nota da defesa. O MPF alega que a Odebrecht comprou o imóvel vizinho ao apartamento onde Lula mora, em São Bernardo do Campo, e o entregou ao ex-presidente, fraudando a operação por meio de um contrato com Costamarques. Todas as partes já foram ouvidas, mas Moro não pode dar a sentença antes do resultado da perícia oficial nos recibos de aluguel recebidos pelo empresário. (Chico Prado)