O globo, n.30805 , 09/12/2017. PAÍS, p.03

AINDA EM BUSCA DE UNIDADE

MARIA LIMA E CRISTIANE JUNGBLUT

 

 


Em mais um passo na direção do rompimento do PSDB com o Planalto, o ministro Antônio Imbassahy, da Secretaria de Governo, pediu demissão. Este é o mais recente capítulo de uma traumática disputa interna às vésperas do ano eleitoral. A saída antecede o ato de aclamação de Geraldo Alkmin como presidente nacional da sigla, o que ocorrerá hoje na 14ª Convenção Nacional. Hoje, o governador de São Paulo é o nome mais forte entre os tucanos para disputar a Presidência da República. O tom dos discursos dos caciques tucanos será de ataque a Lula e ao PT e de fortalecimento da unidade e da conciliação entre os grupos que apoiaram as candidaturas do senador Tasso Jereissatti (CE) e do governador de Goiás, Marconi Perillo. Mas a aclamação de Alckmin não deve ter o condão de curar as fissuras causadas pela disputa, que continuam, por espaço na nova Executiva nacional. Líderes tucanos reconhecem que Alckmin ainda terá que atravessar uma longa estrada para recompor o partido nos próximos meses e administrar a divisão pela votação da reforma da Previdência e o desembarque do governo. Se Imbassahy saiu do Planalto, os ministros Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores, e Luislinda Valois, da Secretaria de Direitos Humanos, continuam em seus cargos. O chanceler, por exemplo, afirmou que só sairá em abril, para disputar a reeleição ao Senado. Na carta de demissão, entregue na tarde de ontem a Temer em São Paulo, Imbassahy elogiou o governo, enalteceu conquistas e disse que assistiu a “momentos de sofrimento”, quando o presidente foi alvo de “ataques virulentos”. Em resposta, Temer ressaltou o apoio que teve do amigo “fraternal”, que ocupou “grandiosamente” a Secretaria de Governo. Alckmin evitou comentar a saída de Imbassahy, mas líderes da ala oposicionista do partido festejaram a saída. O senador Tasso Jereissati (CE), que abriu mão de disputar a presidência da legenda para apoiar Alckmin, reclamou da demora: — Já estava em tempo. Acho que ele demorou demais e tomou uma decisão tardia, mas antes tarde do que nunca. Basicamente, o PDSB saiu do governo, não vai fazer oposição ao governo, vai ficar independente e vai apoiar as reformas. Amanhã não somos base do governo. E acho que o governador Alckmin vai anunciar isso — disse Tasso.

DISCURSO ANTIPETISTA: “URNAS CONDENARÃO LULA”

O discurso de Alckmim e de outros tucanos, como o prefeito de São Paulo, João Doria, será o de construção de um projeto de centro para 2018. Alckmin deve tentar animar a militância com ataques ao PT. A pauta antipetista terá a função de mostrar um aspecto que une o PSDB. A expectativa é que Alckmin seja explícito na defesa da coesão tucana, inclusive pelo fato de sua candidatura à presidência da sigla ter surgido como a tentativa final de pacificação. — Estamos vindo de um processo de ruptura muito grande e o Geraldo recebeu tudo quadrado. Terá que ir recompondo para sair desse negócio — avalia o deputado Eduardo Cury (PSDB-SP). Em seu primeiro discurso como presidente do PSDB, Alckmin apontará o ex-presidente Lula como adversário prioritário em 2018. E tom destemido e ousado para seus padrões, o governador dirá que o petista será “condenado” nas urnas. “As urnas o condenarão por ter sequestrado a esperança da juventude” diz trecho do discurso do tucano a que o GLOBO teve acesso nesta sexta-feira. Alckmin passou os dois últimos dias apagando incêndios e tentando equilibrar a composição da Executiva nacional. Ontem a noite, ele se reuniu com o pré-candidato a presidente, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que deseja bater chapa com ele disputando prévias. Na contramão dos discursos de unidade e fortalecimento da candidatura de Alckmin, Virgílio fará um discurso forte e “desafiador”, defendendo prévias para em 2018. — O PSDB precisa se renovar e acabar com essas decisões de cúpula, temos que realizar prévias amplas e democráticas, cada filiado um voto para escolher o candidato — diz Virgílio. Ao encerrar um período de quatro anos como presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) terá participação discreta na convenção. Ele não deve discursar para não constranger os adversários internos ligados a Tasso. Segundo os organizadores da convenção, ele não pediu para discursar e só devem falar o ex-presidente Fernando Henrique, Marconi Perillo, Tasso, Doria, Virgílio, o presidente em exercício Alberto Goldman e Alckmin. A tentativa de unidade na contrasta com a guerra travada ontem entre grupos ligados a Tasso e a Aécio na disputa pelo comando da Juventude do PSDB. A chapa que tem como candidato a presidente o paulista Marcos Saraiva, ligado ao grupo de Tasso, acusa a chapa do atual presidente, André Morais, que busca a reeleição, de usar a interferência de dirigentes ligados a Aécio para dificultar a ida a Brasília de delegados aliados. (Colaborou Letícia Fernandes e Silvia Amorim)