O globo, n. 30819, 23/12/2017. País, p. 6

 

Lava-Jato: multinacional vai devolver R$ 800 milhões

Cleide Carvalho 

23/12/2017

 

 

Empresa Keppel Fels fecha acordo de leniência com Brasil e EUA

-SÃO PAULO- Com mais de R$ 25 bilhões em contratos com a Petrobras, a Keppel Fels Brasil fechou acordo com a forçatarefa de Curitiba e autoridades dos Estados Unidos e Cingapura para pagar R$ 1,4 bilhão em função de seu envolvimento com o esquema de corrupção da Petrobras. O Brasil deverá ficar com R$ 692,4 milhões. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o valor corresponde ao dobro das propinas pagas, devido à aplicação de multa prevista na Lei de Improbidade Administrativa. Os valores serão pagos no prazo de 90 dias, contados a partir da homologação do acordo, que será submetido à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. O acordo também terá de ser homologado nos Estados Unidos e em Cingapura. Os maiores valores a serem devolvidos aos cofres brasileiros são das empresas Odebrecht (R$ 7,4 bilhões), Andrade Gutierrez (R$ 1 bilhão) e Camargo Corrêa (R$ 800 milhões). Com o novo acordo, o valor recuperado pela Lava-Jato se aproxima de R$ 11,5 bilhões. O procurador Paulo Roberto Galvão afirmou, em nota, que no passado as empresas estrangeiras “corrompiam no Brasil e pagavam multas apenas no exterior por não acreditarem no funcionamento da Justiça brasileira. Com a Lava-Jato, os valores estão retornando ao país”.

CONTRATOS BILIONÁRIOS

Ex-funcionário da Odebrecht e da Petrobras, o representante da Keppel Fels no Brasil, Zwi Skornicki, foi delatado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco em setembro de 2015. Zwi havia aberto uma consultoria na década de 1990, quando passou a representar a empresa de engenharia naval no país. Em dez anos, o patrimônio dele cresceu 35 vezes. Zwi foi flagrado pela Lava-Jato por ter feito depósitos de US$ 4,5 milhões, entre 2013 e 2014, numa conta do publicitário João Santana na Suíça, não declarada no Brasil. Alvo de prisão preventiva na 23ª Fase da Lava-Jato, em fevereiro de 2016, assinou acordo de delação premiada com a força-tarefa e confessou que repassou dinheiro de propina ao PT e a funcionários da estatal. Sozinho, se comprometeu a devolver US$ 23,8 milhões que havia recebido como produto do crime, além de obras de arte. O empresário contou ter feito o pagamento ao marqueteiro do partido a pedido do tesoureiro João Vaccari Neto.

Condenado a 15 anos e seis meses, Zwi foi beneficiado pela colaboração premiada. Ficou preso entre fevereiro e agosto de 2016 e passou seis meses em prisão domiciliar. Até fevereiro de 2018, cumpre recolhimento domiciliar à noite e nos fins de semana, com tornozeleira eletrônica. Na Lava-Jato, Zwi ficou conhecido por sua coleção de automóveis de luxo, que chegou a ser apreendida pela PF. Na lista estavam modelos como Mercedes-Benz 280 SL “Pagoda”, modelo da década de 60 ; Corvette 1966 conversível e Porsche 911 Targa, de 1978. Os contratos da Keppel Fels com a Petrobras giram em torno de R$ 25 bilhões. As propinas pagas somaram cerca de US$ 60,8 milhões. Também foram pagas vantagens ilícitas pelo estaleiro Brasfels, que teve seis sondas contratadas pela Sete Brasil, um negócio de US$ 20,6 bilhões.