O globo, n. 30808, 12/12/2017. Economia, p. 20

 

Construção civil, no quarto ano de crise, corta 105 mil vagas

Manoel Ventura

12/12/2017

 

 

Atividade recua 6%, com queda em infraestrutura e no setor imobiliário

-BRASÍLIA- Enquanto a economia brasileira dá sinais de reação, a construção civil e o mercado imobiliário encerram 2017 em queda, no quarto ano seguido de retração. A atividade do setor caiu 6% este ano, segundo balanço da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) divulgado ontem. No ano passado, o tombo foi de 9%. Essa área deve encerrar o ano com 105 mil vagas formais de trabalho fechadas, segundo o relatório. O número representa um corte de 5% no estoque de trabalhadores da construção. Desde que a recessão se instalou no país, no segundo semestre de 2014, as construtoras já fecharam cerca de 1 milhão de postos de trabalho. Setor que representa cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), a retração da construção civil fará a economia brasileira encolher 0,5 ponto percentual em 2017, de acordo com as previsões da Cbic.

LANÇAMENTOS CAÍRAM 8,6%

Em 2017, o mercado imobiliário continuou caindo, de acordo com a entidade. Estudo da indústria indica que, de janeiro a setembro deste ano, as vendas de unidades ficaram 1,5% abaixo em relação ao ano anterior. O número de unidades lançadas recuou 8,6%.

Apesar dos números continuarem em queda em 2017, o presidente da Cbic, José Carlos Martins, diz que a expectativa para 2018 é de retomada do investimento e o restabelecimento do crédito para reaquecer o setor. Mas, para isso, afirma ser preciso que o governo avance em uma série de regulamentações e medidas administrativas.

Um dos principais pontos defendidos é destravar o crédito na Caixa, hoje bloqueado pela necessidade de capitalização para se enquadrar nas regras prudenciais do Tratado de Basileia, que estabelece limites para operações de crédito em relação ao capital. Martins avalia que o aumento dos investimentos em projetos de concessões e parcerias público-privadas e iniciativas voltadas para aumentar a segurança jurídica, como a regulamentação do distrato, são necessários para que o setor volte a crescer e gerar empregos.

— Ninguém está pedindo dinheiro, só estamos pedindo soluções para que o setor volte a fluir. Se resolve duas ou três coisas, coloca o país no céu — afirma Martins.

CRÍTICA A REAJUSTE

A Cbic aproveitou a divulgação dos dados para criticar as novas regras da Petrobras de reajuste de preços de insumos. A estatal informou às construtoras que, a partir de janeiro, o preço do asfalto terá revisões mensais, como funciona hoje com a gasolina, com o objetivo de equilibrar os preços internos com os praticados no exterior. Com a mudança, as construtoras querem repassar os custos extras para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela contratação das obras.

Nos quatro primeiros meses, o preço poderá ser reajustado em até 8% e, a partir daí, em 12% ao mês, segundo a Cbic. O presidente da comissão de infraestrutura da Câmara, Carlos Eduardo Jorge, diz que a medida causará desequilíbrio financeiro nos contratos de obras já firmados, já que a revisão é feita a cada 12 meses. Segundo ele, o asfalto representa 40% dos custos de uma obra rodoviária.

— Nenhum contrato vai se equilibrar com ajustes mensais da Petrobras — disse.