O globo, n.30813 , 17/12/2017. PAÍS, p.4

Inovador em 1998, Código de Trânsito fica velho aos 20 anos

JUSSARA SOARES

 

 

Apesar do endurecimento de penas, mortes ainda são recordes no país

Ao entrar em vigor em 22 de janeiro de 1998, o Código de Trânsito Brasileiro foi apontado como um dos mais completos conjuntos de leis para o controle do tráfego no mundo. Vinte anos depois, o documento que trouxe ao longo desse tempo avanços como a obrigatoriedade do uso da cadeirinha para crianças e do airbag vem sendo considerado ultrapassado por não reduzir as mortes em acidentes.

Em 2000, foram 29 mil mortes, e em 2012 o número chegou a quase 45 mil. Em 2015, houve uma redução (39 mil), mas a oscilação está longe de retratar um trânsito mais seguro. Em números absolutos, o Brasil segue no topo do ranking entre os países com mais vítimas, atrás de China, Índia e Nigéria. De 2000 a 2015, segundo dados mais recentes do DataSus, 601,7 mil pessoas morreram no trânsito.

Famílias de vítimas travam uma luta contra a impunidade e aguardam a sanção pelo presidente Michel Temer (PMDB) da lei aprovada no Congresso Nacional que endurece a pena para o motorista embriagado que provoca mortes. Pelas novas regras, quem matar alcoolizado ao volante poderá ser condenado a até oito anos de prisão, com o cumprimento inicial em regime fechado, além da perda ou suspensão da habilitação. Atualmente, a pena é de dois a quatro anos, revertidos em prestação de serviços à comunidade.

Uma outra proposta que vem sendo discutida desde 2014 em uma comissão especial na Câmara de Deputados aumenta a condenação para até dez anos de reclusão. Também há a discussão se o crime de dirigir embriagado e matar seria classificado como preterdoloso, ou seja, ao beber o motorista assume o risco, embora matar não seja a intenção. Nesse caso, os responsáveis também poderiam ir a júri popular. Hoje, os acidentes de trânsito são considerados culposos (sem intenção), e os responsáveis não vão à júri.  Queremos retirar do juiz a decisão se o crime é culposo ou doloso. Se bebeu e dirigiu, assume o risco — defende o deputado Sérgio Brito (PSDBA), relator do projeto de atualização do código. O parlamentar está há um ano para dar o seu parecer final. Brito promete entregar o relatório para votação no Senado até abril de 2018: — Há 20 anos, o código era perfeito, mas, com as novas tecnologias, é preciso uma reforma. Para Márcio de Andrade, do Instituto Nacional de Trânsito, o aumento da punição é a forma mais eficaz de coibir que embriagados sigam dirigindo. — As pessoas temem mais uma punição severa do que matar ao volante. É preciso dar uma resposta à população, porque as pessoas continuam morrendo — defende.